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Alimentos gordurosos não são uma boa ideia nos dias quentes

Está muito quente? Então é melhor evitar comer uma feijoada no almoço - iStock
Está muito quente? Então é melhor evitar comer uma feijoada no almoço Imagem: iStock

Sibele Oliveira

Colaboração para o VivaBem

31/10/2019 04h00

Resumo da notícia

  • O mal-estar que sentimos no calor pode ser consequência da alimentação
  • Para manter a temperatura do corpo, o processo de digestão fica mais lento
  • Alimentos gordurosos, industrializados e com muitos condimentos ficam mais tempo no estômago
  • Verduras, legumes e frutas são as melhores opções quando a temperatura está alta
  • Bebidas alcoólicas em excesso podem causar desidratação

Quando o calor é exagerado, muita gente reclama de dor de cabeça, tontura, sonolência, fraqueza, cansaço, falta de energia, pressão baixa, indisposição, suor excessivo e desidratação. Mas será que esse mal-estar todo pode estar relacionado à alimentação? A resposta é sim! Só que antes de entender a relação entre uma coisa e outra, é importante saber o que acontece no organismo nas estações mais quentes do ano.

De forma inteligente, nosso corpo trabalha para manter a temperatura em torno dos 36ºC. Se o dia estiver muito quente, o organismo lança mão de meios para diminuir o calor, como o suor, que faz com que a gente perca água e sais minerais, e a vasodilatação, que leva o sangue a circular mais na região da pele. A digestão mais lenta é outro mecanismo usado para manter a temperatura interna.

Isso porque quando um alimento chega ao estômago, o processo de digestão exige que o sangue circule mais pelo órgão. "Num dia quente, o sangue tem que estar circulando para promover a regulação térmica, por isso ele pode ser menos efetivo na circulação gástrica", explica Celso Cukier, médico nutrólogo do Hospital Albert Einstein.

Ou seja, o esvaziamento do estômago demora mais tempo para acontecer. É por isso que comidas "pesadas" não são indicadas quando enfrentamos uma onda de calor, porque elas ficam paradas no estômago. Quando o clima está assim, devemos evitar alimentos gordurosos e receitas preparadas com muitos condimentos, que podem causar desconforto abdominal, cólicas e mal-estar. Portanto, carnes gordurosas, frituras, molhos, pratos à milanesa e alimentos industrializados devem sair do cardápio quando o sol está forte.

E o que faz bem?

O ideal é que esses alimentos sejam substituídos por verduras, legumes, frutas, cereais integrais, frango, peixes e frutos do mar. "A regra de ouro é dar preferência sempre a alimentos in natura e minimamente processados", orienta a nutricionista Adriella Camila Furtado, mestre em alimentação e nutrição pela UFPR (Universidade Federal do Paraná).

Salada de frutas em pote de vidro - kirin_photo/Istock - kirin_photo/Istock
Que tal apostar numa salada de frutas quando estiver muito calor?
Imagem: kirin_photo/Istock

Alimentos frescos e ricos em água, vitaminas e minerais, como a melancia, o abacaxi, a laranja e a abobrinha italiana, além de nutrir, ajudam a hidratar o corpo e facilitam a digestão. Por esse motivo, eles podem e devem estar presentes de forma abundante nas refeições. Da mesma forma que as saladas. Isso não significa cortar os seus pratos preferidos, mas optar por versões mais saudáveis. Se você gosta de sopas, por exemplo, prefira as feitas com legumes.

Se você é daquelas pessoas que perdem a fome quando a temperatura sobe, não se preocupe se não tiver apetite para uma comida tradicional. Procure ouvir o seu corpo. "É importante ter essa percepção do que o corpo está pedindo. Quando a pessoa não tem tanta fome, deve buscar formas de energia para hidratá-lo melhor", afirma Cukier. Como as frutas são ricas em carboidratos, esse nutriente não ficará em falta no organismo. E não há problema em não ingerir proteínas em uma ou outra refeição, pois o corpo tem uma reserva delas.

Algumas pessoas sentem um desconforto quando comem demais nos períodos mais quentes do ano. Se a quantidade de alimentos for muito grande, o estômago que já está trabalhando devagar fica ainda mais lento. E a digestão demora mais. Por isso não se deve comer tanto. Comidas e bebidas quentes também podem causar um incômodo porque aumentam a transpiração e a sensação de calor. É bom evitar.

O corpo pede água

Ela é mais importante do que você imagina, principalmente quando o calor é tamanho que temos a sensação de estar num forno. Ou quando sentimos a secura na pele. Como ocorre uma perda maior de água e sais minerais pelo suor, a reposição de líquido é a melhor forma de se proteger de uma desidratação. Lembrando que quando a sede aparece, esse processo já começou. E que nem todas as bebidas são eficientes para manter o corpo hidratado.

A água é sempre bem-vinda nessa tarefa. Mas não só ela. Por conter sais minerais, a água de coco é excelente para repor o líquido que perdemos no calor. Assim como as bebidas isotônicas (compostas por sódio, carboidratos, potássio, vitaminas e minerais). A única ressalva é ingeri-las com moderação, por causa do carboidrato, que em excesso não é uma boa ideia para quem não quer engordar. Chá gelado também é uma boa opção.

Já os sucos naturais sempre são uma escolha inteligente, porque além de hidratar, causam a sensação de saciedade. Não se pode dizer o mesmo das bebidas artificiais. "Ainda que refrigerantes e vários tipos de bebidas adoçadas possuam alta proporção de água, por conterem açúcar ou adoçantes artificiais e vários aditivos, não podem ser considerados fontes adequadas para hidratação", afirma Furtado.

verduras; receita - iStock - iStock
As verduras também são ótima opção para os dias muito quentes
Imagem: iStock

Também devemos tomar cuidado com as bebidas alcoólicas. "O álcool pode promover uma desidratação naturalmente. E se a gente não se hidratar, vai sofrer um processo de desidratação mais intenso. Pode ter uma queda de pressão, dor de cabeça, fraqueza, tontura e até mesmo um desmaio porque perdeu muito calor", enfatiza Cukier. Mas isso só acontece com quem exagera. Tomar uma caipirinha ou uma cerveja não faz ninguém passar mal. A dica é alternar bebidas alcoólicas com água, que ajuda na hidratação.

Como o nosso corpo perde mais líquido no calor, o ideal é aumentar o consumo das bebidas benéficas. A regra, para qualquer época do ano, é ingerir 30 ml por quilo (do nosso peso). Cukier aconselha a fazer esse cálculo e aumentar a ingestão em 20% nos dias quentes. Mas não precisamos obter esse total somente com as bebidas, já que vários alimentos contêm água. Ele sugere beber algo toda vez que fizer xixi e sempre ter uma garrafinha de água ou suco por perto.

Redobre o cuidado com o que vai comer

Camarão, petisco na praia - iStock - iStock
Atenção se for optar por comer camarão quando estiver na praia
Imagem: iStock

Ficar no sol pode ser uma delícia, mas é um perigo para quem vai consumir ovos, molhos, alimentos crus como o sushi, e petiscos que são vendidos na praia ou na rua, como camarões fritos, casquinha de siri, queijo coalho, espetinhos, batata-frita e sorvete de massa. É importante saber a procedência desses alimentos para não correr o risco de desenvolver doenças graves por contaminação alimentar, como infecção intestinal.

Os cuidados no preparo e na conservação são necessários porque no calor os vírus, bactérias e parasitas se proliferam mais rápido, principalmente ao ar livre. E como esses micro-organismos não são vistos a olho nu, podemos comer algo contaminado sem saber. Até a água de coco pode representar um risco à saúde se a faca que vai abrir a fruta estiver contaminada. Portanto, presente atenção na higiene e nos locais onde os alimentos são armazenados.

E sempre que for para ambientes abertos, prefira levar alimentos de casa. Escolha os mais nutritivos e os que não estragam facilmente, como as frutas, legumes como pepino e cenoura, frutas secas como castanha de caju, nozes, amêndoas e castanha-do-pará, e picolés. Mas não se esqueça de transportá-los numa bolsa térmica.

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