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Não tem orgasmo com o parceiro? Tire dúvidas que atrapalham seu prazer

Em média, o sexo deve durar cerca de 20 minutos (incluindo preliminares) para a mulher atingir o orgasmo - iStock
Em média, o sexo deve durar cerca de 20 minutos (incluindo preliminares) para a mulher atingir o orgasmo Imagem: iStock

Cristina Almeida

Colaboração para o VivaBem

02/09/2019 04h00

Resumo da notícia

  • A experiência do orgasmo, entre as mulheres, é individual
  • Quanto maior o conhecimento sobre as diferenças entre a mecânica do orgasmo feminino e masculino, maior a chance de ter relações sexuais satisfatórias
  • Perto dos 17 anos, cerca de 35% das jovens já atingiram um orgasmo. No mesmo período, 100% dos homens tiveram a experiência
  • Homens e mulheres que têm vida sexual saudável e ativa geralmente possuem melhor qualidade de vida

Na década de 1970, no início da onda do feminismo, um grupo de ativistas se reunia no Emmanuel College, em Boston (EUA), para participar de um workshop que envolvia médicos e pessoas comuns para compartilhar informações, histórias pessoais e experiências. Sexualidade era assunto "proibido" nessa época entre as mulheres e elas pouco conheciam sobre sua anatomia, bem como o funcionamento de seus corpos.

De lá para cá, as investigações sobre a sexualidade feminina avançaram, mas o tema continua sendo complexo, especialmente porque a experiência do orgasmo, entre as mulheres, é individual: o que funciona para uma pode não funcionar para outra. A conclusão é de um estudo que avaliou cinco pesquisas sobre sexo realizadas entre 1971 e 2015, envolvendo 10 mil pessoas. Os resultados foram publicados no periódico Socio affective Neuroscience & Psychology.

A fórmula do prazer

Apesar dessa característica do orgasmo feminino, os especialistas no assunto garantem que quanto maior for o conhecimento sobre as diferenças entre os mecanismos do prazer feminino e do masculino, maiores são as chances de ter uma relação sexual satisfatória. Além disso, é preciso superar a crença de que, para chegar lá, é preciso ter um parceiro habilidoso.

"Na verdade, todos precisam ser habilidosos em uma relação sexual para dela desfrutar o máximo de prazer. Mas o orgasmo feminino não depende disso. Muitas vezes ele é aprendido e não espontâneo", acredita Lúcia Alves da Silva Lara, coordenadora do Ambulatório de Estudos em Sexualidade Humana da FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo).

A seguir, respondemos dúvidas comuns sobre orgasmo feminino e masculino para que você possa ter mais ferramentas que podem ajudar a chegar lá.

Orgasmo, sexo, transar - iStock - iStock
A maioria da mulheres só consegue chegar ao orgasmo por meio da masturbação ou penetração em que há estimulação manual do clitóris
Imagem: iStock

O que é orgasmo feminino?

Ele se caracteriza por contrações múltiplas, ritmadas e prazerosas na genitália. Em princípio as contrações são mais fortes e vão reduzindo sua intensidade até cessarem. Nesse momento observa-se um relaxamento físico e emocional que traz a sensação de bem-estar.

Quanto tempo pode durar um orgasmo?

Trata-se de uma experiência que dura segundos. Nesse período podem ocorrer cerca de quatro até oito contrações, que são sentidas muito mais na vagina e também no corpo do clitóris, cuja estrutura está fixada nas laterais da vagina.

O que é orgasmo múltiplo?

São orgasmos que podem acontecer pouco tempo depois de a pessoa ter um primeiro orgasmo. Quando as contrações diminuem, caso a mulher continue sendo estimulada, ela pode ter uma nova onda de contrações. Contudo, é mais comum que isso aconteça em relações em que haja uma grande parceria, entrega, confiança, interesse recíproco, relaxamento e concentração. Além disso, o encontro sexual geralmente precisa acontecer em uma circunstância onde não haja distrações. O orgasmo múltiplo também pode ocorrer durante a masturbação.

Mulheres podem ter orgasmo sem perceber?

Não. O que pode acontecer é a mulher ter uma expectativa irreal do que seja ter um orgasmo, ou seja, ela possui a crença de que sairá de órbita, perderá a consciência e que pode acontecer até uma ejaculação. Mas mulher não ejacula. Ejacular é um mecanismo masculino. O que se observa é que, no ponto alto da excitação, a lubrificação aumenta seu volume sem, contudo, promover a expulsão de líquidos em jato. Ademais, algumas mulheres podem, sim, urinar: o orgasmo pode levar à contração da bexiga, ao relaxamento do esfíncter vesical e, assim, facilitar a liberação de xixi.

Orgasmo, sexo - Getty Images - Getty Images
A mulher não ejacula ao ter um orgasmo
Imagem: Getty Images

A maioria das mulheres tem orgasmo durante o sexo?

Sim. Durante toda a vida, a mulher pode ter orgasmos a partir de dois, três anos de idade. Segundo um estudo da Universidade de Indiana (EUA), perto dos 17 anos, 35% das jovens já vivenciaram o orgasmo por meio da masturbação ou durante a relação sexual — só que, no mesmo período, 100% dos homens tiveram essa experiência.

Quando as mulheres chegam ao ápice do amadurecimento sexual, por volta dos 35 anos, 90% delas já experimentaram o orgasmo, seja por meio do movimento do pênis dentro da vagina, seja com estimulação do clitóris durante a masturbação. Estudos apontam que 10% das mulheres nunca conheceram o orgasmo. Os dados são e estudos das Universidades de Indiana e Emory (EUA) e do Instituto de Pesquisa Populacional da Federação da Família (Finlândia).

Qual é a melhor forma das mulheres chegarem ao orgasmo?

De acordo com o mesmo estudos citados acima, de 20% a 30% das mulheres alcançam o orgasmo por meio do movimento do pênis dentro da vagina; já 70% delas só conseguem por meio da masturbação ou durante a penetração em que há estimulação manual do clitóris.

Esse dado é de suma importância. O parâmetro que muitos homens têm sobre a capacidade de chegar um orgasmo é ele mesmo — e a leitura do parceiro pode ser que a mulher responde dessa forma. Considerando esses percentuais indicados, observa-se que há uma falta de sintonia: a mulher acha que deve ter um orgasmo e, quando não consegue, conclui que tem um problema. Por outro lado, o homem se sente incapaz de satisfazê-la e isso cria um impasse na relação. A resposta orgástica na mulher é diferente do homem. O mecanismo, entre elas, parece ser mais complexo. O clitóris é o órgão efetor do orgasmo, e não a vagina. Ter orgasmo só por meio da masturbação não é um problema. Isso é o normal para as mulheres.

Encontrar o ponto G significa que você vai ter mais prazer?

Para a ciência esse ponto não existe, foi uma teoria defendida no passado, e não há nenhum trabalho científico que tenha comprovado sua localização. A iniciativa de seus defensores era a de ensinar as mulheres a terem orgasmo. Por isso, elegeram uma área próxima da uretra, mais vascularizada e inervada, como sendo específica e responsável pelo orgasmo feminino. Contudo, o órgão efetor do prazer é o clitóris.

Sexo, sonho - iStock - iStock
Pessoas com uma vida sexual ativa geralmente possuem mais qualidade de vida
Imagem: iStock

Orgasmo pode adicionar anos à minha vida?

Homens e mulheres que têm uma vida sexual saudável e ativa geralmente possuem uma qualidade de vida melhor em relação às pessoas que não vivenciam o prazer sexual. E o orgasmo pode até contribuir para a melhora de doenças como a congestão pélvica e a dor crônica. Mas a longevidade não depende apenas desse aspecto. É o conjunto de atitudes e escolhas ao longo da vida que eleva as chances de viver mais e melhor. Freud já dizia que o ser humano que não desenvolve a sua sexualidade nunca será um ser completo. O bem-estar sexual faz bem ao corpo e à mente, mas é apenas um fator entre vários.

Mulheres estão mais interessadas no orgasmo do parceiro do que no delas?

Grande parte dos homens e mulheres tem a mesma preocupação na hora do sexo: satisfazer a si e ao parceiro. Mas é preciso esclarecer que ninguém faz o outro ter orgasmo. E ainda há a diferença de que muitas mulheres precisam lidar com questões relacionadas à sua própria história que, tradicionalmente, as colocaram em um papel de dar prazer ao homem. "Apesar dos avanços, essa crença ainda é muito forte", acredita a psicóloga e sexóloga Adriana Peterson Mariano Salata Romão, doutora em ginecologia pela FMRP-USP. Decorre daí a maior preocupação feminina com a autoimagem, a performance. Já grande parte dos homens entra em uma relação sexual inteiros para buscar o prazer, enquanto diversas mulheres podem se perder nesse caminho de perfeição autoimposta.

Como aumentar as chances de concretizar a parceria de prazer?

O casal deve ter em mente que o tempo médio que a mulher necessita para chegar ao orgasmo é em torno de 20 minutos. E isso desde o início das preliminares até o orgasmo. O mais comum é que se relate que as relações sexuais duram de 5 a 10 minutos. O conselho dos especialistas é que o casal passe mais tempo nas preliminares.

E quantos aos homens, eles podem ter orgasmo sem ejacular?

Teoricamente isso é possível. As respostas sexuais masculinas (ereção, ejaculação e orgasmo) são fenômenos que acontecem em partes diferentes do sistema nervoso central (SNC). Portanto, um homem pode ter ereção sem ejacular; ejaculação sem ereção e orgasmo; e, em tese, ter orgasmo sem ejaculação. Roberto Vaz Juliano, diretor da SBU-SP (Sociedade Brasileira de Urologia), exemplifica que um homem que retirou a próstata, um paciente com diabetes ou alguém com problemas neurológicos pode até ter falta da ejaculação, "mas terá uma explosão de prazer, no ápice da relação sexual. Portanto, o orgasmo se mantém

Homens podem ter orgasmos múltiplos?

É mais difícil, mas pode acontecer. Isso se o homem conseguir manter a ereção após ter ejaculado.

Sexo_abre - iStock - iStock
Quando um homem finge ter orgasmo geralmente sua ereção é mantida
Imagem: iStock

Dá para saber se o homem simulou o orgasmo?

Isso vai depender da capacidade de atuação do parceiro. Porém, quando homem não gozou e fingiu chegar ao orgasmo, geralmente a é mantida. No entanto, também pode ser o caso de anorgasmia, ou inibição/ausência de orgasmo, que precisa ser avaliada por um especialista.

É normal o homem se masturbar todos os dias?

A masturbação é uma forma de manifestação da sexualidade e não existe uma regra para definir a quantidade ideal do ato. Há pessoas que se masturbam todos os dias, outras, uma vez por ano. O problema é quando a prática é compulsiva, alerta Sidney Glina, professor de urologia da Faculdade de Medicina do ABC: "Isso acontece quando a masturbação atrapalha a atividade diária porque a pessoa o faz repetidamente". Por outro lado, a questão pode abrir espaço para discutir a dificuldade de ter uma parceira, entregar-se, compartilhar e até amar.

Usar camisinha afeta o orgasmo do homem?

Antes de pensar em deixar de usar o preservativo, lembre-se que ele é a forma segura e prática de evitar doenças sexualmente transmissíveis, como a Aids. Mas, para alguns indivíduos, especialmente os mais velhos, a camisinha pode diminuir a sensibilidade peniana e, nesse sentido, dificultar o orgasmo. No entanto, graças à tecnologia, novos produtos impactam menos nessa sensibilidade. Aliás, para quem tem ejaculação precoce, o preservativo pode até ser útil, pois ao diminuir a sensibilidade pode evitar que o homem goze rapidamente.

Importante ressaltar que o orgasmo não depende só dá sensibilidade peniana. Há pessoas que perdem a sensibilidade genital, mas têm orgasmo usando outros sentidos como a manipulação do mamilo ou o toque na pele. "Mais uma a aprender com as mulheres: o homem é muito focado no genital como fonte de prazer, mas há inúmeras possibilidades num ato sexual", esclarece Vaz Juliano.

Fontes: Lúcia Alves da Silva Lara, ginecologista e obstetra, coordenadora do Ambulatório de Estudos em Sexualidade Humana da FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo) e presidente da Comissão Nacional Especializada em Sexologia da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia); Adriana Peterson Mariano Salata Romão, psicóloga e sexóloga, com doutorado em ginecologia pela FMRP-USP; Sidney Glina, professor titular da disciplina de Urologia da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), ex-presidente da Sociedade Internacional de Medicina Sexual, ex-presidente da SBU (Sociedade Brasileira de Urologia); Roberto Vaz Juliano, professor auxiliar de urologia da FMABC, diretor da SBU-SP, membro do Instituto de Urologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e diretor da Duo Clínica Urologia.
Revisão técnica: Lúcia Alves da Silva Lara.
Referências:T
ranstornos do orgasmo feminino. XII Congresso de Ginecologia e Obstetrícia Sogimig. AMMG (Associação Médica de Minas Gerais). 2019; Osmo Kontula, Anneli Miettinen. Determinants of female sexual orgasms. Socioaffect Neurosci Psychol. 2017; Herbenick D et alli. Orgasm Range and Variability in Humans: A Content Analysis. Intern J Sex Health. 2018; Herbenick D ET alli. Experiences With Genital Touching, Sexual Pleasure, and Orgasm: Results From a U.S. Probability Sample of Women Ages 18 to 94. J Sex Marital Ther. 2018; Kim Wallen. Female Sexual Arousal: Genital Anatomy and Orgasm in Intercourse. Horm Behav. 2006; National Survey of Sexual Health and Behavior, 2010. Indiana University.