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Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Qual a função dos medicamentos usados em UTI que estão em falta no país?

gorodenkoff/iStock
Imagem: gorodenkoff/iStock

Bruna Alves

Colaboração para VivaBem

13/08/2020 18h15

Vinte e dois estados e o Distrito Federal estão com seus estoques de insumos para a intubação de pacientes graves de covid-19 no vermelho. Os dados são de um levantamento do Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) e obtido pelo UOL, que retrata a situação de 1.500 hospitais referências para o tratamento da covid-19 da rede estadual pública e privada na primeira semana de agosto.

Os hospitais enfrentam privações de sedativos, anestésicos e bloqueadores neuromusculares, que são fundamentais no manejo dos pacientes internados que necessitam de ventilação mecânica. "São fármacos utilizados na manutenção da vida dos pacientes nas UTIs. É mais do que necessário que os governos estaduais e Federal busquem mecanismos e estratégias para manter o abastecimento dessas substâncias, para garantir atendimento às pessoas em sofrimento e dificuldade respiratória", defende Fábio Alves, médico sanitarista e professor da FCM (Faculdade Ciências Médicas) da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

A situação, que dificulta não só o atendimento de pacientes graves de covid-19, como também de pessoas que necessitam de cirurgias de emergência, tem levado os hospitais a recusarem pessoas que precisam de internações e a usarem morfina no lugar de medicação apropriada.

Mas, afinal, quais são e para que servem exatamente esses medicamentos? É possível ficar intubado sem eles? Há possibilidade de substituí-los? VivaBem consultou especialistas para responder a essas dúvidas e mostra para que servem as substâncias usadas no "kit intubação", divididas por categorias.

Anestésico local

Lidocaína (2%) sem vasoconstritor: esse medicamento é um anestésico utilizado no primeiro atendimento do paciente, quando ele apresenta insuficiência respiratória. É essencial e não pode ser substituído.

Ansiolítico

Diazepam: é usado para sedação e para evitar crise convulsiva, que ocorre com pacientes em estado grave. Ele também ajuda a manter o paciente calmo e não pode ser substituído.

Bloqueadores neuromusculares

Besilato de atracúrio, besilato de cisatracúrio e brometo de rocurônio: esses medicamentos são importantes para facilitar a intubação e essenciais para mantê-la, porque neutralizam os movimentos respiratórios. Além disso, são utilizados em pacientes que permanecem intubados por um longo período de tempo. Estas substâncias podem ser substituídas entre elas, pois pertencem a mesma classe.

Bloqueador neuromuscular

Cloreto de suxametônio: servem para neutralizar os movimentos respiratórios. Este tipo de bloqueador é necessário apenas na sequência rápida de intubação, isto é, no primeiro atendimento ao paciente.

Fármaco antídoto

Cloridrato de naloxona: serve para diminuir os efeitos colaterais de outros medicamentos, como os opioides (que aliviam a dor). Se houver uma super-dosagem ou até uma intoxicação aguda pelos opioides, consequentemente, o batimento cardíaco do paciente e a respiração pode diminuir e até haver uma redução da motilidade intestinal. O cloridrato de naloxona não pode ser substituído.

Fármaco para controle de delírio

Haloperidol: como indica sua categoria, o medicamento é usado para controle de delírio do paciente. O problema, que pode ocorrer por intoxicação medicamentosa, deve ser evitado pois pode fazer com que a pessoa apresente convulsões. Segundo os especialistas, há também pacientes que podem delirar por abstinência alcoólica. Este medicamento também não pode ser substituído.

Fármaco para sedação contínua

Cloridrato de midazolam, propofol, e cloridrato de cetamina: são sedativos, ou seja, têm efeito calmante e agem no controle da irritabilidade, nervosismo ou excitação. Além disso, a cetamina tem a função de prolongar o efeito da anestesia. Esses medicamentos podem ser substituídos entre eles.

Fármaco para sedação contínua e controle de delírio

Cloridrato de dexmedetomidina: são medicamentos fortes, usados para sedação e ao mesmo tempo controle de delírio do paciente. Estes fármacos não podem ser substituídos.

Fármaco para analgesia

Cloridrato de dextrocetamina, citrato de fentanila e sulfato de morfina: são usados para alívio das dores e em processo de cuidados paliativos em pacientes com mau prognóstico, que apresentam baixa capacidade de recuperação. São medicamentos essenciais para permanência dos pacientes na UTI. Eles podem ser substituídos apenas entre eles.

Fármacos vasoativos

Sulfato de atropina, hermitartarato de epinefrina, hermitartarato de norepinefrina: eles ajudam no controle do coração e na circulação pulmonar de pacientes intubados. Também são usados em casos de parada cardiorrespiratória e estados de choque, portanto, são essenciais.

Sedativo

Etomidato: é utilizado no primeiro atendimento do paciente, quando há insuficiência respiratória. Não pode ser substituído.

Fontes: Fábio Alves, médico sanitarista e professor da FCM (Faculdade Ciências Médicas) da UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas), Juliana Elias Miquelin, médica anestesista do CAISM (Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher) da Unicamp e Patrícia Moriel, farmacêutica e professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).