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Não é tão fácil assim engravidar: até os 30 anos, chances não passam de 20%

Imagem: Getty Images

Gabriela Ingrid

Do VivaBem, em São Paulo

29/01/2020 04h00

Tenho certeza que você, que usa algum método contraceptivo, seja ele a pílula ou a camisinha (ou ambos), já ficou com medo de engravidar. Afinal, parece que é algo que ocorre com muita frequência, pelo menos é o que reparamos ao andar por aí —quantas barrigas você viu hoje? Mas se você é do time "não quero engravidar agora", saiba que, não, não é tão fácil assim ficar grávida.

As chances de engravidar de uma mulher com menos de 30 anos, que tem ciclos menstruais regulares e relações sexuais todos os dias por um ano, fica entre 15 e 20% ao mês Isso quer dizer que, a cada 10 mulheres, apenas duas engravidariam.

E para as "sortudas", essa gravidez ainda pode levar um tempo para acontecer. Segundo um estudo de 2003, publicado no periódico Human Reproduction, para um casal fazendo sexo desprotegido, isso geralmente demora seis meses. Se após um ano tentando os testes derem negativo, o casal é considerado infértil.

As dificuldades começam antes mesmo de os espermatozoides entrarem no útero Imagem: iStock

Por que as taxas são baixas?

Para entender o que está por trás dessas estatísticas relativamente baixas em torno de uma gravidez, é preciso entender como funciona, de fato, a fecundação e, principalmente, o organismo da mulher.

Na série "Explicando... O Sexo", da Netflix, os especialistas em fertilidade comparam o corpo feminino a um labirinto. O encontro entre o espermatozoide e o óvulo só dará certo se ocorrer na janela (ou melhor, no caminho) correto.

Após a ejaculação, os espermatozoides se encontram na vagina. Antes de entrarem no útero, o colo, que funciona como uma espécie de "guardião", bloqueia a passagem de quase 99,9% deles. Imagine que essa decisão de quem entra e quem sai é menos parecida com o Tinder e mais com a vida real. Não é uma seleção entre o mais rápido ou o mais forte, e sim uma tentativa de excluir os "anormais" (cabeças com formatos estranhos ou duas caudas, por exemplo).

E esse processo tem que ocorrer rapidamente. Os espermatozoides duram apenas uns três dias no canal vaginal e o óvulo só dura cerca de oito horas depois da ovulação.

O encontro entre os espermatozoides e o óvulo na trompa uterina, também chamada de trompas de Falópio Imagem: iStock
Após entrarem no útero, eles então são impulsionados pelas contrações uterinas até as trompas. Lá, eles esperam a gloriosa entrada do óvulo. Quando isso finalmente ocorre, os espermatozoides nadam freneticamente, chegando a 48 km/h, até se prenderem a ele. Por fim, um sortudo consegue entrar. E já que estamos falando em estatísticas, apenas um em 250 milhões consegue entrar no óvulo.

Agora que você já sabe o que tem que acontecer, aqui vão os obstáculos do tal "labirinto". Primeiro, os ovários podem não produzir um óvulo, por causa de algum desequilíbrio hormonal. Segundo, se o óvulo for realmente liberado, mais de um espermatozoide pode fecundá-lo, o que reduz as taxas de sobrevivência do embrião.

Além disso, os espermatozoides podem simplesmente não chegar até o óvulo. Alterações no útero ou na trompa funcionam como obstáculos para essa locomoção. Por fim, se a fecundação ocorrer, o óvulo fecundado precisa descer para se aninhar no endométrio, que também pode estar comprometido.

Menos espermatozoides e baixa qualidade

Até agora, só o formato estranho dos espermatozoides foi citado, mas os homens também têm seu papel nas dificuldades em engravidar. O principal problema é justamente a quantidade de espermatozoides que são soltos no mundo: quanto menor esse número, menores as chances de fecundação. O assustador é que essa quantidade tem ficado cada vez menor, pelo menos em algumas partes do mundo.

Um estudo de 2017 publicado no periódico Human Reproduction Update revelou que a contagem média de esperma tem caído ao longo dos anos. Os cientistas descobriram que nos Estados Unidos, Europa, Austrália e Nova Zelândia, a contagem era de 99 milhões/ml em 1973 e caiu para 47 milhões/ml em 2011. Já na América do Sul, Ásia e África, as contagens, que começaram a partir de 1986, eram de 72,7 milhões/ml e reduziram para 62,6 milhões/ml em 2020 —para os pesquisadores, isso não é uma diminuição considerável.

Segundo uma pesquisa de 1998, publicada no The Lancet, quando as contagens são de até 40 milhões, as chances de engravidar em um mês aumentam. O problema existe quando ela é de 15 milhões. As causas? Anabolizantes, exposição a pesticidas e até o tipo de cueca diminuem a quantidade de esperma.

Mas o problema maior, na verdade, é a qualidade do esperma, que diminui ao longo dos anos. Além de se perderem com mais facilidade no labirinto feminino, o esperma mais velho acumula mutações que podem chegar até o bebê.

Em 2017, um estudo publicado na Nature mostrou que quanto mais velho o pai, maior a chance que ele transmita alterações no genoma aos filhos. Em média, a cada ano, um homem acumula 1,51 nova mutação em seus espermatozoides.

As chances são de um em 250 milhões de um espermatozoide conseguir entrar no óvulo Imagem: iStock

A perda de óvulos

As células germinativas de ambos os sexos são produzidas ainda no período fetal, na barriga da mãe. Lá elas escolhem se virarão testículos ou ovários. Enquanto as que escolhem virar testículos ficam se dividindo, produzindo espermatozoides pelo resto da vida do homem, as que escolhem os ovários se mantêm. Isso significa que as mulheres produzem óvulos imaturos uma única vez na vida (geralmente quando atingem a sexta semana da gestação), enquanto os homens ganham espermatozoides novos até a velhice.

Os números são um pouco assustadores para elas. Um feto de 20 semanas, por exemplo, tem cerca de sete milhões de óvulos. Uma recém-nascida tem dois milhões. Na puberdade, de 300 a 400 mil. E assim vai, perdendo óvulos e mais óvulos ao longo da vida. Uma vez por mês, um óvulo é liberado e mais ou menos mil morrem. É por isso que as mulheres têm dificuldade de engravidar quando se aproximam dos 40 anos, chegando aos 50 praticamente sem óvulos.

A chance de engravidar quando se tem entre 36 e 37 anos cai para 15%; aos 38 e 40 anos, é 10%; após essa idade, a chance é ínfima, não chegando a 1%. Além da quantidade de óvulos ser bem menor, assim como o que ocorre com os homens, a qualidade deles também diminui, prejudicando a fertilização. Na menopausa, essa fonte se esgota.

As mudanças socioculturais no mundo fizeram a gravidez se tornar um plano tardio, pelo menos para uma parte das pessoas. Não à toa, a idade em que há mais procura pelo congelamento de óvulos é 37 anos. As mulheres que têm esse poder de escolha, decidem "adiar" esse esgotamento. Quando o óvulo é congelado, as chances de engravidar são as mesmas da idade que a mulher tinha quando optou pelo método.

Além desse procedimento, também é muito utilizada a fertilização in vitro. As taxas de gravidez, nesse caso, são maiores do que tentar sem a ajuda da tecnologia, subindo para quase 60%. Isso porque o embrião já é colocado "pronto" dentro da mulher. Mas não é 100% porque esse embrião deve evoluir sozinho e aderir à parede do útero. O caminho para sair do labirinto, entretanto, já está praticamente revelado.

Fontes: Carolina Curci, médica especializada em ginecologia e obstetrícia na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e pós-graduada em medicina reprodutiva; Karina Tafner, ginecologista e obstetra especialista em endocrinologia ginecológica e reprodução humana pela Santa Casa e especialista em reprodução assistida pela Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).

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