Gestantes, bebês e gatos podem viver na mesma casa com saúde; veja cuidados
Resumo da notícia
- Animais domésticos garantem benefícios à saúde mental e ao sistema imunológico, mas também podem trazer algumas doenças
- As patologias transmitidas por felinos domésticos bem tratados são pouco comuns e prevenidas com cuidados básicos
- Entre as doenças associadas aos gatos estão micoses e verminoses como a toxoplasmose, que é perigosa para gestantes e bebês
- Para evitar esse e outros problemas é importante manter a criança longe da caixa de fezes do animal e o gato longe do berço
- Além disso, vale higienizar sempre o chão em que o bebê engatinha e manter o animal vacinado
Conviver com animais de estimação pode ser benéfico à saúde por vários motivos: estudos já confirmaram que os pets ajudam, por exemplo, a reduzir o estresse, combater a depressão e fortalecer o sistema imunológico.
No entanto, para famílias com gestante ou bebês, a presença dos tão queridos bichos —em especial gatos, muitas vezes por preconceito, que fique claro — gera preocupação sobre um maior perigo de doenças. Mas, acalme-se! Segundo os especialistas, os riscos são pequenos.
"Doenças transmitidas de gatos a humanos não são comuns, pois trata-se de animais muito limpos e que fazem sua auto-higienização com frequência. O principal perigo é desencadearem infecções por mordidas e arranhaduras, verminoses e micoses de pele", afirma o veterinário Pedro Horta, responsável pelo Hospital 4Cats e professor do curso de especialização em clínica médica e de felinos na Anclivepa-SP (Associação Nacional dos Clínicos Veterinários de Pequenos Animais). E muitos dos problemas podem ser evitados com cuidados básicos que mostramos a seguir.
Criança longe da areia e gato longe do berço
Em se tratando de doenças parasitárias que podem acometer gatos, o risco de serem transmitidas em casa tende a ser muito menor do que na praia ou em parquinhos, pois esses locais costumam servir de "banheiro" de felinos que vivem na rua. Horta cita como verme que pode ser eliminado pelas fezes do animal o Ancylostoma, que provoca bicho geográfico, uma dermatite que em casa a criança pode pegar se engatinhar sobre partículas de cocô de um gato infectado, ou caso sente diretamente na sua caixa de areia. Duas coisas que podem ser evitadas mantendo o chão sempre limpo e impedindo o acesso de criança ao local em que o bicho faz suas necessidades.
Ambientes contaminados, além de parasitas, podem abrigar fungos. Entre as doenças mais perigosas trazidas por esses micro-organismo está a esporotricose, que causa lesões graves no tecido subcutâneo dos gatos e pode ser transmitida a humanos. Fungos (porém, mais inofensivos) também existem na pele dos gatos, em especial os de pelo longo. Por isso não é aconselhável que os bichanos se deitem no berço com o bebê, que por ter um sistema imunológico precoce, pode contrair micoses e infecções.
Por outro lado, ter um gato pode reduzir o risco de a criança desenvolver asma e alergias. "Quanto maior o contato dela com o pelo, maior sua tolerância aos agentes que causam crises alérgicas. O pequeno só não deve tocar as mucosas do animal, pois sua flora microbiana está em desenvolvimento", explica Vitor Nudelman, pediatra da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein.
Raiva é um perigo negligenciado
Assim como cães, gatos também podem transmitir para humanos o vírus da raiva, que é incurável e pode matar. Para "pegá-lo", a pessoa precisa ser mordida ou arranhada por um animal doente. Os sintomas começam com coceira e dor de cabeça e evoluem, em questão de dias, para febre, vômitos, convulsões e coma. O problema é tão grave que vacinar o animal contra a doença é obrigatório no Brasil.
"Infelizmente, em São Paulo, os casos de raiva no geral têm aumentado e o cancelamento da campanha de vacinação (que ocorria nas ruas da cidade durante o mês de agosto) este ano não ajuda. Mesmo animais de apartamento precisam ser vacinados", alerta Horta.
Apesar do cancelamento da campanha na capital paulista, a vacinação de rotina nos postos de controle de zoonoses do município está mantida. Então, não custa nada imunizar seu bichinho.
Toxoplasmose não é restrita a gatos
Embora os felinos sejam os únicos hospedeiros urbanos definitivos do parasita Toxoplasma godii, responsável pela toxoplasmose, alimentos crus (salada, sushi, frutas) mal higienizados ou mal preparados também podem estar contaminados e oferecer riscos se ingeridos. Por isso, a recomendação de durante a gestação as mulheres só consumirem produtos crus em locais confiáveis.
"Quanto aos gatos, correm maior risco os que não são tratados e caçam ratos e pássaros na rua. Mas mesmo animais que não saem de casa ou do apartamento estão sujeitos ao problema, principalmente se comerem carne crua contaminada", alerta Edimilson Migowski, infectologista da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
A boa notícia é que a transmissão da doença por gatos é estimada em apenas 1%. Ela ocorre quando o bichano infectado defeca os ovos (oocistos) do Toxoplasma e suas fezes ressecam, obrigando o parasita a procurar novos hospedeiros. Por ser uma ameaça microscópica, o protozoário contamina facilmente vários locais da casa e pode acabar ingerido acidentalmente. Por isso, a caixa de areia do gato deve ser limpa diariamente e, se possível, mais de uma vez ao dia.
Sintomas variam entre os hospedeiros
A toxoplasmose não costuma provocar sintomas nos gatos. Em humanos saudáveis também pode ser imperceptível ou se manifestar de forma leve, similar a um resfriado, com dores musculares e de cabeça e, eventualmente, febre. Já em casos sintomáticos mais graves, quando o organismo está enfraquecido ou não possui anticorpos suficientes contra o parasita, como no caso das grávidas, a doença pode evoluir a ponto de causar à morte da pessoa.
Como também é transmitida de maneira congênita, ou seja, de mãe para filho durante a gravidez, a toxoplasmose pode afetar o feto e provocar danos severos, desde inflamações na retina até deformações e problemas neurológicos. Nos três primeiros meses de gestação a doença ainda aumenta o risco de aborto.
Como evitar e tratar
Apenas as mulheres que já tiveram toxoplasmose estão imunes, pois criaram anticorpos contra o protozoário. "Por isso, é prudente que a gestante que nunca teve a doença encarregue outra pessoa para limpar a caixa de areia do gato, para que não ter contato com as fezes do animal. "É recomendável também que faça sorologia de toxoplasmose durante os três primeiros meses da gestação", informa Naira Scartezzini, ginecologista da Rede D'Or São Luiz.
Se for detectada a doença, a mãe deve ser acompanhada durante toda a gestação e medicada o quanto antes com antibióticos e antiparasitários para impedir que o protozoário se multiplique e a doença evolua, tornando-se mais agressiva. O bebê também deve ser monitorado e, ao nascer, se for detectada a doença, tratado por, pelo menos, um ano, com os mesmos medicamentos que a grávida recebeu.
"A chance de cura é próxima dos 100%, mas nem sempre as sequelas são reversíveis, principalmente na forma congênita", conclui Migowski.
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