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Pandemia traz medo da morte que negros sempre enfrentaram, diz psicólogo

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Imagem: Reprodução

Do VivaBem, em São Paulo

10/06/2020 15h48

A sensação de luto permanente, provocada pela pandemia, era cotidiano nas famílias negras periféricas do Brasil, disse o psicólogo Lucas Veiga durante o UOL Debate desta quarta-feira (10).

O programa reuniu também o professor Mario Sergio Cortella e a filósofa Viviane Mosé, para discutir a questão da ansiedade com a flexibilização do isolamento social.

De acordo com Veiga, essa ansiedade não é causada apenas por causa da flexibilização e já existia há muito no Brasil. Segundo ele, a experiência de proximidade com a possibilidade da morte está sendo partilhada por toda a população agora, mas é rotina antiga para negros do país. Isso inclusive explicaria por que os protestos antirracistas ganham muita força tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil.

"Pense que 75% da população mais pobre no Brasil é negra. A cada 23 minutos um jovem negro é assassinado. Esse luto já era normal, essa relação de muita precariedade, falta de assistência, isenção e desresponsabilização do estado em relação à vida social já se dava nas periferias. É um problema da história do Brasil", diz Veiga.

A pandemia compartilha esse luto e o intensifica, noticiando-o de forma mais ampla. "Tem algo como se tivesse tirado uma tampa do bueiro. Tem coisas que não podem mais ser mascaradas."

De acordo com ele, todos estão em um estado de medo, de ansiedade. Veiga afirma que, se o estado, que deveria regular o acesso e as medidas necessárias no cuidado à saúde pública no momento pandêmico, está se isentando, ficamos todos com medo do que vai acontecer. "Mas não podemos perder de vista que isso não se inaugura na pandemia e não termina com ela", diz.

A solução usada na periferia é a coletividade. No Complexo do Alemão a população tem se organizado para garantir o isolamento dentro do que é possível, além de distribuir cestas básicas. "A comunidade cuida da população no momento em que o Estado não está. porque quando ele chega, chega por meio da operação policial".

O que as periferias sempre viveram está chegando agora de forma mais ampla em todo o território nacional. "Claro que a gente fica acuado, assustado, mas precisamos coletivamente resolver esse problema histórico que não acaba quando a pandemia acabar, se a gente não se colocar como agentes de transformação", diz.