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Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Por distância e pandemia, mães veem filhos na UTI neonatal por videochamada

Giulia Granchi

Do VivaBem, em São Paulo

05/05/2020 04h00

Milena Rosário Santos nasceu no dia 25 de fevereiro na cidade de Santos, no litoral paulista. O colo da mãe Daiane durou pouco.

A recém-nascida teve dificuldades para respirar e precisou ser levada para ter a ajuda de um cateter de alto fluxo, dispositivo que ajuda a normalizar a quantidade de oxigênio.

Daiane - mãe UTI neonatal - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Daiane com sua bebê Milena, que hoje já respira sem a ajuda do cateter
Imagem: Arquivo pessoal
A mãe compartilhou com os médicos a preocupação de que o quadro pudesse se tratar de uma cardiopatia congênita (anormalidade na estrutura ou função do coração), mesmo problema que seu primeiro filho apresentou, mas foi informada que se tratava de uma dificuldade respiratória transitória e avisada de que Milena iria para a UTI.

Pela insistência dos pais, o hospital trouxe um especialista de outro centro e a suspeita foi confirmada. Milena precisaria de cirurgia e foi transferida para o Hospital Sepaco, em São Paulo, a cerca de 90 quilômetros da casa dos pais.

Com pouco menos de um mês de idade, Milena passou por cirurgia para corrigir o problema no coração, mas não faltaram dificuldades. "Ao longo da internação, o rim dela parou, ela teve hipertensão, ficou com a barriga destendida e pegou um fungo pelo cateter. Queria estar com ela todos os dias, mas a distância e a situação atual da pandemia infelizmente não me permitem", conta Daiane.

Daiane - mãe UTI neonatal - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal
Como Daiane tem dificuldade para conseguir o translado e as visitas são limitadas a um acompanhante por dia, o hospital ofereceu a chamada de vídeo como uma forma de a mãe estar presente nas consultas e ter contato com a bebê.

"Além de ter minhas dúvidas respondidas pelos médicos, consigo vê-la e conversar com ela. Um dia, ela estava chorando e quando ouviu minha voz, se acalmou e dormiu. Foi extremamente importante para mim", afirma Daiane.

Há dez dias Milena está em processo de retirada gradual do dispositivo que a ajuda a respirar e já consegue ficar sem o aparelho. "Como se passaram mais de três meses, meu leite secou, então ela também está treinando com a mamadeira. Se conseguir se adaptar, poderemos tê-la em casa. Não vejo a hora", diz a mãe.

Aparecida se reveza entre visitas e vídeos

Com o exame morfológico, Aparecida Arzani de Oliveira pode descobrir antecipadamente que seu bebê possuía Tetralogia de Fallot, uma condição que causa fluxo de sangue pobre em oxigênio para fora do coração e para o resto do corpo, e Síndrome de Edwards, doença que provoca atraso no desenvolvimento pela presença de um cromossomo 18 extra.

Aparecida - mãe UTI neonatal - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal
Pelo atendimento que seu filho Rafael provavelmente precisaria, foi recomendado que a mãe, que mora com a família em Glicério, no interior de São Paulo, fizesse o parto em um centro que contasse com uma UTI neonatal.

No dia 11 de março, durante uma visita de rotina ao Hospital Sepaco, o escolhido pela família, com 36 semanas de gravidez, a bolsa de Aparecida estourou. O parto correu bem e, como o esperado, seu filho Rafael foi para a UTI. Agora, ela e a filha fazem algumas viagens por mês para São Paulo, ficando na casa de parentes, enquanto o marido trabalha.

"Os médicos e a psicóloga do hospital me orientaram a revezar. São cerca de sete horas de viagem e quando a van da prefeitura não pode nos levar, gastamos quase R$ 600 com a ida e volta, são muitos pedágios. Agora, está ainda mais difícil por conta do coronavírus. Mesmo tomando todos os cuidados tenho medo de levar o vírus para minha família", conta a mãe.

Nos dias em que Aparecida fica em Glicério, a saudade aperta, mas as chamadas da equipe médica ajudam a tranquilizar. "É uma ferramenta que ajuda bastante. Poder conversar com os médicos, saber o que será feito, se ele está reagindo... E, claro, poder vê-lo em tempo real", diz.

Hoje, Rafael está sendo medicado e quando completar entre seis meses e um ano, poderá passar por cirurgia. "Os médicos estão avaliando fazer uma traqueostomia para que ele possa vir para casa, já que ganhou o peso necessário e ficar muito tempo deitado aumenta as chances de pneumonia. Estamos torcendo para que ele venha logo", afirma a mãe.

Médico explica criação da iniciativa

Lúcio Flavio Peixoto de Lima, coordenador médico da neonatologia do Hospital Sepaco, a iniciativa foi criada para tentar amenizar o sofrimento das famílias que passam pela experiência da internação de UTI.

"Além de ajudar o lado psicológico, os parentes também contribuem para o tratamento dessa criança", afirma.

Lima aponta que, com a pandemia, o hospital também tem responsabilidade social de diminuir a circulação dos acompanhantes e diminuir as chances de contágio na sociedade.

"Mas restringir visitas de pais e parentes no grupo de risco, como muitas vezes são os avós, ainda mais para uma criança em situação delicada, é cruel. A ideia é que as famílias se sintam apoiadas", explica.