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Estudos demoram e os pacientes morrem, diz Roberto Kalil sobre cloroquina

De VivaBem

16/04/2020 13h36

A cloroquina e a hidroxicloroquina ganharam destaque na pandemia do novo coronavírus. Mas as evidências científicas até aqui não sustentam o uso dessas substâncias como uma aposta definitiva na cura da Covid-19.

Para o cardiologista Roberto Kalil Filho, diretor clínico do Incor e colunista de VivaBem, a medicina ainda está "aprendendo a lidar" com o novo coronavírus. Por isso, mesmo que os estudos a respeito das drogas ainda não apontem a substância como uma aposta 100% segura e eficiente, não dá para deixar de usar o medicamento e aguardar evidências científicas. Esse é o momento de usar todas as armas para evitar que pacientes graves morram.

"Cinco por cento (dos pacientes) ficam graves e precisam de tratamento mais intensivo. Tem estudos básicos em laboratório mostrando que, talvez, (a cloroquina) impeça entrada do vírus na célula, diminui a replicação e tenha efeito anti-inflamatório; por isso a sugestão de usar essa medicação", afirmou o médico, lembrando que há 23 estudos em andamento a respeito.

Segundo Kalil, vamos ter evidências daqui uns meses ou um ano, se algum medicamento tem eficácia ou não, mas o Ministério da Saúde permite o uso da hidroxicloroquina em casos graves. "Esse vírus causa infecção secundária, antibióticos são fundamentais — hidroxi, antibióticos, anticoagulantes. É sabido que esse vírus também causa trombose, por isso é indicado até corticoide. Isso é conhecimento antigo. Nós não temos arma direta contra esse vírus, não temos vacina (...). Mas a mortalidade, quando você tem suporte, é pequena."

A questão foi discutida na edição desta quinta-feira (16) do UOL Debate, no qual especialistas conversaram a respeito do que a ciência já sabe e do que ainda tem a descobrir sobre o uso da cloroquina contra o coronavírus — além de sua eficácia e os prós e contras de utilizá-la para tratar a covid-19.

Além de Kalil, o programa reuniu Estevão Portela Nunes, infectologista do Instituto Nacional de Infectologia da Fiocruz; João Fernando Monteiro Ferreira, cardiologista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo; Nise Yamaguchi, oncologista e diretora da Associação Brasileira de Mulheres Médicas; e Pedro Benedito Batista Jr., diretor médico da Prevent Senior.

"Meu raciocínio é: você está usando hoje, coerente, em uma dosagem segura, em um ambiente hospitalar. Se aparecer estudo dizendo que funcionou, parabéns, usamos, fizemos o que pudemos, com antibiótico, anticoagulante, cloroquina. Se daqui seis meses surgirem estudos mostrando que foi eficaz e não usamos, perdemos. É um debate que virou uma questão nacional. Mas eu vejo que faz parte das medicações que teriam que ser usadas em pacientes internados e mais graves. Evidência, ninguém vai ter nesse momento. Estudos científicos demoram e os pacientes morrem", acrescentou Kalil.

O infectologista Estevão Portela Nunes também reforçou a falta de evidências a respeito da eficácia da cloroquina e da hidroxicloroquina.

"Eu estava discutindo recentemente em uma mesa da Fiocruz, e disse que a diferença da ignorância é o volume das dúvidas. As certezas de fato são poucas. O nível de evidências é pobre", afirmou Estevão Nunes.

"Agora, é óbvio, existem alguns estudos com resultados ambíguos. Em Marselha, há resultados complicados de aceitar — a própria sociedade que patrocina, é claro que há uma ansiedade de chegar em um padrão. Vemos paciente falecendo, sobrecarregando, sem que possamos oferecer algo considerado consistente", acrescentou, indo além.

"Nesse tipo de situação, fazemos coisas que não seriam esperadas diante das apresentadas. A medicina baseada em evidência evoluiu muito; buscamos desfechos mais importantes, vários aspectos são importantes ser considerados. Óbvio que quero uma evidência palpável, a Fiocruz está participando do estudo Solidarity. Sei que tem outros importantes, vários braços de tratamentos que vêm sendo testados."

Ainda de acordo com Roberto Kalil, a chance de complicações existem, como em qualquer remédio, "mas a chance de complicação é pequena nas dosagens usuais e em ambiente hospitalar".

"Evidência científica, não temos ainda", reforçou. "Não temos remédio que trate diretamente esse vírus. Temos que dar condição de suporte e uma gama de remédios para minimizar a agressão desse vírus."