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Comidas em bowls são cada vez mais comuns: como fazer escolhas saudáveis

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Imagem: iStock

Úrsula Neves

Colaboração para o VivaBem

27/04/2020 04h00

A tradição oriental de comer em tigelas se popularizou no Brasil em meados de 2018. Desde então, a moda dos bowls e dos pokes (prato havaiano servido em cumbucas) se espalhou pelas grandes cidades fazendo sucesso entre quem procura por um estilo de vida mais saudável aliada a praticidade. Além deles, as cumbucas com iogurte e frutas no café da manhã, ou com açaí, também tem se tornado comuns. Alguns deliverys têm entregue comida em potinhos que lembram os de comida chinesa, que servem como um tipo de bowl. Mas será que apresentar as refeições dessa forma pode influenciar na quantidade e na maneira que comemos?

Apesar de não haver um consenso, algumas publicações na literatura científica relatam a existência de efeitos e da influência dos utensílios na nossa alimentação, além da quantidade das porções que consumimos. "No que se refere à alimentação e ao tamanho das porções, há um conceito interessante chamado ilusão de Delboeuf, que pode ser traduzido da seguinte maneira: quanto maior o utensílio, maior a chance do indivíduo se servir de uma porção maior ou de mais porções", ressalta a nutricionista Clarissa Hiwatashi Fujiwara, membro do Departamento de Nutrição da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica).

Portanto, pode ser uma estratégia interessante recomendar o uso de pratos de menor diâmetro com o objetivo de favorecer uma menor ingestão de porções, como considera a especialista. Ela destaca, no entanto, que é necessário ter um cuidado maior quando se fala do uso de tigelas, cumbucas ou bowls, pois esses utensílios dificultam a visualização integral das porções, que são encontradas em uma profundidade maior do que nos pratos comuns.

Outra preocupação deve ser com a maneira que nos alimentamos, uma vez que as refeições servidas em bowls trazem a conveniência dos ingredientes já cortados ou fracionados para serem consumidos com simples garfadas, sem a necessidade de uma faca ou mesmo do apoio de uma mesa. E essa facilidade no consumo pode fazer com que as pessoas comam mais apressadamente, o que pode dificultar o processo de digestão e sobrecarregar o estômago.

O que explica essa tendência?

A praticidade, a conveniência e o apelo visual conquistam as pessoas para os pratos servidos em bowls, como explica a engenheira química Sílvia Deboni Dutcosky, especialista em ciência sensorial e do consumidor pela Universidade de Davis, nos Estados Unidos. "Os sentidos da visão e do aroma são os primeiros a gerar expectativa e a vontade comer. Daí o sucesso dos bowls, com a utilização das cores e do empratamento com design criativo e apetitoso".

Mas as exigências dos consumidores não param por aí, como destaca Carlos Eduardo Rocha Garcia, doutor em Ciência de Alimentos e professor do Departamento de Farmácia da UFPR (Universidade Federal do Paraná). "Hoje, os bowls atendem a um público cada vez mais exigente, que busca também qualidade nutricional. Não basta ser gostoso, tem que ser gostoso e saudável. Um desafio maior para quem os produz".

Mas os pokes e pratos na tigela são mesmo saudáveis?

A grande vantagem dos bowls é o acesso a uma grande diversidade de ingredientes. Mas essa facilidade também pode fazer com que você caia em armadilhas calóricas, como é o caso do tradicional açaí na tigela.

"O açaí na tigela é prático, saudável e nos permite consumir uma fruta amazônica durante o ano inteiro. Porém, quando "recheado" com ingredientes como leite condensado ou xarope de guaraná, continua parecendo saudável, mas passa a ter um elevado valor calórico", alerta o professor Carlos Garcia.

Mas, então, qual deve ser a composição ideal de um bowl nas três principais refeições do dia? Segundo Fujiwara, a melhor dica é tentar dividi-lo em quatro partes, como o prato normal. Metade deve ser composta de vegetais, verduras ou legumes, que podem ser crus ou cozidos. Um quarto dessa divisão deve ser composto por alimentos fontes de carboidrato, como arroz e grãos de quinoa cozidos, além de tubérculos e leguminosas. E no quarto restante da refeição deve ser incluída uma fonte de proteína, como ovo, carne, frango ou peixe.

Já no café da manhã, a composição dos bowls pode contar com uma grande diversidade de iogurtes naturais feitos à base de frutas acompanhados de sementes de linhaça ou chia, frutas desidratadas e até cereais.