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Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Cansaço e coceira intensa podem ser sinal de colangite biliar primária

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Imagem: iStock

Elcio Padovez

Colaboração para VivaBem

04/06/2020 04h00

A dona de casa Andrea Souza recebeu um presente nada agradável no dia do seu aniversário de 38 anos. Em 8 de janeiro de 2009, após fazer uma peregrinação por muitos médicos de especialidades diferentes e não achar a causa das coceiras cada vez mais frequentes, ela foi diagnosticada por um hepatologista como portadora de colangite biliar primária (CBP), doença considerada rara no universo médico e que, segundo dados do HC-SP (Hospital das Clínicas de São Paulo) atinge cerca de dez mil mulheres no país, principalmente na faixa dos 35 a 60 anos.

"Me tirou o chão", relembra Andrea, que dois anos antes havia dado à luz seu primeiro filho, Matheus, e já se queixava de cansaço extremo ao voltar do trabalho, e de uma coceira insistente em quase todo o corpo.

Durante um ano, ela perambulou por clínicos gerais, dermatologistas e outras especialidades, e alguns profissionais suspeitavam que ela pudesse ter uma hepatologia autoimune, mas sem cravar um diagnóstico, que só começou a clarear um ano depois, em 2008, após um check-up ginecológico que incluiu um exame mais detalhado da situação de seu fígado.

"Na biópsia, eu estava como grau 3, sendo que o pior grau é o 4. Ou seja, estava próxima de uma falência do fígado e me desesperei".

O que é a colangite biliar primária?

Segundo Debora Terrabuio, hepatologista do HC-SP e que acompanha o caso de Andrea desde o início do tratamento, a CBP, antigamente conhecida por cirrose biliar primária, é uma doença que destrói progressivamente os canais biliares presentes no fígado e que, em estágios críticos, pode causar severas inflamações e chegar a uma cirrose hepática e levar a óbito.

Mesmo que seja difícil de identificá-la, há alguns sintomas que não devem ser ignorados. "Geralmente, as pessoas associam doenças no fígado a olhos amarelados, mas este é um sintoma que não se desenvolve para todos. A colangite, assim como os males do fígado, se desenvolve de maneira silenciosa, mas é preciso estar atento a se cansar facilmente e coceiras insistentes pelo corpo, que pioram à noite", ressalta a hepatologista.

A médica também indica que, com os sintomas iniciais identificados, é preciso buscar ajuda médica com urgência, pois as chances de se controlar a colangite, que não tem cura, são maiores no estágio inicial.

"Se o dermatologista estiver com dificuldades em fechar o diagnóstico, o melhor a se fazer é ir atrás de um hepato", aconselha.

Fígado é um dos órgãos mais importantes do corpo humano - Getty Images - Getty Images
Colangite biliar primária pode, em estágios críticos, causar severas inflamações e chegar a uma cirrose hepática e levar a óbito
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Patrícia de Rossi, ginecologista do Conjunto Hospitalar do Mandaqui, em São Paulo, complementa que o pedido de um simples exame de sangue pode ser fundamental para se identificar a doença, pois por meio da fosfatase alcalina e da gama glutamiltransferase (Gama GT), possíveis lesões nos canais biliares podem ser diagnosticadas.

Como é o tratamento?

No caso da dona de casa de São Paulo, ela não pode se descuidar do uso regular de remédios específicos para o controle da CBP, assim como tomar, duas vezes ao dia, polivitamínicos de reposição de cálcio, pois a doença pode evoluir para uma osteoporose. Na única vez que descuidou, durante a gravidez da filha Luisa, Andrea voltou a sentir os efeitos no fígado.

"Decidi cortar a medicação por conta própria três meses antes da Luisa nascer e até que ela completasse seis meses. Quando retornei ao check-up que realizo três vezes por ano, para ver se estou com risco de contrair hepatite, levei uma bronca enorme da doutora Débora, pois minhas taxas estavam todas alteradas", lembra-se.

Outro puxão de orelha que a hepato lhe deu foi por não tê-la consultado em um dia que resolveu tomar um relaxante muscular. A médica foi taxativa que este tipo de medicamento, por ter paracetamol na fórmula, pode causar um choque hepático em pessoas com doenças no fígado.

Andrea, hoje com 47 anos, leva uma vida normal, vai à academia, cuida dos filhos, apenas evita em sua dieta o consumo de gorduras, frituras e refrigerantes, pois como tudo o que se consome é processado pelo fígado, é melhor não provocá-lo muito.

"Mas esses cuidados não me impedem de, nas festas de Ano-Novo, tomar uma taça de champanhe ou de vinho. Hoje, quase não lembro que convivo com ela".

Fontes: Debora Terrabuio, doutora em hepatologia pela Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) e integrante da SBH (Sociedade Brasileira de Hepatologia) e Patrícia de Rossi, mestra em medicina, ginecologia e obstetrícia pela USP e médica no Conjunto Hospitalar do Mandaqui (SP).