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Em camundongos, dieta rica em sal piora memória e causa falta de atenção

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Imagem: iStock

Do VivaBem, em São Paulo

26/10/2019 10h07

Resumo da notícia

  • Pesquisa sugere que uma dieta rica em sal pode promover declínio cognitivo em camundongos e demência em humanos.
  • Os baixos níveis de óxido nítrico induzidos pelo sal afetam os níveis de proteína tau --o acúmulo dessa proteína é uma característica do Alzheimer.
  • No entanto, segundo os autores, o sódio que é ruim para os humanos não vem de um saleiro, mas de alimentos processados e fast food.

Uma dieta rica em sal promove declínio cognitivo em camundongos, de acordo com um estudo publicado no periódico Nature na quarta-feira (23). A descoberta é importante para prevenir a perda de memória em humanos. Segundo os cientistas, a pesquisa sugere que evitar a ingestão excessiva de sal pode ajudar na prevenção de doenças neurodegenerativas em idosos, inclusive o Alzheimer.

A relação entre o sódio e o declínio cognitivo nos animais é curiosa. O sal desencadeia a superprodução de uma molécula chamada interleucina-17 (IL-17), que impede as células do cérebro de produzir óxido nítrico. O óxido nítrico aumenta os vasos sanguíneos, o que permite que o sangue flua. No entanto, níveis insuficientes de óxido nítrico podem levar a um fluxo sanguíneo restrito.

Em um estudo anterior, também feito em camundongos, os cientistas descobriram que uma dieta rica em sal desencadeou altos níveis de IL-17, que, por sua vez, reduziram os níveis de óxido nítrico e o fluxo sanguíneo em 25%.

Neste estudo, a teoria continuou: os pesquisadores alimentaram os animais com uma dieta regular ou com outra enriquecida em sódio por quatro a 36 semanas. Ao analisarem fatores comportamentais, cerebrovasculares e moleculares, descobriram que os baixos níveis de óxido nítrico induzidos por uma dieta rica em sal afetavam os níveis de proteína tau no cérebro —o acúmulo dessa proteína é uma característica do Alzheimer em humanos.

Para testar ainda mais a dinâmica entre óxido nítrico, proteína tau e comprometimento cognitivo, os cientistas fizeram os mesmos testes, mas dessa vez adicionaram nos camundongos um anticorpo que mantinha as proteínas tau sob controle.

Como resultado, os animais tiveram um funcionamento cognitivo normal, mesmo com o fluxo sanguíneo restrito. "Isso demonstrou que o que realmente está causando a demência era o desequilíbrio de tau e não a falta de fluxo sanguíneo", concluiu Costantino Iadecola, coautor do estudo.

"Esses achados identificam um nexo de causalidade entre sal na dieta, disfunção nas células dos vasos sanguíneos e patologia da tau, independentemente da insuficiência no fluxo de sangue", escreveram os cientistas.

Quais alimentos exigem atenção?

Segundo Iadecola, entretanto, o sódio que é ruim para os humanos não vem de um saleiro, mas de alimentos processados e fast food. "Temos que manter o sal sob controle. Isso pode alterar os vasos sanguíneos do cérebro".

A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda um limite de 2 g de sódio ao dia, cerca de 5 g de sal. No entanto, um estudo lançado no periódico The Lancet mostrou que só há uma elevação no número de problemas cardiovasculares quando o consumo de sódio é maior do que 5 g ao dia (15 g de sal, aproximadamente duas colheres de chá).

Dados mostram que menos de 5% das pessoas que vivem em países desenvolvidos ultrapassam essa quantidade e que a ingestão média do brasileiro é de 4,8 g de sódio (12 g de sal). Se os estudos estiverem corretos, o brasileiro está dentro do saudável.

Mas, como Iadecola ressaltou, além de reduzir o consumo do próprio sal de cozinha, é preciso lembrar que vários alimentos já contêm sódio em sua composição.

Um pacote de macarrão instantâneo de galinha caipira pode chegar a conter aproximadamente 1,6 g de sódio. Um Big Mac conta com 0,8 g de sódio, as batatas médias que acompanham possuem 0,3 g, uma Coca-Cola normal de 350 ml traz 0,02 g. Quer mais exemplos? Uma colher de sopa de shoyu tem 0,8 g de sódio e três fatias de presunto cozido tem 0,7 g.

Sal rosa, marinho e light são melhores?

Do ponto de vista fisiológico sal é sal. O gosto pode ser diferente devido a outras substâncias presente em cada tipo. No entanto, essas substâncias diferentes presentes em cada sal apenas dão sabor, não existem em quantidades suficientes para fazer diferença do ponto de vista nutricional.

Já o sal light tem diferentes percentuais de cloreto de potássio misturado com cloreto de sódio ou até 100% de cloreto de potássio. Mas o potássio não deve ser usado por pessoas com problemas renais graves.

*Com informações de matéria publicada no dia 06/12/18.

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