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Bactéria presente no intestino impediu obesidade em ratos

Um intestino saudável pode ter relação com a perda de peso - Luat Nguyen, University of Utah Health
Um intestino saudável pode ter relação com a perda de peso Imagem: Luat Nguyen, University of Utah Health

Danielle Sanches

do UOL VivaBem, de São Paulo

26/07/2019 12h52

Resumo da notícia

  • Cientistas descobriram que ratos com a bactéria Clostridia presente no intestino absorviam menos gordura e ganhavam menos peso
  • Ao retirá-la, houve um efeito contrário, o que fez os cientistas concluirem a importância dela e acreditarem que podem replicar isso em humanos
  • O próximo passo é isolar as moléculas produzidas pela Clostridia para determinar se elas podem ajudar a desenvolver tratamentos

Não é de hoje que os estudos envolvendo as bactérias presentes no intestino descobrem cada vez mais ligações importantes com a saúde geral do corpo. Em um novo estudo, publicado no jornal Science, pesquisadores da University of Utah Health (Estados Unidos), identificaram uma bactéria específica no intestino de ratos que previne a obesidade neles --sugerindo que esse efeito pode ser alcançado também em seres humanos.

Chamada de Clostridia, a bactéria benéfica é parte da microbiota, como é chamado o conjunto de bactérias e outros micro-organismos que habitam nossos intestinos.

O trabalho mostrou que os ratos saudáveis possuem grandes quantidades de Clostridia --uma classe que inclui entre 20 e 30 tipos de bactérias -- mas que animais mais velhos e com um sistema imunológico debilitado, não. Então, mesmo comendo uma dieta saudável, os ratos mais velhos inevitavelmente se tornavam obesos.

Como o estudo foi feito

  • O time de cientistas observou que alguns ratos que foram geneticamente modificados para terem o sistema imunológico comprometido e haviam sido mantidos vivos por mais tempo que o normal em laboratórios tinham se tornado obesos durante o processo de envelhecimento;
  • A suspeita recaiu sobre a microbiota, já que os cientistas já haviam comprovado, em pesquisa anterior, que o sistema imunológico mantém o equilíbrio entre as bactérias presentes no intestino;
  • Partindo dessa premissa, os médicos determinaram que a obesidade nos ratos vinha da incapacidade do sistema imunológico em reconhecer as bactérias benéficas, tornando o intestino mais hostil ao crescimento da Clostridia;
  • Sem essa bactéria, o intestino dos ratinhos passou a absorver mais gordura e a ganhar mais peso. Com o tempo, os animais também desenvolveram sinais de diabetes tipo 2;
  • Já os ratos tratados para que tivessem apenas Clostridia vivendo em seus intestinos eram mais magros e com menos gordura corporal do que os ratos que não tinham uma microbiota saudável.

Por que isso é importante?

De acordo com os pesquisadores, os insights obtidos a partir da pesquisa podem levar a uma abordagem terapêutica, com vantagens sobre os transplantes fecais e probióticos. Estes têm sido amplamente investigados como formas de restaurar uma microbiota saudável.

"Agora que nós encontramos a bactérias responsáveis por esse efeito emagrecedor, nós temos o potencial para realmente entender o que os microrganismos estão fazendo e se têm algum valor terapêutico", diz June Round, professora associada de Patologia na University of Utah Health e uma das autoras do estudo.

Terapias como esta, baseadas na transferência de microrganismos vivos para o intestino, não funcionam para todos por conta da diferença na dieta e outros fatores que influenciam na sobrevivência e desenvolvimento das bactérias.

O próximo passo é isolar as moléculas produzidas pela Clostridia e que previnem a absorção de gordura para investigar o seu funcionamento e determinar se elas podem ajudar a desenvolver tratamentos focados em obesidade, diabetes tipo 2 e outras doenças relacionadas ao metabolismo.

Round lembra que algumas pesquisas feitas por outros médicos já evidenciaram que pessoas que estão obesas também apresentam a falta da bactéria Clostridia, situação semelhante à dos ratos do estudo. Também há evidências científicas de que pessoas obesas ou com diabetes tipo 2 podem ter um sistema imunológico comprometido.

A esperança é que, ao entender essas conexões, seja possível ter novos insights sobre como prevenir e tratar esses problemas. "Esse trabalho vai abrir novos caminhos de investigação sobre como o sistema imunológico regula a microbiota e as doenças metabólicas", diz.