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Instituto Butantan usa toxina da cascavel para combater dor crônica

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Imagem: iStock

Nicola Ferreira

Agência Einstein

04/03/2020 16h12

O estudo usou material já utilizado em vacinas para reduzir a toxicidade e habilitar o uso da crotoxina

Um importante passo foi dado por pesquisadores brasileiros no tratamento de dor crônica. Cientistas do Instituto Butantan conseguiram reduzir a toxicidade e potencializar o efeito analgésico da crotoxina, principal toxina que compõe o veneno da Cascavel.

Estudada há quase um século, a crotoxina é conhecida por sua capacidade analgésica e anti-inflamatória. Contudo, sua alta toxicidade a impede que seja muito utilizada.

Os pesquisadores só conseguiram reduzir seu nível tóxico após encapsular a toxina em uma estrutura SBA-15 sílica, material utilizado para o desenvolvimento de vacinas e que potencializa o número de anticorpos produzidos. "Lidar com a toxicidade da substância sempre foi uma complicação", afirma a pesquisadora do Butantan Gisele Picolo, que pesquisa sobre a toxina desde 2011. "Usar sílica foi uma grande ideia."

O processo da pesquisa

Com o objetivo de analisar os benefícios da crotoxina encapsulada, especialmente em dores neuropáticas (resultantes de lesões no sistema nervoso central), a mistura foi injetada em ratos com danos no nervo ciático. "Observarmos que uma grande quantidade da toxina misturada à sílica pode ser administrada sem efeitos colaterais", diz a pesquisadora Morena Brazil Sant`Anna.

A dose de crotoxina possível de ser administrada foi 35% maior quando combinada ao composto. Após os testes em cobaias, a toxina foi usada em animais de maior porte.

A CTX:SBA-15 (nome do complexo) foi aplicada em dois momentos: período de dor aguda (logo após danificar o nervo ciático) e em casos de dor crônica. Foi identificado que o efeito da mistura foi mais prolongado comparado a outros analgésicos.

Os pesquisadores agora querem saber como a composição pode ser administrada em casos de diversas escleroses. É importante lembrar que a composição ainda deverá passar por muitos estudos antes de se tornar um medicamento disponível.