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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


"O brasileiro tem medo do estigma das doenças mentais", diz Bruna Lombardi

Bruna Lombardi dá vida à sexóloga Sofia na série "A Vida Secreta dos Casais" - Reprodução/Instagram
Bruna Lombardi dá vida à sexóloga Sofia na série "A Vida Secreta dos Casais" Imagem: Reprodução/Instagram

Danielle Sanches

Do VivaBem, em São Paulo

22/10/2019 04h00

Uma sexóloga que deseja curar seus pacientes enquanto convive com uma doença mental debilitante. Esse poderia ser um bom resumo da personagem de Bruna Lombardi na série "A Vida Secreta dos Casais", que estreou recentemente sua segunda temporada no canal HBO. No entanto, como qualquer paciente que sofre de transtorno mental, esse tipo de definição é bastante rasa, tamanha a complexidade de sentimentos e pensamentos que os quadros despertam nas pessoas.

"Trabalhar com essa escala de intensidade e emoção é bastante desgastante", contou a atriz em entrevista ao VivaBem. "Por outro lado, ela abre um universo desconhecido que precisamos investigar", completa.

Durante a trama, Sofia, a terapeuta, vê casos de pessoas angustiadas buscando uma cura para seus sofrimentos mentais em seu consultório. Mas ela mesma sofre de esquizofrenia, uma doença que, de acordo com o Manual MSD, causa sintomas como perda de contato com a realidade, alucinações e comportamento desorganizado, além de disfunção ocupacional e social.

A doença tem origem desconhecida, mas há evidências de que exista um forte componente genético. Um estudo da Universidade de Copenhague revelou que, a cada cinco casos diagnosticados de esquizofrenia, quatro têm causa na herança genética. Devido às incertezas sobre o que provoca a condição, o tratamento costuma ser feito com medicações de amplo espectro, o que pode demorar a provocar efeitos benéficos ao paciente.

O estigma das doenças mentais

Abordar esse tema tão delicado foi proposital, afirma Bruna Lombardi, que também assina o roteiro da série. "É uma doença estigmatizante e poucas pessoas falam dela abertamente", explica. "Criamos então uma oportunidade de abordar o tema e mostrar um lado mais humano de quem convive com o problema, mostrar que isso pode acontecer com qualquer pessoa comum", afirma.

Para abordar da forma mais verossímil possível, os roteiristas contam com o apoio de psiquiatras que prestam consultoria a eles na elaboração das cenas. Também conversaram com pessoas que sofrem com o transtorno e familiares que convivem com alguém com a doença.

O retorno foi imediato: algumas pessoas já procuraram Bruna para agradecer a forma como abordaram o tema. "Apenas falar já causa alívio nas pessoas que sofrem com a condição ou convivem com alguém doente. Elas se isolam, sentem-se sozinhas", diz.

Na série, falar sobre saúde mental, no entanto, não acaba aí. Alguns pacientes que procuram a terapeuta sofrem de depressão, uma doença que ainda está longe de ser encarada com naturalidade no Brasil. Mesmo sendo o país da América Latina com o maior índice de depressão, de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), a doença ainda é vista com desconforto principalmente pelos mais jovens, que sabem pouco sobre o problema e sentem vergonha de abordar o assunto.

Uma pesquisa realizada do Ibope Conecta, por exemplo, mostrou que 39% dos jovens com idade entre 13 e 17 anos não se sentiriam à vontade para falar sobre um diagnóstico de depressão com a família. Já 56% dos entrevistados entre 18 e 24 anos não se sentiriam à vontade de falar sobre o diagnóstico de depressão no trabalho ou escola. O principal problema é a percepção de que os colegas não levam a doença a sério e, portanto, não acreditariam que a pessoa está de fato doente.

"O brasileiro tem medo do estigma que as doenças mentais trazem", acredita Bruna, que fala sobre o assunto em inúmeros posts em seu Instagram. "Ele tem medo de ficar de fora do mercado de trabalho, do grupo familiar, e às vezes nem sabe identificar que tem uma doença, não sabe nomear as próprias emoções", afirma.

Para a atriz, a melhor forma de lidar com o problema é mesmo conversando e buscando entender os próprios sentimentos. "A felicidade tem um caminho de autoconhecimento, não é simplesmente ser feliz", afirma.

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