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Estudo liga células especializadas do cérebro à ansiedade e ao TOC

Ratos sem um tipo específico de células cerebrais apresentaram comportamento semelhante ao de quem sofre de tricotilomania, uma forma de TOC que leva a arrancar pelos e fios de cabelo - iStock
Ratos sem um tipo específico de células cerebrais apresentaram comportamento semelhante ao de quem sofre de tricotilomania, uma forma de TOC que leva a arrancar pelos e fios de cabelo Imagem: iStock

Do VivaBem, em São Paulo

24/10/2019 14h31

Resumo da notícia

  • Cientistas da Universidade de Utah descobriram uma sub-linhagem de células do cérebro ligadas ao aparecimento de ansiedade e TOC
  • A ausência dessas células em ratos fez com que eles tivessem comportamento repetitivo parecido ao de quem sofre de tricotilomania
  • Os cientistas também notaram que ratos fêmeas têm mais predisposição a apresentar comportamentos ansiosos mais severos
  • Isso aconteceu aos ratos machos quanto estes foram expostos a hormônios femininos, indicando que essas substância influenciam na ansiedade

Médicos da Universidade de Utah, nos Estados Unidos, descobriram uma sub-linhagem de células cerebrais em ratos que está ligada ao aparecimento de ansiedade, especificamente aquela ligada ao TOC (transtorno obsessivo-compulsivo). O estudo foi publicado no periódico Cell.

A pesquisa tem entre seus autores o professor de genética humana da Universidade de Saúde de Utah, Mario Capecchi, vencedor do Nobel de Medicina de 2007 por seu trabalho no desenvolvimento de ratos modificados geneticamente a partir da manipulação de células-tronco embrionárias.

Batizadas de Hoxb8, as células são uma sub-linhagem de microglias, células imunológicas do cérebro responsáveis por avaliar o microambiente e coordenar a resposta inflamatória a uma lesão, por exemplo. Elas também interferem no funcionamento e na qualidade das sinapses.

As microglias têm uma grande influência no cérebro e seu funcionamento anormal já foi associado ao surgimento de doenças neurológicas como Alzheimer e Parkinson.

Os cientistas acreditam que um desbalanço dessas células resultaria no aparecimento dos comportamentos repetitivos típicos do TOC. Isso foi observado nos ratos sem as Hoxb8, que passaram a se limpar mais vezes que o normal.

Esse comportamento foi interpretado como algo semelhante ao de quem sofre de tricotilomania, uma forma de TOC que leva a pessoa a arrancar pelos e fios de cabelo em um comportamento obsessivo-compulsivo.

Os cientistas também descobriram que os hormônios femininos agravaram o quadro de ansiedade em ratos fêmeas sem as Hoxb8, indicando que o sexo feminino tem mais predisposição a sofrer com a ansiedade sem a atuação correta das microglias.

Como o estudo foi feito?

  • Os cientistas utilizaram engenharia genética para criar indivíduos sem as microglias Hoxb8.
  • Eles perceberam então que os ratos sem essas células exibiam comum, indicando que a remoção dessas células poderia ter uma ação específica.
  • Isso ficou claro quando eles observaram que os animais sem as células costumavam se limpar com mais frequência, indicando um comportamento obsessivo.
  • Dessa forma, os cientistas concluíram que as células têm a função específica de proteger o cérebro de desenvolver esse tipo de comportamento repetitivo ligado à ansiedade.
  • Os cientistas também manipularam hormônios femininos (progesterona e estrogênio) nos ratos machos sem a Hoxb8 para comprovar se o gênero influenciava no nível de ansiedade demonstrada.
  • Eles concluíram que, uma vez expostos aos mesmos níveis das fêmeas, os ratos machos desenvolviam sintomas mais severos de ansiedade, semelhantes ao observado nas fêmeas.

Por que isso é importante?

Embora os experimentos sejam preliminares e tenham sido realizados apenas em ratos, o estudo pode estimular que novas pesquisas sejam feitas com pacientes que sofrem de TOC e ansiedade para entender melhor como a microglia deles interfere nesses quadros.

Além disso, ao entender melhor o funcionamento e a função dessas células, é possível pensar em novos medicamentos que possam ajudar quem convive com a doença. A ideia é testar novas drogas nesses animais para descobrir quais são mais eficazes e como podem ajudar pessoas que sofram com a condição.

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