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Refrigerantes naturais são uma boa opção de bebida? Nutricionistas analisam

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Ana Sniesko

Colaboração para o VivaBem

04/03/2020 04h00

Quem curte refrigerante já deve ter notado que as prateleiras dos supermercados ganharam novas opções. Com garrafas pequenas, transparentes e com cara de saudável, a definição "natural" está estampada no rótulo. Mas será que eles são tão bonzinhos quanto o rótulo indica?

É normal que a palavra natural tenha apelo e as empresas não a escolhem à toa. "A indústria de alimentos acompanha as demandas do mercado consumidor em paralelo com as recomendações do Guia Alimentar para a População Brasileira. Resumidamente, segundo o Guia, quanto mais natural o item, mais nutrientes que favorecem a saúde são preservados", explica Elisa Yumi, nutricionista especializada em Atendimento Ambulatorial pela UNICAMP.

Mas para se ter certeza mesmo, é importante ver o rótulo. Os refrigerantes naturais normalmente são feitos à base de água gaseificada e suco —não só da fruta que dá o nome ao sabor, mas usando outras para equilibrar as características da fruta principal, como a maçã que adoça ou o limão que reduz o dulçor. Além desses ingredientes, muitos apresentam aroma e corante natural, que são elementos derivados de plantas, carnes ou frutos do mar que adicionam algum aroma ou cor ao produto (entenda melhor a origem dos aromatizantes naturais).

Com isso, sabemos a origem dos nutrientes que aparecem na tabela nutricional. "Em um refrigerante sabor laranja, por exemplo, vemos que os 23 g de carboidratos em 250 mL do produto são provenientes dos ingredientes dos sucos de maçã, laranja e maracujá", considera a nutricionista Clarissa Hiwatashi Fujiwara, do Departamento de Nutrição da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica).

Difícil ter essa certeza com um refrigerante comum, já que no sabor laranja encontramos uma quantidade de açúcar é maior do que a de sucos —o que você sabe devido a ordem dos ingredientes na lista: primeiro são listados os usados em maior quantidade. "Observa-se também que que este apresenta uma lista de aditivos alimentares (corantes artificiais, conservantes) bastante extensa", pontua Fujiwara. Isso porque ele leva também em sua composição aroma sintético, reguladores de acidez, conservantes, estabilizantes e corante artificial.

É importante ressaltar que esses itens são regulados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e empresas grandes costumam usá-los em quantidades consideradas seguras por estudos científicos. No entanto, eles estão presentes em diversos produtos do dia a dia, e a alta exposição a eles está relacionado a à câncer, alergia e hiperatividade. "Somados à cafeína, estimulam o sistema nervoso e podem contribuir para distúrbios do sono. Dependendo da sensibilidade de cada um podem estar associados também à gastrite", pontua Yumi.

Quem vê nome, não vê composição nutricional

Mas não adianta confiar em um produto sem ler a parte de trás do rótulo, onde estão as informações nutricionais e lista de ingredientes. "Logo de cara chamam a atenção do consumidor os termos diet, light, zero ou orgânico. Essas terminologias, porém, não garantem que são produtos mais saudáveis", diz Yumi.

O ideal é observar todos os itens da lista de ingredientes e escolher o produto que, no conjunto, se mostra melhor que os demais da mesma categoria. "Muita gente presta atenção apenas no valor calórico, mas o ideal é observar toda a tabela nutricional e a lista de ingredientes", recomenda.

Para quem está cuidando da dieta para não ganhar peso, vale um alerta. "Os refrigerantes naturais não necessariamente apresentam poucas calorias. Chegam a apresentar valor calórico até próximo a um refrigerante comum, muito embora a qualidade das fontes de calorias dos refrigerantes naturais com açúcares somente do suco de frutas seja superior às calorias 'vazias' provenientes do açúcar", conta Fujiwara.

Outro nutriente a ser verificado é o carboidrato que, no caso dos refrigerantes, corresponde também ao teor de açúcar. "Dificilmente um refrigerante comum apresenta carboidrato natural, como de uma fruta, já que possui o chamado 'açúcar de adição' em grande quantidade. Também é preciso ficar de olho nos aditivos alimentares artificiais (corantes, aromatizantes, estabilizantes). As versões tradicionais possuem uma lista longa desses aditivos e indicam alto grau de processamento do produto", explica Elisa.

Segundo as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), recomenda-se que a ingestão de açúcares livres (seja adicionado pela indústria ou pelo próprio consumidor) não ultrapasse 10% das recomendações individuais de calorias diárias. "Entra nessa classificação de limite de ingestão de açúcares livres, aqueles provenientes do açúcar e sucos de frutas. Portanto, a ingestão de açúcares nos refrigerantes naturais contendo sucos de frutas não precisam ser providos, porém devem ser computados junto à ingestão de outras fontes de açúcares livres no dia a dia", pondera Fujiwara.

Em suma, os refrigerantes "naturais" são de fato uma alternativa superior à versão convencional. "Mas não deve ser consumia irrestritamente, em todas as refeições e, especialmente, não deve substituir a ingestão de água visando a hidratação diária do organismo", finaliza a nutricionista.

Dá para fazer refrigerante em casa?

Só que é mais natural ainda fazer o seu refrigerante em casa. "As bebidas feitas em casa possibilitam maior economia e variedade de receitas, de acordo com a criatividade de cada um", considera Yumi.

E para isso você só precisa de água com gás, suco de fruta (ou mesmo um chá, se preferir) e algum adoçante de sua preferência (pode ser açúcar, mel ou algum adoçante que você esteja acostumado a usar). Basta bater os ingredientes e inventar sua receita em casa.
E se precisar de inspiração, Yumi ensina uma versão usando hibisco e limão:

Ingredientes

  • 2 colheres (sopa) de hibisco
  • 250 ml de água
  • ½ limão
  • 2 colheres (sopa) de açúcar demerara (pode ser mel ou outro tipo de açúcar)
  • Gelo
  • 1 litro de água com gás

Modo de Preparo

Faça a infusão do hibisco na água por 5 minutos e esfrie na geladeira por 10 minutos. Esprema o limão e bata todos os ingredientes no liquidificador por alguns segundos. Sirva em seguida.