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Caçadores do vírus da gripe: os cientistas que ajudam a criar novas vacinas

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Imagem: gevende/iStock

Fábio de Oliveira

Agência Einstein

23/11/2019 11h57

Eles estão espalhados ao redor do planeta. Enclausurados em laboratórios sentinelas, têm a função de analisar amostras colhidas de pacientes em estado gripal (com sintomas como febre, congestão, calafrio, fadiga e dores musculares) ou com síndrome respiratória aguda grave, um estágio mais perigoso.

"É uma coleta sistemática de material", explica Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBim). Esses especialistas poderiam ser chamados de caçadores de vírus, no caso o Influenza, responsável pela gripe. O bê-á-bá do micro-organismo compreende os tipos A, B e C. "Para os seres humanos, os mais importantes são o A e o B", diz o médico Alfredo Elias Gilio, coordenador da Clínica de Imunizações do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. Ou seja, são os que mais nos atingem.

Depois de capturados, seguem para centros de referência, como o Instituto Adolpho Lutz, em São Paulo, onde são analisados. É graças a esse trabalho que se obtêm informações sobre os tipos do micro-organismo que estão em maior circulação nos Hemisférios Norte e Sul.

O resultado da varredura chega à Organização Mundial de Saúde, que coordena essa rede de laboratórios e faz uma previsão dos vírus que serão predominantes no inverno do ano seguinte. Daí, estabelece a composição das vacinas que serão oferecidas.

A nova recomendação para o imunizante a ser disponibilizado no Hemisfério Sul em 2020 foi divulgada recentemente, ou seja, bem antes da estação das baixas temperaturas. A antecedência se justifica porque milhões de doses têm de ser fabricadas para atender a demanda global.

As vacinas trivalente, que trazem três cepas virais (duas do A e uma do B), e quadrivalente, que, como o nome entrega, contém quatro cepas (duas do A e duas do B), sofrerão alterações em relação às que foram indicadas para 2019. "São sempre duas cepas do tipo A porque ele é o mais frequente", conta Alfredo Elias Gilio. Há épocas em que não há mudança no imunizante. Mas os vírus da gripe são mutantes por natureza. Eles têm na sua superfície duas proteínas, a hemaglutinina e a neuraminidase.

É por isso que são batizados com as letras H e N, caso do H1N1, que foi responsável pela última grande epidemia, em 2009. "Essas proteínas são importantes para o vírus entrar numa célula, replicar-se e infectar outras unidades celulares", explica Gilio. Para escapar das defesas do organismo, o micro-organismo pode alterar essas proteínas. Eis o motivo de se modificar a composição do imunizante em determinados anos.

Há uma década, o H1N1 vem sendo mantido nas vacinas. Isso porque ele responde por 50% dos casos graves. É preciso renovar a proteção contra a gripe a cada doze meses. É que os anticorpos contra os vírus vão decaindo ao longo do tempo.

"Diferentemente de outras, a vacina da gripe não mantém contínua a produção de anticorpos para a vida toda", conta Gilio. Por essa razão, a ciência busca imunizantes que têm como alvos componentes mais estáveis do vírus - o que não é o caso das proteínas hemaglutinina e a neuraminidase. Assim, não seria preciso mudar seu conteúdo. "E se conseguirmos chegar a uma vacina que faça os anticorpos perdurarem, matou-se a charada de vez", diz o especialista.

Pessoas acima dos 60 anos, crianças de 6 meses a 5 anos, gestantes, pacientes com doenças crônicas (cardíacas, renais, pulmonares e metabólicas, incluindo diabetes) e indivíduos com a imunidade comprometida são considerados grupo de risco e precisam se imunizar. A história de que a vacina causa gripe é falácia.

As usadas no Brasil só têm vírus inativados e fracionados. Em outras palavras, mortos. Um eventual espirro pode ser consequência de um resfriado, que não tem nada a ver com gripe. Eles, os resfriados, têm como causa mais de 150 vírus diferentes e nenhum deles é o Influenza.

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