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Células do câncer de mama se agrupam antes de se espalharem, diz estudo

Estudo analisou o papel de uma proteína no processo de metástase do câncer de mama - Sakan Piriyapongsak/IStock
Estudo analisou o papel de uma proteína no processo de metástase do câncer de mama Imagem: Sakan Piriyapongsak/IStock

Do VivaBem, em São Paulo

10/09/2019 15h28

Resumo da notícia

  • Pesquisa procura desvendar os processos por trás da metástase, principal fator de mortalidade entre pacientes com câncer
  • Cientistas usaram como modelo um dos tipos mais comuns de câncer de mama para entender o papel de uma proteina específica na metástase do tumor
  • Sem a proteína, as células cancerígenas estavam mais propensas a abandonar o tumor primário, mas acabavam morrendo de forma prematura
  • Os médicos esperam que a descoberta ajude a criar novas formas de impedir a metástase em pacientes com diversos tipos de câncer

Quando o assunto é câncer, os médicos concordam que a metástase, processo pelo qual as células cancerígenas se espalham por outros órgãos, é um dos fatores mais relevantes para aumentar a mortalidade dos pacientes.

Mas pesquisadores da Johns Hopkins Kimmel Cancer Center, nos Estados Unidos, deram um passo importante para entender esse processo. Eles descobriram que uma proteína de adesão celular chamada E-cadherin permite que as células cancerígenas sobrevivam enquanto viajam pelo corpo para formar novos tumores.

As conclusões foram obtidas em experimentos feitos em laboratório e em ratos e utilizaram como modelo uma das formas mais comuns de câncer de mama, o carcinoma ductal invasivo (que se inicia nos dutos de leite na mama).

A proteína parece limitar o estresse molecular das células cancerígenas e permite que elas sobrevivam tempo suficiente para formar novos tumores. A descoberta, publicada em estudo na revista Nature, pode levar a novas formas de prevenção do câncer de mama em pacientes que apresentam reincidência da doença.

Metástase ainda não é totalmente compreendida

Cientificamente, a metástase é caracterizada por vários diferentes estágios: há a fase em que as células escapam do tumor primário, viajam pelos vasos sanguíneos e aparecem em novos órgãos, onde semeiam um novo tumor.

Muitas pesquisas então focaram em entender como as células cancerígenas se mantinham unidas com a ajuda da molécula E-cadherin.

Nesse processo, antes do estudo, os médicos acreditavam que para a metástase ocorria, as células deveriam perder a E-cadherin. No entanto, eles não sabiam explicar por que os tumores dos pacientes ainda mantinham a proteína em suas células.

A equipe do Johns Hopkins Kimmel Cancer Center decidiu, então, realizar um estudo focando exclusivamente nesse biomarcador para identificar qual é o seu papel na dispersão de células cancerígenas no organismo.

Como o estudo foi feito

  • Os cientistas testaram o papel da E-cadherin, uma proteína de adesão (ou seja, que facilita a ligação entre células) em três modelos experimentais de carcinoma invasivo ductal que representam os subtipos mais comuns de câncer de mama em humanos: luminal, basal e triplo negativo;
  • Esses subtipos têm padrões diferentes de expressão de genes e diferentes resultados médicos em pacientes;
  • Primeiro, eles testaram o papel da proteína durante a invasão do câncer. Em todos os três modelos, a perda do gene da proteína aumenta dramaticamente a habilidade das células em invadir os tecidos saudáveis;
  • Em um dos modelos, os tumores com células sem a proteína avançaram para as bordas em 82% das vezes;
  • Contudo, perder a proteína acabou sabotando todos os outros estágios da metástase em todos os modelos de câncer de mama, tanto nos experimentos em laboratório como nos modelos animais;
  • Os cientistas perceberam que, sem a E-cadherin, as células se perderam enquanto migravam e morreram em grandes quantidades em todos os estágios depois de sair do tumor primário;
  • As poucas que conseguiram migrar e sobreviveram não proliferaram em novos órgãos e raramente formaram novos tumores;
  • Os pesquisadores, então, concluíram que a proteína retarda a invasão das células cancerígenas, que precisam primeiro estarem conectadas para sobreviver e, só então, caírem na corrente sanguínea e se espalharem para outros órgãos.

Por que isso é importante?

Por ser um processo pouco compreendido, a metástase continua sendo a maior causa de mortalidade entre os pacientes de câncer. O estudo, assim, visa desvendar os mecanismos por trás desse processo.

Embora utilize como modelo um tipo de câncer de mama, o estudo pode ajudar outras pesquisas envolvendo outros tipos de tumor a entender melhor os processos de metástase.

Além disso, durante o estudo, os pesquisadores também notaram que, mesmo em condições de laboratório, a metástase é um processo altamente ineficiente. A pesquisa sugere que cerca de 99% das células que saem do tumor primário morrem e nunca formam novos tumores.