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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Saiba mais sobre as doenças inflamatórias intestinais

As doenças inflamatórias intestinais se dividem em doença de Crohn e retocolite; ambas são consideradas doenças autoimunes - iStock
As doenças inflamatórias intestinais se dividem em doença de Crohn e retocolite; ambas são consideradas doenças autoimunes Imagem: iStock

Fábio de Oliveira

Agência Einstein

11/11/2019 11h19

Nos Estados Unidos, estima-se que as s doenças inflamatórias intestinais (ou DIIs) tenham um custo anual chegue a 20 bilhões de dólares. "É quase nosso orçamento da saúde", diz o gastrenterologista Jaime Zaladek Gil, da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein. Não há uma estatística sobre a incidência do problema entre os brasileiros, mas os especialistas têm visto o aumento do número de casos. "Na prática no dia a dia, constatamos um maior número de pessoas com essa queixa nos consultórios e no serviço público", diz Gil. Da mesma forma, tem havido um crescimento na procura de medicamentos para esses males nas operadoras e no SUS Sistema Único de Saúde, o SUS.

As chamadas doenças inflamatórias intestinais se dividem em duas: a doença de Crohn e a retocolite. A primeira atinge todo o trato digestório. Já a segunda acomete basicamente o intestino grosso. "Elas podem ser consideradas doenças autoimunes", explica o gastroenterologista do Einstein. Em outras palavras, são o resultado de quando as defesas atacam o próprio corpo. Mas há outros fatores que entram em jogo. O estresse, por exemplo, pode piorar o quadro de quem sofre com esse tipo de enfermidade.

As doenças inflamatórias intestinais geralmente surgem na passagem da puberdade para a idade adulta. Ou seja, é um problema de gente jovem. O pico mais tardio acontece por volta dos 30 e dos 40 anos. Alguns sintomas são comuns aos dois, como diarreia, presença de sangue nas fezes, perda de peso. Sem contar, muitas vezes, a dor abdominal. Dor e sangramento são mais frequentes na retocolite. No caso da doença de Crohn, além da sensação dolorosa, às vezes ocorre também distensão abdominal. E o processo inflamatório pode afetar a microbiota, os micro-organismos que povoam o intestino. As bactérias danosas acabam proliferando.

Identificar uma DII, descreve Gil, é como se deparar com um quebra-cabeça. São realizados vários exames: de imagem, como tomografia ou ressonância magnética, colonoscopia, além de biópsia. O quadro clínico do paciente também é avaliado. "Às vezes, não se chega a um diagnóstico", diz o médico. Mas, quanto mais cedo ele for realizado, melhor. Daí o especialista e quem tem o problema decidem pelo tratamento mais adequado.

Novo tratamento

Existem vários medicamentos disponíveis: imunossupressores que evitam o ataque das células de defesa contra o intestino e drogas que bloqueiam a atividade de moléculas por trás da inflamação, entre outras. "O mais importante é manter o paciente sem inflamação", informa Gil. Essa estratégia evita o risco de complicações que podem demandar uma intervenção cirúrgica ou até mesmo virar a origem de um câncer intestinal. Além, é claro, de manter a qualidade de vida da pessoa.

Nesta área, a novidade foi a aprovação recente do ustequinumabe, da Janssen-Cilag Farmacêutica. Ele foi aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para o tratamento de retocolite ulcerativa moderada a grave. É um anticorpo monoclonal, ou seja, tem como alvo moléculas específicas. Ele já era empregado na doença de Crohn. O sinal verde teve como embasamento um estudo que avaliou pacientes que não respondiam de forma apropriada a corticoides, imunossupressores e outros medicamentos biológicos. A conclusão da pesquisa mostrou que 43,8% dos pacientes que usaram o ustequinumabe mantiveram a remissão da retocolite ulcerativa até a semana 44 do estudo comparados com o grupo que se valeu de uma substância inócua (placebo). Ao final de um ano de tratamento, 97% dos pacientes em remissão clínica não precisavam mais recorrer a corticoides. "Estamos seguindo uma tendência mundial", diz Jaime Gil. Isso porque a droga já estava liberada lá fora para essa indicação.

Pesquisadores da Case Western Reverse University Shcool of Medicine, nos Estados Unidos, identificaram um novo caminho no sistema imune ativado na doença de Chron que pode possibilitar novos tratamentos. O estudo durou três anos e mirou na inflamação crônica que ocorre em pessoas geneticamente suscetíveis ao problema. Os cientistas investigaram a interação entre uma classe de proteínas, o fator de necrose tumoral (TWEAK em inglês), e seus receptores celulares, os chamados Fn14. O objetivo foi ver como eles desempenham um papel duplo na enfermidade: protegem o intestino do processo inflamatório agudo e crônico, mas também podem acioná-lo. Essa interação tem sido estudada por cerca de duas décadas, mas o time da Case Western foi o primeiro a descrever sua sinalização na doença de Crohn. "Durante o início da inflamação, eles ficam ativados para curar o dano no tecido", disse Fabio Cominelli, líder do trabalho. "No entanto, depois, na inflamação crônica, níveis elevados e duradouros de Fn14 podem levar a um processo inflamatório patológico e fibrose."

Para entender melhor esse elo com a inflamação crônica, os pesquisadores utilizaram roedores criados para desenvolver a condição e, em seguida, os receptores Fn14 foram geneticamente deletados. Os animais nesse último grupo apresentaram menos inflamação severa. Os demais ficaram com o intestino persistentemente inflamado e com cicatrizes. Para ver se a descoberta nos ratos teria a ver com o mal em seres humanos, o time se valeu de um diagnóstico molecular para analisar amostras do tecido intestinal de pacientes com e sem DII. Os resultados mostraram uma expressão além da conta do duo TWEAK/Fn14 nos indivíduos com doença de Crohn. Cominelli acredita que o bloqueio do Fn14 com novas drogas ou anticorpos pode melhorar o quadro da doença.

Já cientistas do Mount Sinai School of Medicine, também nos Estados Unidos, mapearam mais de 100 mil células imunes de pacientes com a enfermidade. Eles identificaram unidades celulares envolvidas em um tipo do problema que não responde ao tratamento com os inibidores de TNF. Com o achado em mãos, o próximo passo é pesquisar a possibilidade de um teste de sangue capaz de flagrar esse padrão em pacientes diagnosticados com DII.