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Proteínas ajudam a identificar melhor remédio para tratar esquizofrenia

Estudo brasileiro pode ajudar psiquiatras a escolher o melhor medicamento para pacientes que sofrem de esquizofrenia - iStock
Estudo brasileiro pode ajudar psiquiatras a escolher o melhor medicamento para pacientes que sofrem de esquizofrenia Imagem: iStock

Danielle Sanches

Do VivaBem, em São Paulo

30/08/2019 04h00

Encontrar a medicação correta para os casos diagnosticados de esquizofrenia é um dos grandes desafios dos médicos atualmente. Embora já tenham protocolos para diagnosticar a doença, escolher a melhor droga entre as disponíveis para tratar o paciente ainda é feito sem nenhuma ferramenta molecular, com base na experiência clínica de cada profissional.

Um estudo feito por pesquisadores do Instituto de Biologia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), pode ajudar os médicos a terem mais assertividade nessa escolha. O trabalho foi publicado na revista científica Biological Psychiatry. Os pesquisadores conseguiram identificar, por meio de marcadores biológicos (ou biomarcadores), qual dos três medicamentos mais utilizados para tratar a doença —olanzapina, risperidona ou quetiapina — é indicado para cada paciente.

Essa "assinatura molecular" foi descoberta primeiro por meio da análise de moléculas de lipídios e, agora, pela observação das moléculas de proteína de pacientes com a doença. Ambas possuem uma diferenciação em sua composição quando o paciente é esquizofrênico, permitindo analisar melhor a resposta do organismo às drogas.

De acordo com Daniel Martins-de-Souza, pesquisador da Unicamp e um dos autores do estudo, a diferença entre lipídios e proteínas é que estas são mais precisas. "Enquanto os lipídios são geralmente um subproduto de alguma reação química do corpo, as proteínas têm funções mais bem definidas e costumam comandar processos importantes no organismo", explica o pesquisador.

A partir das descobertas, o pesquisador espera que, em um futuro próximo, seja possível desenvolver um exame clínico, um teste de sangue que identificará esses biomarcadores e poderá ser feito em laboratório. Isso permitirá aos psiquiatras escolher de forma mais assertiva o melhor tratamento para os pacientes esquizofrênicos. Ele também acredita que as descobertas serão úteis no desenvolvimento de novas drogas para otimizar o tratamento, já que os medicamentos atuais ainda apresentam falhas.

Para o médico psiquiatra Mário Louzã, coordenador do Programa de Esquizofrenia do IPq da FMUSP (Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), que não participou da pesquisa, a esquizofrenia é uma doença complexa, com uma grande variedade de sintomas e ainda de causas desconhecidas. Por isso, ter um exame clínico baseado em biomarcadores seria de grande ajuda para confirmação do diagnóstico.

Além de Martins-de-Souza, o trabalho com as proteínas foi realizado por Sheila Garcia Rosa, doutoranda em Biologia Funcional e Molecular do Instituto de Biologia da Unicamp.

Por que isso é importante?

Segundo Martins-de-Souza, um dos principais problemas da falta de definição da medicação é que quase a metade dos pacientes não apresentam melhora nos sintomas na primeira rodada de medicação —cada rodada demora de quatro a seis semanas para ser avaliada.

Esse processo longo de tentativa e erro acaba desestimulando o paciente a seguir com o tratamento, que acaba, muitas vezes, abandonando o acompanhamento. "Além disso, durante a fase de teste da medicação, os pacientes estão submetidos a efeitos colaterais como tremores e síndrome metabólica", explica o pesquisador. "Ao ver que apenas colhe o ônus do tratamento, é comum vermos a desistência do paciente", diz.

Não é só isso: enquanto o paciente não está corretamente medicado, a doença, que se caracteriza principalmente por delírios e alucinações, continua progredindo e pode gerar danos irreversíveis. "O paciente, quando tem um surto psicótico, perde uma parte importante da sua capacidade cognitiva que não será recuperada", diz Martins-de-Souza.

A partir das descobertas, o pesquisador espera que, em um futuro próximo, seja possível desenvolver um exame clínico, um teste de sangue que identificará esses biomarcadores e poderá ser feito em laboratório. Isso permitirá aos psiquiatras escolher de forma mais assertiva o melhor tratamento para os pacientes esquizofrênicos. Ele também acredita que as descobertas serão úteis no desenvolvimento de novas drogas para otimizar o tratamento, já que os medicamentos atuais ainda apresentam falhas.

Sobre as medicações, o médico compara as drogas disponíveis atualmente aos antibióticos de grande espectro, que tratam diversos tipos de infecções —ou seja, elas seriam capazes de controlar grande parte dos quadros delirante-psicótico, e não especificamente os causados por esquizofenia. "A análise dos biomarcadores nos dará mais direções sobre os processos que a doença provoca no organismo e também quais medicações seriam mais efetivas", avalia.

Como o estudo foi feito?

  • 54 pessoas diagnosticadas com esquizofrenia tiveram o sangue colhido antes de iniciarem o tratamento medicamentoso.
  • Em seguida, os pacientes começaram a tomar uma das três principais drogas antipsicóticas disponíveis atualmente: olanzapina, risperidona ou quetiapina.
  • Após seis semanas medicados, os pacientes passaram por uma nova avaliação e foram classificados em bons ou maus respondedores, de acordo com a resposta apresentada para cada medicação.
  • Os pacientes tiveram então o sangue colhido mais uma vez. Os biomarcadores, ou seja, ss proteínas e os lipídios desses pacientes, foram separados e analisados em laboratório.
  • A comparação entre os exames de sangue dos bons e maus recebedores durante o tratamento permitiu a criação de alguns padrões moleculares que podem ajudar os psiquiatras na escolha da melhor medicação para cada paciente.