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Longevidade

Práticas e atitudes para uma vida longa e saudável


Por que fazer coisas diferentes é importante para a longevidade do cérebro

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Heloísa Noronha

Colaboração para o VivaBem

31/01/2020 04h00

Acredite: inserir experiências inéditas no dia a dia, como estudar um idioma novo, provar um prato exótico ou até mesmo aprender as regras de um jogo de tabuleiro são ações que podem gerar benefícios imensos ao seu cérebro, mantendo-o jovem e sadio por mais tempo.

É o que apontam estudos recentes, que comprovaram as consequências de mudanças no estilo de vida como fator de proteção contra o envelhecimento cerebral patológico. Segundo Adalberto Studart Neto, neurologista do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento do HCFMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), o mais emblemático é o FINGER (Finnish Geriatric Intervention Study to Prevent Cognitive Impairment and Disability), publicado na revista britânica The Lancet, em 2010.

Nesse estudo finlandês, 1.260 idosos sem demência de 60 a 77 anos foram acompanhados por dois anos, divididos em dois grupos: um de controle, em que os participantes apenas receberam orientação quanto às mudanças de hábitos, e um de intervenção, no qual os voluntários também foram inseridos em programas de readequação de estilo de vida.

Esses programas consistiam em mudança na dieta, atividade física regular, controle de fatores de risco cerebrovascular (controle de hipertensão arterial, diabetes e colesterol) e treino cognitivo. "Após dois anos, o grupo que foi submetido à intervenção apresentou menor incidência de declínio cognitivo e melhor desempenho nos testes neuropsicológicos. Esse estudo foi tão importante em mostrar o impacto da mudança no estilo de vida para o envelhecimento saudável que a Alzheimer Association está financiando a replicação desse estudo em vários países, inclusive no Brasil", comenta o neurologista.

De acordo com Fábio Porto, neurologista comportamental do HCFMUSP, aprender coisas novas ou participar de atividades diferentes estimula novas conexões —através de um processo chamado de neuroplasticidade— em regiões cerebrais envolvidas na memória e na atenção. "Essas regiões frequentemente são prejudicadas por doenças que afetam a memória e até mesmo pelo próprio envelhecimento. Assim, a estimulação constante e mantida dessas regiões poderia aumentar a reserva cognitiva", diz o especialista.

O encéfalo, centro do nosso sistema nervoso, é responsável por reter os aprendizados, constituindo o que se chama de reserva cognitiva. Ela consiste na capacidade individual de cada cérebro lidar com o envelhecimento normal e com enfermidades que normalmente ocorrem com o envelhecimento, como lesões vasculares ou doenças neurodegenerativas. "Cérebros 'treinados' ou com maior reserva toleram mais agressões, reduzindo ou postergando o aparecimento de declínios cognitivos", informa Fábio.

"Partindo desse entendimento, diversas ações como ler, jogar xadrez ou aprender um novo idioma, só para citar alguns exemplos, contribuem para aumentar a reserva cognitiva, algo que será muito útil na idade mais avançada. Havendo perda de neurônios com o passar dos anos, ela manterá uma maior longevidade na manutenção da memória, incluindo a memória recente, que é a mais afetada nas doenças degenerativas do sistema nervoso central" explica Claudio Corrêa, neurologista e coordenador do Centro de Dor e Neuro do Hospital 9 de Julho, em São Paulo (SP).

A reserva cognitiva, inclusive, refere-se à capacidade do indivíduo em manter a sua cognição preservada mesmo apresentando alterações patológicas cerebrais. "Pacientes com maior reserva cognitiva conseguem se manter sem sintomas mesmo apresentando alterações patológicas. Essa reserva é construída desde a infância, principalmente pela formação escolar, e prossegue conforme aprendemos algo novo. Hoje sabemos que pessoas com maior escolaridade apresentam maior resiliência aos efeitos deletérios das doenças neurodegenerativas", destaca Adalberto Neto.

Portanto, a capacidade de plasticidade cerebral é mantida em todas as idades, mesmo que de maneira menos intensa com e envelhecimento cerebral. E mais: estímulos cognitivos podem reduzir o risco ou postergar o aparecimento de condições como Alzheimer e demência por lesões vasculares, além de ajudar na prevenção de depressão, câncer e AVC (Acidente Vascular Cerebral).

O que aprender?

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Existem várias possibilidades, desde aprender a dançar, se dispor a estudar um idioma diferente e até investir em jogos e atividades que contemplem o raciocínio, como palavras cruzadas e exercícios matemáticos. O mais importante, porém, é que a pessoa se sinta à vontade com a prática e que goste de fazê-la.

"Eu sempre recomento aos pacientes que achem algo que gere uma sensação de prazer ou recompensa. Atividades prazerosas são mais facilmente mantidas ao longo do tempo. Aconselho, especialmente, atividades em grupo ou em que exista interação social, outro fator bastante importante para manter o cérebro são conforme a idade vai avançando. O ideal é evitar ficar sempre na mesma rotina", indica Porto.

"Porém, há que se ter em mente que o que é estimulante para alguns não o é para outros", salienta Natan Chehter, geriatra pela SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia) e membro do corpo clínico da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Experimentar comidas exóticas e viajar para destinos fora das rotas convencionais também são boas ideias, pois novos estímulos precisam ser interpretados e lembrados, o que gera aprendizado. Costumes, amizades e ambientes diferentes sempre irão contribuir para estimular sinapses e para o "aumento" da reserva cognitiva.

"O hipocampo, estrutura cerebral fundamental para registrar a memória de novas experiências, fica localizado em uma parte do cérebro chamada de sistema límbico. E nesse mesmo sistema límbico, há outras estruturas importante para nossas emoções, como as amígdalas. Como as lembranças prazerosas são mais facilmente lembradas do que as ruins, apostar em experiências novas e gratificantes também é uma ótima maneira para estimular a memória", fala Studart Neto.

Existem correntes que preconizam mudar a maneira habitual de fazer certas coisas —trocar a mão na hora de escovar os dentes ou fazer um trajeto diferente para o trabalho, por exemplo— mas isso tem uma ação mais eficaz, conforme explica o neurologista Claudio Corrêa, apenas se a pessoa precisa desenvolver um lado menos operante, tal como ocorre em lesados que perdem a ação no membro dominante.

"Nesse caso, a neuroplasticidade irá permitir uma adaptação progressiva de um membro outrora inoperante para atividades como escrever", pontua. "Naqueles com comprometimento cognitivo, mudar os hábitos pode piorar eventuais confusões na realização das atividades da vida diária. Mais interessante é aprender novas atividades e novos conhecimentos, não sendo necessário mudar hábitos pré-existentes", completa Adalberto Neto.

Quanto antes você começar a estimular o cérebro com novidades, melhor; se esforçar para manter esse hábito ao longo da vida, melhor ainda. "Um cérebro já acostumado com o aprendizado constante sempre terá melhores condições, tal como um jovem estudando um novo idioma certamente sentirá maior facilidade do que uma pessoa na terceira idade, na maioria dos casos", observa Correâ.

Atividade física potencializa benefícios

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A combinação de atividade física com estimulação cognitiva fazem a pessoa evoluir tanto do ponto de vista funcional, quanto em qualidade de vida —e isso independente da faixa etária. "Praticar exercícios tem relação com a melhora da cognição tanto em pacientes saudáveis quanto naqueles que sofrem de algum problema de memória, como Alzheimer, e pode ajudar a revigorar a saúde mental de modo a atrasar o aparecimento de alguma das doenças relacionadas ao envelhecimento", afirma Chehter.

Atividades que estimulem a cognição, conforme o geriatra, também permitem maior funcionalidade e independência nos idosos que já têm algum tipo de demência. "E ajudam no estágio anterior à doença, chamado de comprometimento cognitivo leve", completa.

É válido ressaltar que, para que haja real estímulo, seja na mente ou no corpo, é necessário algum grau de desafio. Ou seja: simplesmente repetir as mesmas atividades do dia a dia ou modificá-las de forma muito discreta não oferecem substrato para uma melhora de funcionamento neural ou muscular.

As respostas aos estímulos acontecem porque o corpo "entende" como se adaptar a novas situações. "Isso independentemente da idade, embora ela seja um fator que influencie no 'teto' do ganho e na velocidade em que se pode atingi-lo. É fácil observar numa academia de ginástica, por exemplo, que o esforço repetitivo para levantar uma determinada carga leva à adaptação muscular, tornando o exercício progressivamente mais fácil. Da mesma ocorre com nossos neurônios e as conexões entre eles, as sinapses. Assim, pode-se dizer que o treino de forma periódica é um estimulante e que com ele se pode atingir bons resultados", argumenta Chehter.

Para Rubens Gagliardi, presidente da APAN (Associação Paulista de Neurologia), o sono também é um fator importantíssimo para manter o cérebro ativo, saudável e longevo. "Por isso ressalto a importância da atividade física em qualquer fase da vida. Praticar exercícios não só melhora uma série de aspectos no fluxo e na atividade cerebral como favorece o sono de qualidade", conta o médico, que também atua como chefe da clínica neurológica da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e como professor titular de Neurologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

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Entrada: gratuita