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Vacina que será testada em São Paulo é considerada 90% segura em estudo

Natali_Mis/iStock
Imagem: Natali_Mis/iStock

Giulia Granchi

Do VivaBem, em São Paulo

15/06/2020 10h51

A vacina que será testada em São Paulo em parceria feita entre o Instituto Butantan e o laboratório chinês Sinovac Biotech se mostrou segura em suas primeiras aplicações, de acordo com comunicado da empresa.

Durante os primeiros testes feitos na China, a Sinovac afirma que a injeção não produziu efeitos colaterais graves em mais de 90% das pessoas em um intervalo de 14 dias.

Para a análise, um grupo de 743 pessoas saudáveis com idades entre 18 e 59 anos receberam a injeção ou um placebo em dois horários diferentes. Os resultados ainda não foram divulgados em periódicos científicos.

Fase três será testada em São Paulo

No Brasil, a vacina será testada quando alcançar a fase três, quando os resultados das duas primeiras fases permitem que os cientistas avancem para um grupo de voluntários de milhares de pessoas. Os participantes são divididos em dois grupos: metade toma a vacina e metade recebe um placebo ou uma outra vacina que não protege contra o patógeno estudado.

"Ninguém sabe quem tomou o que, nem os cientistas nem os voluntários. É o que chamamos de duplo-cego. E ele é randomizado, ou seja, sorteia, equilibra os grupos, porque tem um monte de detalhes que podem influenciar no resultado, como a idade dos participantes", diz Alfredo Gilio*, coordenador da clínica de imunizações da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein (SP).

Como é a vacina*

A Sinovac está desenvolvendo uma vacina com o vírus inativado. Por não usar um agente vivo, ela é mais segura, porque é mais difícil causar uma doença. Mas também tem desvantagens.

Segundo Flávio Guimarães da Fonseca, virologista do Centro de Tecnologia de Vacinas e pesquisador do Departamento de Microbiologia da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), essas vacinas que usam apenas um pedaço do vírus ou um vírus morto não "acordam" tanto o sistema imunológico e por isso precisam de adjuvantes, substancias que precisam ser adicionadas à vacina para induzir o "sistema de alarme" do corpo.

Esse alarme toca quando uma célula de defesa reconhece o vírus. Ela produz moléculas químicas que atraem mais células do sistema imune para aquele local. "E aí é montada uma resposta intensa, com produção de anticorpo e mais células de defesa". Ou seja, a vacina está funcionando.

O adjuvante usado pelo laboratório chinês é uma formulação de alumínio. "Elas parecem promover altas quantidades de anticorpos neutralizantes", mostrou um artigo da revista científica Nature, no dia 4 de junho. Os mecanismos reais pelos quais o alumínio induz esses altos níveis de anticorpos ainda são uma incógnita, segundo o texto, mas além das vantagens imunológicas que possui sobre outros adjuvantes, o alumínio tem um histórico comprovado e incomparável de segurança e eficácia, que remonta às décadas de 1930 e 1940.

Fonseca disse ainda que, por mais que se use um vírus inativado, o controle de qualidade deve ser grande. Segundo ele, houve um caso clássico de falha de segurança desse tipo de vacina na década de 1950. "Na época, os EUA estavam usando uma vacina contra a poliomielite com o vírus morto. Mas alguns lotes tinham falhas e alguns vírus escaparam vivos, ou seja, não foram mortos pelos processos químicos que eles usaram, resultando na morte de diversas crianças".

*Com informações da reportagem de Gabriela Ingrid, publicada em 11 de junho