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Testes de vacina chinesa contra o novo coronavírus começam amanhã em SP

Seleção de voluntários foi iniciada na última semana - NurPhoto via Getty Images
Seleção de voluntários foi iniciada na última semana Imagem: NurPhoto via Getty Images

Do VivaBem, em São Paulo*

20/07/2020 12h56Atualizada em 20/07/2020 18h37

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), anunciou hoje a chegada a São Paulo de uma carga de 20 mil vacinas contra o novo coronavírus. As vacinas serão testadas a partir de amanhã, na terceira fase de testes clínicos.

"Hoje é um momento histórico para a ciência brasileira. Chegaram a São Paulo nesta madrugada 20 mil doses da vacina Coronavac. Agora, as vacinas seguem para a sede do Instituto Butantan, e, a partir de amanhã, começam a ser testadas", anunciou Doria, em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes.

No início da última semana, o governo de São Paulo iniciou o cadastro de voluntários para os testes da vacina. A meta era reunir nove mil voluntários de cinco estados mais o Distrito Federal para esta fase. As pessoas inscritas deveriam ser profissionais da área da saúde.

Os testes se devem a uma parceira do Instituto Butantan com o laboratório chinês Sinovac Biotech. A estimativa, segundo o governador, é concluir esta fase em até 90 dias.

"Os testes da Coronavac, uma das vacinas em fase (de testes) mais avançada do planeta, começam no Hospital das Clínicas, em São Paulo, amanhã", disse Doria. "Evidentemente a vacina será destinada a todos os brasileiros, através do SUS. O Butantan terá todo o domínio da tecnologia, é isso que prevê o acordo. A transferência integral de tecnologia está assinalada no contrato", acrescentou.

A vacina é uma das testadas atualmente no Brasil — a outra é fruto de uma parceria da Universidade de Oxford com a farmacêutica AstraZenenca. Questionado a respeito das diferenças entre as duas vacinas, o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou que o método adotado por Oxford é novo e menos avaliado, mas pode até se mostrar uma evolução em relação ao modo de produção adotado até aqui.

"São vacinas baseadas em tecnologias diferentes. A tecnologia da vacina que nós estamos desenvolvendo é uma tecnologia tradicional. Ela já foi usada na produção de outras vacinas aqui no Butantan. É uma tecnologia usada tradicionalmente em produção de vacinas. Isso mostra que as vacinas produzidas para outras doenças infecciosas têm já um perfil de segurança testado, aprovado por organismos internacionais e em uso", descreveu.

"A vacina de Oxford é uma tecnologia nova, que não foi ainda utilizada em outras vacinas. Poderá ser até uma evolução, vamos dizer assim, nas tecnologias de produção de vacinas. Mas ela precisará, além da demonstração da eficácia, ter seu processo produtivo validado por esses estudos."

Vacina para 60 milhões de pessoas

Ainda não há uma previsão concreta para os próximos passos a respeito da vacina. No entanto, Dimas Covas se mostra otimista com o estudo clínico da vacina.

"Este estudo clínico devera ser cumprido o mais rapidamente possível", disse. "A partir do fechamento do estudo, que deverá acontecer em setembro, aí nós entramos na fase de acompanhamento (...). Se esse estudo for concluído de fato antes do final deste ano, e é uma expectativa real, poderemos ter essa vacina disponível para a população brasileira já no início do próximo ano."

Em acordo com a Sinovac, o Instituto Butantan tem acesso a 120 milhões de doses, "que seriam suficientes para vacinarmos 60 milhões de brasileiros", segundo Dimas Covas. "(É) um número mais do que suficiente para enfrentarmos esta fase da epidemia", acrescentou.

O governador João Doria reforçou que, embora os testes da vacina comecem amanhã em São Paulo e a previsão seja de 120 milhões de doses, "a vacina desenvolvida pelo Instituto Butantã, juntamente com o laboratório Sinovac, é para todo o Brasil, não apenas para os brasileiros de São Paulo".

"Estamos discutindo com nossos parceiros chineses fornecimento de vacinas para o Brasil. Mas estamos discutindo também o papel do Brasil no cenário mundial", concordou Dimas Covas.

Covas ainda destacou o "aprendizado" adquirido durante toda a pandemia, e fez questão de destacar que o desenvolvimento de outras vacinas não interfere na programação da desenvolvida em parceira com a China.

O diretor do Butantan deu um puxão de orelha no país asiático a respeito da interrupção no desenvolvimento de vacinas para outros tipos de coronavírus — em especial, durante a pandemia da Sars em 2003. Ao mesmo tempo, reconheceu que o desenvolvimento de vacinas para este e outros tipos de coronavírus pode estar em um momento bastante avançado.

"Nós já tivemos no passado outras epidemias com coronavírus. Tivemos a Mers, a Sars. Naquele momento, principalmente com relação à Sars, a própria China começou o desenvolvimento de vacina. Chegou até um determinado ponto, e aí como a epidemia diminuiu e acabou arrefecendo, o desenvolvimento da vacina parou", lembrou.

"A China tinha já experiência com desenvolvimento anterior da vacina. Se tivesse completado o desenvolvimento lá, possivelmente hoje já estaríamos com a vacina em uso. Temos que completar o desenvolvimento dessa vacina. Ela poderá ser útil para essa epidemia e para outras epidemias. É fundamental que a gente complete o ciclo de desenvolvimento. Isso não tem interferência de outras vacinas que possam estar disponíveis no mercado", acrescentou.

Mesmo com os impactos que a pandemia ainda terá durante os testes no Brasil e com o posterior arrefecimento nos próximos, Dimas Covas demonstra otimismo com o desenvolvimento, especialmente tendo em vista a possibilidade de uma segunda onda ou de pandemias de outros vírus.

"Essa epidemia, obviamente, vai terminar nos próximos meses. Em seis, oito meses, essa onda epidêmica vai terminar. Com a vacina, ela poderá ser abreviada. As pessoas que não adquiriram a infecção natural poderão ser vacinadas. A vacina vai ser importante inclusive para prevenir o reaparecimento dessa epidemia", analisou, em entrevista à Globonews.

"As doencas infecciosas têm essa características de desaparecer por um período e depois elas retorman. As vacinas são para proteger, a médio e longo prazo, do retorno dessa infecção. Nós aprendemos a duras penas, com muito sofrimento, e temos que nos preparar para esse coronavírus e para outros virus que podem vir", completou.

* Com informações da Reuters