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Uso de antibióticos em prematuros estimula bactérias ruins no intestino

Pesquisa descobriu que antibióticos interferem no desenvolvimento da microbiota de bebês prematuros - iStock
Pesquisa descobriu que antibióticos interferem no desenvolvimento da microbiota de bebês prematuros Imagem: iStock

Danielle Sanches

Do VivaBem, em São Paulo

12/09/2019 15h11

Resumo da notícia

  • Pesquisadores constataram que antibióticos interferem no desenvolvimento da microbiota de bebês prematuros
  • Embora necessário, o uso desses medicamentos estimulou a proliferação de bactérias ruins e resistentes no intestino dos bebês
  • Conforme cresciam, os bebês apresentaram um aumento na diversidade de bactérias intestinais, mas a evolução era mais lenta do que em bebês normais
  • O resultado reforçou a importância de se usar antibióticos de forma criteriosa, evitando o uso por longos períodos

A maioria dos bebês que nascem prematuros recebe antibióticos em sua primeira semana de vida para evitar infecções potencialmente fatais. Embora esses medicamentos sejam indiscutivelmente importantes em um momento tão delicado, eles também podem causar efeitos que perduram mesmo após a alta do bebê.

É o que revela um novo estudo feito por médicos da Washington University School of Medicine em St. Louis, nos EUA. De acordo com a pesquisa, o uso de antibióticos nesse início de vida tão complicado acaba afetando o desenvolvimento da flora intestinal, permitindo a proliferação de bactérias consideradas "ruins".

O estudo, publicado na revista Nature Microbiology, analisou 437 amostras de fezes de bebês prematuros e saudáveis e ainda constatou aqueles que receberam antibióticos por mais de 20 meses tiveram o risco aumentado para desenvolver bactérias resistentes aos medicamentos em seus intestinos.

Como o estudo foi feito?

  • Os médicos queriam entender quais os efeitos de longo prazo em bebês prematuros que receberam doses de antibióticos enquanto hospitalizados.
  • Eles então analisaram 437 amostras fecais de 58 bebês durante os primeiros 21 meses de vida.
  • 41 bebês eram prematuros (nasceram com cerca de 26 semanas) e tinham baixo peso. Desses, nove receberam doses de gentamicina e ampicilina por menos de sete dias. Os outros 32 receberam extensivas doses de antibióticos durante os primeiros 21 meses de vida.
  • Os pesquisadores compararam as amostras com amostras de 17 bebês nascidos a termo ou levemente prematuros (com 36 ou 37 semanas) e que não receberam antibióticos nos primeiros meses de vida.
  • A análise revelou que a flora intestinal dos bebês tratados com antibióticos tinha menos bactérias ligadas à boa saúde e mais espécimes associados a doenças.
  • Além disso, foram encontradas bactérias capazes de resistir aos antibióticos.
  • Os médicos repetiram as análises após 10 meses e perceberam que as bactérias continuavam presentes, indicando que, uma vez que se estabeleciam no intestino, elas se proliferaram.
  • Após o 21 mês, os bebês prematuros apresentaram uma flora intestinal mais diversificada, um sinal de saúde; porém, essa evolução se deu de forma mais lenta do que nos bebês que não receberam a medicação.

Por que isso é importante?

Embora o uso de antibióticos seja importante para a sobrevivência de bebês prematuros hospitalizados, os médicos envolvidos no estudo alertam que é preciso evitar o uso desses medicamentos de forma indiscriminada. Para eles, o mais correto seria tentar utilizar doses menores e com mais foco, ou seja, medicações de pequeno espectro para combater bactérias específicas.

Essa opinião é compartilhada pela médica Maria Lúcia Biancalana, infectologista da BP (A Beneficência Portuguesa de São Paulo). "O uso indiscriminado de antibióticos acaba estimulando a seleção de bactérias resistentes. Por isso, é importante reduzir o uso apenas ao necessário e por tempo menor", diz.

A especialista lembra ainda que a perturbação da microbiota, como a flora intestinal é chamada, pode acontecer em crianças maiores e adultos também. "O antibiótico afeta a flora bacteriana não apenas do intestino como também da boca, da garganta, dos genitais. São bactérias que vivem em nosso corpo e acabam sendo afetadas pela medicação", explica.

Os cientistas envolvidos no estudo lembram ainda que as bactérias resistentes encontradas no estudo não são maléficas enquanto estiverem restritas ao intestino, mas podem se tornar um problema caso entrem na corrente sanguínea ou no trato urinário — o que poderia criar uma infecção difícil de ser tratada mesmo por antibióticos que não foram ministrados nos primeiros meses de vida.

Por fim, eles lembraram que é preciso ter mais evidências e estudos para entender o que as "cicatrizes da microbiota", como eles chamaram o quadro, podem causar na saúde humana a longo prazo.