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Com lúpus, elas temem falta de cloroquina: "Dores podem voltar mais fortes"

A paulistana Ana Claudia Palhas da Silva, 30, faz uso do remédio há cerca de dois anos - Arquivo pessoal
A paulistana Ana Claudia Palhas da Silva, 30, faz uso do remédio há cerca de dois anos Imagem: Arquivo pessoal

Giulia Granchi

Do VivaBem, em São Paulo

20/03/2020 16h08

Após Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, afirmar que a droga hidroxicloroquina, comumente usada no tratamento de lúpus e artrite reumatoide, pode ser efetiva para o combate à covid-19, foi dada a largada da busca desenfreada pelo medicamento nas farmácias brasileiras.

O remédio tem mesmo se mostrado eficaz no combate à doença e já é alvo de mais de 20 pesquisas ao redor do mundo, mas são estudos muito limitados, com um número pequeno de pessoas, e o uso da droga não é recomendado pela Anvisa ou por médicos —pois a eficácia e a segurança não são garantidas.

Além de não sabermos exatamente os efeitos que a substância teria no corpo de um paciente com o novo coronavírus, a compra sem indicação médica gera outro problema sério: a falta do medicamento para pacientes que realmente precisam dele. Abaixo, três mulheres com lúpus compartilham o sentimento de angústia que sentem com a possibilidade de interromper o tratamento:

"O remédio é essencial para minha vida"

"Após consultas com vários médicos diferentes, uma série de exames e muitas crises de dores fortes, finalmente recebi o diagnóstico de lúpus em 2018. Comecei tomando a hidroxicloroquina com outros dois medicamentos e já interrompi o uso de um deles. Hoje, depois de dois anos de tratamento, posso dizer que o remédio é essencial para minha vida, eu me sinto muito bem. Mas não sei até quando.

Se os comprimidos faltarem, não sei o que pode acontecer comigo. As dores podem voltar mais fortes e a doença ficar pior, bem agora que estou a caminho da remissão"

Saí para comprar uma nova caixa, como faço sempre um mês antes de acabar. Fui em mais de 15 farmácias em São Paulo e não encontrei, só depois vi as notícias. Não é uma medicação barata, custa cerca de R$ 80. Quem pode pagar comprou várias caixas e quem realmente precisa não tem. Só tenho remédio para mais 45 dias e não sei como serão os próximos meses" — Ana Claudia Palhas da Silva, 29 anos, residente de são Paulo, bairro Canindé.

"Não sei o tamanho do estrago que a falta da droga me faria"

jaqueline - paciente lúpus - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal
"Achei que com uma saída rápida conseguiria repor meu estoque de cloroquina, mas fui em cinco redes grandes de farmácias e não encontrei. Liguei e consegui reservar em um estabelecimento pequeno, mas quando cheguei, já tinham vendido. Fiquei angustiada porque só tinha remédio para mais três dias. Só encontrei uma caixa em um bairro bem afastado.

Minha irmã faleceu de lúpus e eu descobri a doença há cerca de um ano. Apesar de estar em estágio precoce, eu não sei o tamanho do estrago que a falta da droga faria —em quanto tempo voltariam os sintomas dolorosos de dores nas juntas, fadiga extrema... Estou até tentando o contato particular de farmacêuticos para não ficar sem tomar." — Jaqueline Maria General Marques da Silva, 30 anos, moradora de Maringá, no Paraná.

"Quando parei de tomar, senti tantas dores que não conseguia nem me vestir sozinha"

Erônica - paciente lúpus - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal
"Já senti na pele o que a falta do remédio faz. Descobri que tenho lúpus há 5 anos e faço uso da cloroquina há dois. Sentia muitos efeitos colaterais no início --náusea, fadiga, alteração de visão. Fiz exames diversos para tentar descobrir a causa de não enxergar direito e, sem respostas, acabei parando de tomar por conta própria.

Sem a droga, senti tantas dores que não conseguia me vestir sozinha. Hoje, já não sinto tanto os efeitos e tenho uma boa qualidade de vida por conta do medicamento. Ontem, quando vi a reportagem, fui procurar imediatamente na farmácia. Depois de muita procura, finalmente consegui uma caixa. Fiquei muito preocupada, mas espero que os estoques estejam normalizados em um mês." — Erônica Araújo, 31 anos, moradora de Fortaleza, no Ceará.