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Sintomas e tratamentos da doença


Tristeza causa câncer? Vacina evita tumores? Tire 10 dúvidas sobre a doença

A ciência nunca comprovou que tristeza causa ou prejudica o tratamento do câncer - iStock
A ciência nunca comprovou que tristeza causa ou prejudica o tratamento do câncer Imagem: iStock

Gabriela Ingrid

Do VivaBem, em São Paulo

21/08/2019 04h00

O câncer já é um velho conhecido (e temido) das pessoas. Mas, mesmo com o bombardeio de estudos e notícias sobre a doença, ainda restam dúvidas sobre causas, tratamentos e prevenção.

No último relatório da Iarc (Agência Internacional para Pesquisa sobre Câncer), divulgado em setembro de 2018, a estimativa era que o problema no Brasil podia aumentar mais de 78% até 2040. É um número assustador, considerando que a doença ainda não tem uma cura e a a segunda que mais provoca morte no mundo, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). Por esse motivo, aumentar o conhecimento da população em relação à condição é uma forma de ela saber como se prevenir e estar ciente dos sinais de risco. Afinal, quanto mais cedo se descobre um tumor, maiores as chances de eficácia no tratamento.

Abaixo, listamos 10 perguntas que você sempre quis saber sobre o câncer, respondidas por especialistas na área.

1. O estado emocional pode provocar um câncer ou atrapalhar o tratamento?

Nunca foi demonstrado cientificamente e de maneira evidente que o estresse psicológico ou a condição emocional (tristeza, por exemplo) das pessoas pode desencadear o surgimento do câncer, ou mesmo acelerar o desenvolvimento de um tumor. Na maioria das vezes o câncer surge de maneira esporádica e é difícil determinar ao certo o que gerou seu aparecimento.

Alguns especialistas, entretanto, acreditam que a ligação entre o estado emocional e o câncer possa existir. Às vezes, pessoas que estão respondendo bem ao tratamento têm uma piora do quadro ao perderem algum ente querido, por exemplo. Mas nada é comprovado.

2. Alguns alimentos realmente causam câncer?

A relação entre a alimentação e o câncer não é direta, mas existe. Não dá para garantir que você terá um tumor no intestino, por exemplo, só porque come frequentemente um alimento específico --mesmo que ele esteja associado à doença.

Porém, há, sim, certas comidas que aumentam o risco de desenvolver alguns tipos de câncer. A maioria dos estudos faz essa relação com carnes vermelhas ultraprocessadas (presunto, salsicha, hambúrguer) e fast-food. Comer uma porção de 50 gramas de carne processada por dia, por exemplo, aumenta o risco de câncer colorretal em 18%, de acordo com uma revisão de trabalhos científicos de 2011. (Quem assina a newsletter do VivaBem recebeu esta dica em primeira mão, clique aqui para se cadastrar).

O que causa o câncer, no caso, é o excesso de tal substância e não o alimento em si, e isso vale principalmente para o açúcar, o sal e conservantes/aditivos químicos. No geral, recomenda-se que todas as pessoas tenham uma alimentação equilibrada, rica em frutas, fibras e vegetais; com consumo controlado de gorduras saturadas, gorduras trans e carnes vermelhas processadas.

3. O câncer não tem cura mesmo?

O que os oncologistas chamam de "cura" é um paciente ficar sem a doença por, pelo menos, cinco anos. E isso é mais comum quando há um diagnóstico precoce, ou seja, o tratamento para conter o crescimento do tumor e eliminá-lo começa cedo. Quando o câncer cresce e se espalha --episódio conhecido como metástase -- as chances de controle da doença diminuem. O tipo do tumor também influencia.

Vacina - iStock - iStock
Vacinar-se é um dos métodos para se prevenir de alguns tipos de câncer
Imagem: iStock

4. Quimioterapia e radioterapia são os únicos tratamentos?

Não. A doença também pode ser controlada com cirurgias, transplantes de medula óssea --dependendo do tipo de câncer -- ou imunoterapia. O problema desse último método é que ele custa caro e praticamente não é oferecido na rede pública de saúde.

Na quimioterapia são utilizados medicamentos para combater o câncer e na radioterapia radiações ionizantes (raio-x, por exemplo) destroem ou impedem que as células do tumor aumentem. Já na imunoterapia, são usados anticorpos para estimular o sistema imunológico do próprio paciente a combater o câncer.

Infelizmente menos acessível, a imunoterapia tem bem menos efeitos colaterais, mas é a aposta dos médicos para tratar o câncer no futuro.

De maneira geral, a definição do tratamento oncológico depende do tipo do tumor e do órgão de onde ele se originou; do tamanho e da extensão do comprometimento desse tumor; e das condições clínicas de cada paciente, em que as informações mais relevantes são a idade e as doenças que cada pessoa possa apresentar.

5. Quem teve câncer uma vez na vida tem mais chances de ter de novo?

Quando o paciente teve o diagnóstico de câncer, mesmo após o término do tratamento, existe sempre uma chance de a doença voltar a se manifestar --a chamada recidiva ou recorrência. A doença com recidiva pode voltar a comprometer o mesmo órgão onde o diagnóstico inicial foi realizado ou mesmo se manifestar como metástases em outras partes do corpo.

Além disso, tumores induzidos pelo cigarro, por exemplo, têm chances de aparecerem na mesma pessoa algumas vezes. Além do câncer de pulmão, o tabagista pode ter câncer de boca, garganta, bexiga e pâncreas nos próximos 10 anos após ele ter parado de fumar. Quem teve cânceres de origem hereditária também têm mais chances de recidiva. Veja como exemplo o caso de Angelina Jolie, que retirou as mamas e os ovários após descobrir que tinha a alteração genética BRCA, que dá uma predisposição 80% maior de câncer de mama e 40% de câncer de ovário. Ela poderia ter um ou outro em sequência.

A exposição à radiação também é um fator para alguém ter mais chances de desenvolver mais de um tumor, principalmente de pele ou de tireoide.

6. Existem vírus que causam câncer? Vacinas podem prevenir?

Sim, existem. O mais comum é o HPV (papiloma vírus humano), responsável por 95% dos casos de câncer de colo do útero, mas que também pode causar câncer de pênis, anal e de orofaringe. O sexo sem proteção é apontado como a principal causa de transmissão, mas a camisinha não é 100% eficaz, por isso é recomendada a vacinação de crianças a partir dos nove anos de idade, antes do início da atividade sexual. O governo oferece a imunização gratuita contra o HPV para meninas de 11 a 13 anos.

Além do HPV, os vírus de hepatite B e C podem causar câncer de fígado, devido à inflamação constante que causam no órgão. Ambas doenças são espalhadas por meio de relações sexuais desprotegidas ou por via sanguínea --compartilhamento de seringas, alicates de unha, agulhas de tatuagem ou lâminas de barbear contaminadas. Fazer exames periódicos para a detecção do problema e eventual tratamento, medidas de higiene e precauções durante a prática sexual são essenciais. Mas a melhor forma de se prevenir é com a vacina, que só existe para a hepatite B.

Pessoas com HIV têm 20 vezes mais chance de desenvolver câncer, por causa da imunodeficiência no organismo. Como ainda não existe vacina para evitar a contaminação pelos vírus, as principais recomendações são a prática de sexo com preservativo e evitar o contato com sangue ou materiais contaminados por outras pessoas.

Por fim, o vírus Epstein-Barr, que causa a mononucleose ou doença do beijo, também pode causar tumor de nasofaringe e linfomas. Ele é transmitido por sangue contaminado, saliva (beijos ou bebidas compartilhadas) ou sexo sem proteção. Neste caso, também não há vacina, mas se os tumores forem descobertos na fase inicial, as chances de controle são maiores.

Câncer de pele - iStock - iStock
O melanoma é um dos tipos de câncer tratados com imunoterapia
Imagem: iStock

7. Aparelhos eletrônicos podem causar a doença?

Atualmente não há nenhum estudo científico que tenha mostrado que aparelhos eletrônicos, como celulares ou computadores, sejam responsáveis pelo surgimento de câncer. A quantidade de ondas eletromagnéticas emitidas por estes aparelhos é baixa.

8. Se eu tenho histórico familiar de câncer, meus riscos são muito altos de ter também?

Sim, eles são mais altos. Mas não são todos os cânceres que são hereditários: apenas 10% deles estão nessa categoria, como o de mama e próstata.

9. Cirurgias preventivas realmente funcionam?

Elas não funcionam 100%, porque sempre sobra um pouco do tecido no corpo, por isso devem ser chamadas como redutoras de risco. Mesmo quem faz esse procedimento deve continuar o acompanhamento. As mais comuns são de mama e ovário, mas também é possível fazer a retirada do intestino grosso, em casos de doença inflamatória intestinal ou em quem tem predisposição a vários pólipos intestinais, que aumentam o risco de cânceres na região anos após o aparecimento dessas doenças.

10. Existe algum método 100% eficaz para me prevenir de um câncer?

Não. O câncer não é uma doença igual para todos os pacientes e suas causas podem variar muito. Mesmo com os exames mais modernos hoje disponíveis, na maioria das vezes não é possível saber qual foi a causa que levou ao surgimento do câncer de um paciente.

O mais importante para a prevenção da doença é manter hábitos de vida saudáveis. Recomenda-se uma alimentação equilibrada, rica em frutas, fibras e vegetais e com consumo controlado de gorduras, carnes vermelhas processadas; controle da obesidade e atividade física regular; não expor-se em excesso ao sol; não fumar e consumir álcool com moderação; praticar sexo de forma segura, com preservativos; e seguir as recomendações do Ministério da Saúde para vacinação contra o HPV e a hepatite B. Para determinadas doenças, como o câncer de mama, câncer de colo uterino e câncer colorretal, existem indicações de exames regulares para a prevenção e/ou diagnóstico precoce --veja aqui o que realmente funciona para prevenir um câncer.

Fontes: Oren Smaletz, oncologista do Hospital Israelita Albert Einstein; Rudinei Linck, oncologista do Hospital Sírio-Libanês; Inca (Instituto Nacional de Câncer).