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Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Problemas bucais que podem ser desencadeados ou agravados pelo estresse

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Daniel Navas

Colaboração para o VivaBem

19/12/2019 04h00

Com a vida corrida, fica um pouco difícil não se sentir estressado por alguns dias. E por mais que isso seja comum atualmente, o estresse, quando se torna rotineiro, pode trazer prejuízos inclusive para a saúde bucal.

Isso porque, em situações em que o nervosismo se torna crônico, o corpo é mantido em modo de "luta ou fuga" constantemente e passa a economizar energia ao desligar certas funções, como a produção de saliva. A diminuição do fluxo salivar é a principal causa de várias doenças ou alterações bucais. Além disso, indivíduos com altos níveis de estresse tendem a adotar hábitos inadequados de higiene oral e estilo de vida que podem ter um impacto negativo na saúde da boca, o que leva ao desenvolvimento de diversas doenças, como as que listamos a seguir.

Halitose

A região oral é composta por bactérias que têm como uma das funções metabolizar os restos de alimentos e as células mortas, e o resultado desse trabalho é a produção de compostos voláteis de enxofre, responsáveis pelo mau hálito. E quanto mais seca a boca —que pode acontecer quando se está estressado—, maior o crescimento das bactérias, e consequentemente, as chances de desenvolver a halitose.

Além disso, a saliva em quantidade ideal contribui para lavar e remover partículas de alimentos da boca. Portanto, a redução do fluxo salivar também pode resultar em um maior acúmulo de partículas de alimentos na boca, as quais podem levar ao mau hálito após serem decompostas por bactérias. Para tentar corrigir esse problema, além da higienização dos dentes e língua com creme e fio dental e o uso de enxaguante bucal, é indicado beber bastante água ao longo do dia (para aumentar a produção de saliva), ou utilizar as chamadas salivas artificiais, que são vendidas em farmácias.

Gengivite

A doença, causada pelo acúmulo de placa bacteriana que leva à inflamação da gengiva ao redor dos dentes, pode ser agravada pelo estresse. Isso porque o aumento dos níveis do hormônio cortisol durante períodos de estresse leva à queda do sistema imunológico do corpo, tornando-o mais suscetível às doenças infecciosas, incluindo a gengivite.

O tratamento da doença é de extrema importância para o controle da infecção bacteriana. Por isso, é indicado a consulta com um dentista e, claro, evitar períodos de estresse. Caso nenhuma das duas dicas forem seguidas, a gengivite pode evoluir para a periodontite, uma forma mais grave e irreversível da doença, que leva à perda do osso ao redor dos dentes e que, eventualmente, pode acarretar na queda da dentição.

Afta

Afta, ferida na boca - iStock - iStock
Afta dói e incomoda muito, né?
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Pesquisas recentes apontam que 38% das pessoas com estresse, ansiedade, depressão, ou solidão podem ter aftas recorrentes, que são aquelas pequenas úlceras superficiais, geralmente esbranquiçadas ou amareladas, com um contorno avermelhado, que se desenvolvem nos tecidos moles da boca. São recorrentes, porque aparecem e, após uma semana a 10 dias, se curam, mas voltam e esse ciclo se mantém.

E essa relação se dá pela junção do aumento nos níveis do cortisol salivar —por conta do estresse— aliado ao crescimento do número e atividade das células inflamatórias, o que desencadeia o aparecimento das dolorosas aftas. A longo prazo, essas pequenas úlceras não trarão nenhum efeito grave local, além da dor e uma possível cicatriz na mucosa. Porém, pode ser necessário investigar se existe algum problema no sistema imunológico ou alguma doença sistêmica que possa estar causando o surgimento constante de aftas.

Cáries

O estresse contribui na redução da saliva, além de comprometer a resistência do indivíduo às bactérias, inclusive aquelas causadoras de cáries, o que aumenta o número desses microrganismos na boca. E como as bactérias são responsáveis pela produção de ácido a partir da quebra do açúcar dos alimentos, nas condições citadas, elas permanecem por maior tempo dissolvendo os minerais dos dentes, toda vez que o açúcar é ingerido, o que irá destruir lentamente a estrutura mineral dos dentes. Assim, pessoas com estresse crônico podem desenvolver mais lesões de cárie e num tempo menor se comparadas àquelas que não estão estressadas.

Se o problema não for tratado e o estresse permanecer crônico, a cárie pode progredir e causar dor nos dentes, comprometimento do nervo, formação de abcessos e até mesmo a possível perda dentária. Por isso, é necessário procurar um cirurgião dentista, manter uma boa higienização bucal e evitar a ingestão excessiva de alimentos ricos em açúcar, como doces e carboidratos.

Síndrome da Boca Ardente

Difícil de diagnosticar, a SBA tem como sintoma a ardência da boca a todo momento, ou seja, da hora que acorda até o momento em que vai dormir. A principal causa da doença é a secura bucal. E a falta de saliva é exatamente uma das respostas ao estresse crônico, assim como é o efeito colateral do uso de antidepressivo e ansiolíticos.

Para tratar a Síndrome da Boca Ardente, além de evitar picos de exaustão mental, é indicado a laserterapia, em que uma quantidade de laser é determinada pelo cirurgião dentista a fim de aliviar os sintomas extremamente desconfortáveis e que associados ao nível de estresse do paciente, leva a um ciclo difícil de interromper, que causam a ardência na boca.

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VivaBem

Fontes: Cristina Cunha Villar, professora na disciplina de periodontia da Faculdade de Odontologia da USP (Universidade de São Paulo); Daniel Villela Gorga, cirurgião bucomaxilofacial do corpo clínico dos hospitais Sírio Libanês, HCor e São Luiz, todos em São Paulo; Erica Negrini Lia, professora associada do Departamento de Odontologia da Faculdade de Ciências da Saúde da UnB (Universidade de Brasília); Fabiana Quaglio, cirurgiã dentista, especialista em estomatologia e consultora científica da ABO/SP (Associação Brasileira de Odontologia / São Paulo); Fernanda Klein Marcondes, professora de fisiologia e biofísica da FOP-UNICAMP (Faculdade de Odontologia de Piracicaba da Universidade Estadual de Campinas); Jaime Cury, professor titular de bioquímica e cardiologia da FOP-UNICAMP; Patrícia Verónica Aulestia Viera, dentista no HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e especialista em cirurgia e traumatologia bucomaxilofacial; Renato Corrêa Viana Casarin, professor de periodontia da FOP-UNICAMP e Sérgio Gonçalves, médico e cirurgião dentista, especialista em cirurgia de cabeça e pescoço e cirurgia bucomaxilofacial pelo Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo e cirurgião de cabeça e pescoço da Clínica Maxilart, em São Paulo.