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"Será câncer?": tensão causada pela suspeita causa fantasias e medos

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Imagem: iStock

Roseane dos Santos

Colaboração para o VivaBem

04/02/2020 04h00

Resumo da notícia

  • A possibilidade de um diagnóstico mais grave (como um câncer), quando mal comunicada, pode levar o paciente a muito sofrimento emocional
  • Foi o que aconteceu com a colaborada do VivaBem, que passou um mês apavorada se as manchas no ultrassom de útero eram sinal de câncer de endométrio
  • De acordo com especialistas, é importante que o paciente saiba as possibilidades que seu médico está investigando
  • Mas isso deve ser comunicado de forma mais empática e dando a segurança de que, caso o diagnóstico seja de algo sério, ele estará bem assistido

Tenho 50 anos e como grande parte das mulheres seria comum entrar em processo de menopausa nessa idade. No mês de novembro do ano passado, a minha menstruação não veio e logo associei que era um sinal de climatério. Foi um mês marcante, de muito estresse, duas mortes de pessoas queridas em menos de uma semana, problemas em casa e bastante abalo emocional.

Bem, mas como a menstruação falhou, estava esperando sentir os tais calores que todo mundo fala. Diferente disso, comecei a sentir dores. Eram cólicas e muito mal-estar. Depois de uma semana, senti também uma dor no ovário direito —o que no meu caso sempre acontece em período de ovulação. Achei tudo estranho. Tenho miomas e já estava um tempo sem fazer a ultrassonografia, então procurei uma clínica para fazer isso antes de passar pelo ginecologista de rotina.

Durante o exame, o médico que estava fazendo o exame falou que só tinha uma coisa para me preocupar. Apareceram manchas no meu endométrio, que poderiam não ser nada, mas também poderia ser uma coisa séria. Perguntei se era estava se referindo a câncer. Ele não respondeu e falou para ir logo procurar uma ginecologista. Nesse momento, o meu emocional que estava comprometido ficou ainda mais confuso.

Por mais que a palavra não tenha sido dita, só a desconfiança é algo que traz muitas repercussões emocionais ao paciente. "A suspeita gera uma ameaça muito emocional muito grande em relação à vida, aos medos, as perspectivas de sofrimento que podem vir pela frente com um tratamento oncológico. A gente sempre tem a ideia de sofrimento e de dor relacionados ao câncer, e todas essas fantasias e representações mentais tendem a afetar profundamente a pessoa", considera a psicóloga Érica Pallotino, da Fundação do Câncer, no Rio de Janeiro.

E de fato, a menor possibilidade de um câncer já mexia com a minha cabeça. Sem plano de saúde, sem trabalho fixo, uma obra inacabada em casa, até os exames investigatórios seriam complicados de fazer.

A busca por um diagnóstico e mais incertezas

Procurei uma clínica popular e a ginecologista falou que meu endométrio além das manchas, também estava muito espesso. Falei para ela que continuava com dores e com sintomas de TPM, que sempre foram muitos fortes em mim. Ela sugeriu então que esperasse mais duas semanas para ver se menstruaria e assim refazer a ultrassonografia. Havia a possibilidade de ser sangue retido, mas a hipótese de ser câncer ainda não estava descartada.

De acordo com o oncologista Tiago Biachi, do Hospital Sírio Libanês, (SP), apesar do momento delicado, deve se ter em mente que é um direito do paciente saber quais as suas reais condições de saúde e as desconfianças do médico. "Aquele familiar que chega escondendo a notícia pode atrapalhar um pouco adiante. Até porque, ele vai precisar passar por vários procedimentos. Muitas vezes esse exame confirmatório requer uma biópsia, que é um procedimento invasivo.", alerta.

O especialista alerta, porém, a informação deve ser dada com muita cautela. Ele pontua que as pessoas são diferentes, assim também os médicos são diferentes um do outro. Uns darão essa notícia de forma mais delicada e outros de maneira mais direta. "Infelizmente essa é uma carência nas nossas universidades, se estuda muito pouco a forma de dar essas notícias. A medicina no mundo ocidental foi feita para curar pessoas e a gente vê um despreparo muito grande em noticiar coisas ruins. O importante é que o paciente fique seguro de que será bem cuidado", indica.

Se ainda é uma suspeita, tome cuidado com o Google e com quem compartilhar o tema

De qualquer modo, essa segunda consulta me fez piorar. Cheguei a recusar um trabalho em uma revista do INCA (Instituto Nacional do Câncer), porque tudo eu associava a doença. Pesquisei no Google e tudo encaixava com os "pré-requisitos" de um câncer de endométrio. Histórico familiar, níveis de estrogênio alto, estar à cima do peso, pré-diabetes.

No entanto, é sempre importante lembrar que cada caso é um caso, e a informação da internet tende a ser algo mais genérico, que pode mais assustar do que trazer algum dado aproveitável ao diagnóstico.

Mesmo interrompendo os exercícios físicos e a dieta, comecei a emagrecer. Perdi o sono e ficava com receio de fazer planos. Tinha crises de choro do nada e infelizmente não escolhi as pessoas corretas para desabafar. Escutei coisas terríveis como: "Você acha que tem o problema maior do mundo e que todo tem que se comover" e "A gente tem que se acostumar com a ideia de morte". Lógico que também recebi apoio e carinho, mas nessas horas parecem que as palavras negativas ganham um peso enorme.

É por isso que Pallotino comenta para quem estive vivendo essa situação ter cuidado ao falar dessa suspeita para pessoas não preparadas, que darão exemplos ruins, ensinaram receitas de cura ou algo do gênero. "Procure estar sempre dentro de seu ciclo de confiança, com amigos próximos ou familiares. Quem escutar seu desabafo deve ter sensibilidade para não te apavorar mais. Em casos de muita ansiedade vale buscar ajuda psicológica", finaliza.

Será que é câncer?

Começaram os enjoos. Algo comum quando estou nervosa. Como era esperada, a menstruação apareceu. Esperei quatro dias para refazer a ultrassonografia e infelizmente o resultado foi o mesmo. A médica então sugeriu uma video-histeroscopia com biópsia. Fiquei com medo de fazer, estava próximo ao Natal e minha mãe estava triste com a morte da minha tia. Pensei "nossa e se ainda der alguma coisa nesse exame". Procurei um médico que é referência no Rio de Janeiro (minha cidade) e que já conhecia.

Decidi que se era para saber de algo, saberia logo, tinha que enfrentar de frente. Só que essa força toda desapareceu na hora do exame. Chorei, fiquei tonta, mas escutei que estava tudo bem. Enquanto examinava meu útero, ele falava. "Está tudo ótimo, não tem nada demais querida. Vou mandar o material para a biópsia, mas dificilmente aparecerá alguma coisa", disse.

Voltei a respirar de novo, saí e fiz compras de Natal, era dia 19 de dezembro. O resultado da biópsia veio no dia 21 de janeiro e estava tudo normal, apenas os miomas continuam, que já me acompanham há quase vinte anos sem grandes sintomas. Nem sei como ficaria se esse médico não tivesse me tranquilizado e ainda tivesse que esperar mais de um mês naquela agonia. Fico imaginando se não tivessem apontado a suspeita de um câncer e somente encaminhassem para os exames, talvez não passasse por tanto transtorno.

A ameaça pode ser diminuída quando se tem um médico que fala com tranquilidade e oferecendo um suporte emocional. Pallotino inclusive frisa como a tensão e ansiedade pioram quando o paciente não é bem auxiliado. "Os níveis de ansiedade podem subir e com isso trazer consequências como desatenção, irritabilidade, angústia intensa, frustração, às vezes as pessoas tem até herpes, aftas, dor no estômago. Esses sintomas podem se ligar também a fantasia que isso já é um processo de adoecimento", afirma.

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