Por distância e pandemia, mães veem filhos na UTI neonatal por videochamada
Milena Rosário Santos nasceu no dia 25 de fevereiro na cidade de Santos, no litoral paulista. O colo da mãe Daiane durou pouco.
A recém-nascida teve dificuldades para respirar e precisou ser levada para ter a ajuda de um cateter de alto fluxo, dispositivo que ajuda a normalizar a quantidade de oxigênio.
Pela insistência dos pais, o hospital trouxe um especialista de outro centro e a suspeita foi confirmada. Milena precisaria de cirurgia e foi transferida para o Hospital Sepaco, em São Paulo, a cerca de 90 quilômetros da casa dos pais.
Com pouco menos de um mês de idade, Milena passou por cirurgia para corrigir o problema no coração, mas não faltaram dificuldades. "Ao longo da internação, o rim dela parou, ela teve hipertensão, ficou com a barriga destendida e pegou um fungo pelo cateter. Queria estar com ela todos os dias, mas a distância e a situação atual da pandemia infelizmente não me permitem", conta Daiane.
"Além de ter minhas dúvidas respondidas pelos médicos, consigo vê-la e conversar com ela. Um dia, ela estava chorando e quando ouviu minha voz, se acalmou e dormiu. Foi extremamente importante para mim", afirma Daiane.
Há dez dias Milena está em processo de retirada gradual do dispositivo que a ajuda a respirar e já consegue ficar sem o aparelho. "Como se passaram mais de três meses, meu leite secou, então ela também está treinando com a mamadeira. Se conseguir se adaptar, poderemos tê-la em casa. Não vejo a hora", diz a mãe.
Aparecida se reveza entre visitas e vídeos
Com o exame morfológico, Aparecida Arzani de Oliveira pode descobrir antecipadamente que seu bebê possuía Tetralogia de Fallot, uma condição que causa fluxo de sangue pobre em oxigênio para fora do coração e para o resto do corpo, e Síndrome de Edwards, doença que provoca atraso no desenvolvimento pela presença de um cromossomo 18 extra.
No dia 11 de março, durante uma visita de rotina ao Hospital Sepaco, o escolhido pela família, com 36 semanas de gravidez, a bolsa de Aparecida estourou. O parto correu bem e, como o esperado, seu filho Rafael foi para a UTI. Agora, ela e a filha fazem algumas viagens por mês para São Paulo, ficando na casa de parentes, enquanto o marido trabalha.
"Os médicos e a psicóloga do hospital me orientaram a revezar. São cerca de sete horas de viagem e quando a van da prefeitura não pode nos levar, gastamos quase R$ 600 com a ida e volta, são muitos pedágios. Agora, está ainda mais difícil por conta do coronavírus. Mesmo tomando todos os cuidados tenho medo de levar o vírus para minha família", conta a mãe.
Nos dias em que Aparecida fica em Glicério, a saudade aperta, mas as chamadas da equipe médica ajudam a tranquilizar. "É uma ferramenta que ajuda bastante. Poder conversar com os médicos, saber o que será feito, se ele está reagindo... E, claro, poder vê-lo em tempo real", diz.
Hoje, Rafael está sendo medicado e quando completar entre seis meses e um ano, poderá passar por cirurgia. "Os médicos estão avaliando fazer uma traqueostomia para que ele possa vir para casa, já que ganhou o peso necessário e ficar muito tempo deitado aumenta as chances de pneumonia. Estamos torcendo para que ele venha logo", afirma a mãe.
Médico explica criação da iniciativa
Lúcio Flavio Peixoto de Lima, coordenador médico da neonatologia do Hospital Sepaco, a iniciativa foi criada para tentar amenizar o sofrimento das famílias que passam pela experiência da internação de UTI.
"Além de ajudar o lado psicológico, os parentes também contribuem para o tratamento dessa criança", afirma.
Lima aponta que, com a pandemia, o hospital também tem responsabilidade social de diminuir a circulação dos acompanhantes e diminuir as chances de contágio na sociedade.
"Mas restringir visitas de pais e parentes no grupo de risco, como muitas vezes são os avós, ainda mais para uma criança em situação delicada, é cruel. A ideia é que as famílias se sintam apoiadas", explica.
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