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Lecitina de soja é mesmo uma boa aliada da memória?

Luiza Vidal

Colaboração para o VivaBem

25/03/2020 04h00

A lista de alimentos que podem deixar nossa vida melhor é longa. A soja, por exemplo, é uma boa aliada quando o assunto é memória. Alguns estudos já publicados em periódicos científicos mostram essa relação entre a lecitina de soja e a preservação e melhora da memória.

Os especialistas consultados pelo VivaBem indicam seu uso com este fim, mas reforçando que pesquisas mais recentes são sempre bem-vindas. "Alguns estudos apontam o benefício, mas sempre são necessárias mais pesquisas bem desenhadas na área", explica a nutricionista da SBAN (Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição) Lara Natacci.

Isso porque a lecitina é rica em fosfatidilcolina —substância formada por fósforo e colina. Essa última é importante para o cérebro, pois protege a bainha de melina, que funciona como uma capa de proteção das células nervosas. Quanto mais dessa substância do nosso corpo, melhor para a preservação da nossa memória.

A lecitina de soja só deve ser usada como suplementação e não como substituição em casos de demência como o Alzheimer, alerta Aline Turbino, neurologista mestre em neurociências pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e pesquisadora do grupo de cefaleia da USP (Universidade de São Paulo).

"Esses suplementos não são superiores a medicação nenhuma. O tratamento é a certeza do resultado; já a suplementação é algo que vem da alimentação e tem efeito benéfico, mas não trata", explica.

Para pacientes que possuem alguma doença relacionada a perda de memória é indicado o uso apenas como um "extra".

"Comprovadamente, a lecitina aumenta as funções cognitivas, o aprendizado e a percepção. Por isso, a suplementação em idosos proporciona menor grau de dependência e menores índices de depressão", diz Lucas Palmiro, especialista em endocrinologia e nutrologia.

Outro detalhe importante é que há uma quantidade ideal para cada pessoa que deve ser ingerida para sentir os benefícios. Marcelo Cássio de Souza, nutrólogo dos hospitais Moriah e Albert Einstein, ambos em São Paulo, indica de 500 mg a 1 g de lecitina de soja por dia, geralmente encontrada em cápsulas. Mas ele afirma que é importante observar a pureza da soja assim como a procedência.

O motivo é que a soja no Brasil costuma ser transgênica, ou seja, geneticamente modificada, e também é rica em isoflavonas, substâncias semelhante aos hormônios femininos. Então, vale olhar na embalagem do suplemento o grau de pureza do grão. Quanto mais puro, melhores serão os efeitos para o corpo.

"A lecitina de soja é barata e saudável. Descartando possíveis doenças que estejam prejudicando a memória, é um bom suplemento", afirma o nutrólogo, que conta os outros benefícios da substância: diminui o colesterol ruim (LDL) e aumenta o bom (HDL); ajuda no funcionamento do fígado; retarda envelhecimento e previne a diabetes.

Mas só a lecitina de soja causa esses efeitos, principalmente no cérebro? Não. Existem outros alimentos que causam esses efeitos. São vários: nozes, castanhas, farelo de aveia, azeite de oliva, abacate, brócolis, quinoa, couve-flor, leite de vaca e materno, ovos, peixes de água gelada, camarão e carnes.

A lecitina de soja só é contraindicada para pessoas que têm alergia à soja. Qualquer pessoa pode ingerir, principalmente quem faz tratamentos com medicamentos que causam a perda de memória —antidepressivos, por exemplo. Mas é sempre bom ir a um especialista antes de comprar o suplemento. Se sua perda de memória estiver atrapalhando sua rotina, é hora de marcar um neurologista.

O que causa perda de memória?

De acordo com Yuri Macedo, neurologista do Hospital Badim, no Rio de Janeiro, e da Sociedade Brasileira de Neurologia, muitas coisas podem causar perda de memória, como transtornos do humor (se a pessoa tem depressão ou ansiedade, há dificuldade de reter informação), hipotireoidismo, carência de vitaminas, doenças sistêmicas, infecções, uso de álcool e outras drogas, além de todos os tipos de demência.

Para mantê-la "em dia", aprenda novas atividades. "Ter uma boa vida social e realizar atividade física são ótimas formas de estimular nossa cognição e manter uma boa memória por muitos anos", diz o neurologista.

E quando é hora de acender o alerta? Esquecimentos; não conseguir realizar tarefas que eram habituais; alterações de comportamento e linguagem. "Principalmente quando esses problemas são trazidos por quem vive com a pessoa ou é próximo a ela. Nesses casos é recomendada a avaliação por um neurologista", explica.

Fontes: Aline Turbino, neurologista mestre em Neurociências pela Unifesp e pesquisadora do grupo de cefaleia da USP; Lara Natacci, nutricionista da SBAN (Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição) e mestre e doutora em ciências pela Faculdade de Medicina da USP; Lucas Palmiro, especialista em endocrinologia e nutrologia; Marcelo Cássio de Souza, nutrólogo e cardiologista dos hospitais Moriah e Albert Einstein (SP) e Yuri Macedo, neurologista do Hospital Badim, no Rio de Janeiro, e da SBN (Sociedade Brasileira de Neurologia).