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Teste de gravidez com pasta de dente funciona?

Luiza Vidal

Colaboração para o VivaBem

11/03/2020 04h00

Uma suspeita de gravidez pode trazer muita ansiedade na vida da mulher. Por isso, é comum que algumas procurem "respostas" na internet enquanto decidem o que vão fazer. Um dos boatos presente nas redes sociais é o "teste de gravidez" com pasta de dente que, vamos avisar logo aqui, não tem comprovação científica nenhuma que funcione.

Em vídeos e textos, internautas colocam a urina em um recipiente, acrescentam uma quantia (o que usamos para escovar os dentes) de pasta de dente branca e misturam. A reação gera uma espuma e bolhas e, em alguns casos, até altera a coloração. O boato diz que se aparecer espuma na urina e a cor ficar azul, a mulher está grávida.

Apesar de afirmarem que funciona, não há comprovação científica, conforme explica Ana Paula Aquino, ginecologista e especialista em reprodução humana da Huntington Medicina Reprodutiva e sócia da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).

"O que se sabe é que a paciente está fazendo reações químicas aleatórias. Não tem nada relacionado com a presença do hormônio da gravidez [HCG]", diz a especialista. "A urina é ácida e a pasta de dente alcalina, então isso vai criar espuma invariavelmente".

Para Fernando Wypych, professor de química da UFPR (Universidade Federal do Paraná), essa mistura da pasta e urina origina, eventualmente, pequenas bolhas (ou espuma) pelo processo de agitação do recipiente. "Se a pessoa agita com mais rigor, esse detergente da pasta de dente pode entrar em ação e formar pequenas bolhas", explica.

Mas, de acordo com o químico, não dá para dizer que a mistura entre os dois vá alterar a cor do líquido —como é dito em alguns vídeos. "Não há nada na pasta de dente que altere para azul a cor da urina".

Estou na dúvida: o que fazer?

O mais indicado é procurar os testes de gravidez tanto de farmácia como os de laboratório. Ambos detectam o hormônio da gravidez, conhecido como HCG (Gonadotrofina Coriônica Humana). O exame de sangue é mais assertivo, pois consegue detectar baixas quantidades do hormônio e após 10 dias da fecundação, não é necessário ter o atraso menstrual.

Para este tipo de exame, são duas opções: o qualitativo, que verifica a presença do hormônio, e o quantitativo, que vai medir a quantidade de HCG. "O qualitativo é mais rápido e mais simples também: só fala se é positivo ou não. Já o quantitativo é muito mais usado para fazer acompanhamento gestacional nas primeiras semanas", explica Luis Gustavo Cesário da Silva, ginecologista, obstetra e coordenador da maternidade da Santa Casa de São José dos Campos (SP).

Já o teste de urina —farmácia ou laboratório— demora um pouco mais para detectar o hormônio. Os especialistas indicam que esse tipo de teste só seja procurado após um atraso na menstruação. "Se o teste de urina der resultado positivo, ele é muito confiável. Se o teste der negativo, é melhor esperar e fazer de novo", explica Gustavo Maciel, consultor médico em ginecologia do Fleury Medicina e Saúde.

Além disso, o médico reforça a importância de sempre seguir a bula dos testes de farmácia para evitar resultados errados. Nada de deixar a fitinha mais do que o tempo indicado, por exemplo. Leia certinho e siga as orientações da bula.

Outra dica importante é procurar o ginecologista, caso tenha esse contato fácil, que vai tirar as dúvidas, entender a história da paciente e indicar o que ela pode fazer em seguida. "O especialista entende os testes, entende os períodos de gravidez e também o organismo da mulher", afirma Maciel.

Como funcionam os testes?

Os testes detectam a presença de uma molécula do hormônio da gravidez, o beta HCG. O que ocorre é uma reação entre o antígeno (HCG) e o anticorpo, como se fosse chave e fechadura, segundo Aquino. "Se o hormônio está presente, ele se encaixa nos anticorpos. Isso dá o resultado positivo. Os dois testes [farmácia e laboratório] fazem essa reação", explica a ginecologista Ana Paula Aquino.

Em alguns casos raros, esse hormônio pode aparecer com taxas altas no exame, mas isso não necessariamente significa que a pessoa esteja grávida, é um falso-positivo. Pode ser sinal de um tumor no ovário, de acordo com os especialistas. Já o falso-negativo, possível no de farmácia, é quando a pessoa não segue as regras da bula e/ou não obedece o período de fertilidade.

Fontes: Ana Paula Aquino, médica ginecologista e especialista em reprodução humana da Huntington Medicina Reprodutiva e sócia da da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia); Fernando Wypych, professor de química da UFPR (Universidade Federal do Paraná); Gustavo Maciel, consultor médico em ginecologia do Fleury Medicina e Saúde e Luis Gustavo Cesário da Silva, ginecologista, obstetra e coordenador da maternidade da Santa Casa de São José dos Campos.