Topo

É verdade que mulher é mais tolerante à dor do que homem?

Bárbara Stefanelli

Colaboração para o UOL VivaBem

08/05/2019 04h00

Você provavelmente já escutou por aí ou se deparou com algum meme falando de como a mulher é mais resistente à dor que o homem. Piadas do tipo "durante o parto, a dor é tão forte que a mulher pode imaginar como é o sofrimento de um homem com febre" se espalham na internet.

No entanto, por mais que essas brincadeiras sejam engraçadas, elas não retratam bem o que ocorre na realidade e estudos científicos comprovam o contrário: na realidade, são os homens que suportam melhor a dor.

Mulheres "reclamam" mais de dor

A crença de que mulheres são mais resistentes provavelmente nasceu porque muitas passam por gestação e parto, amamentam e ainda se acostumaram com as cólicas menstruais todo mês. No entanto, em uma pesquisa do centro médico da Universidade Stanford (EUA) feita com mais de 72 mil pessoas, as mulheres relataram ter sentido dor mais intensa do que os homens em praticamente todas as doenças --ou seja, foram menos resistentes ao incômodo.

Um outro estudo, realizado pela Universidade de Bath (Reino Unido), mostrou que as mulheres não apenas se queixam mais de dor durante a vida como também relatam episódios dolorosos com frequência e duração maiores e em mais áreas do corpo do que os homens. Essa constatação, segundo os pesquisadores, poderia ajudar a estabelecer tratamentos diferenciados.

Mais um trabalho, da Universidade do Alabama em Birmingham (EUA) e publicado no Journal of Neuroscience Research em 2016, mostra, inclusive, que as mulheres sofrem mais de dor crônica que os homens. Ou seja, há uma série de indícios científicos que provam que as mulheres não apenas têm mais momentos de dor como são mais sensíveis ao desconforto. Mas por quê?

Por que as mulheres sentem mais dor?

A dor funciona como uma resposta do corpo a alguma agressão e muitos fatores influenciam nesse reflexo. Um deles é a produção hormonal. O estrogênio, hormônio presente em maior quantidade no organismo feminino, é o que está mais ligado à percepção de dor.

Um estudo realizado pelo John Radcliffe Hospital, da Universidade de Oxford (Reino Unido), mostra que, até a puberdade, quando os jovens ainda não têm a produção total do hormônio sexual, a dor é percebida da mesma maneira pelos dois gêneros. A partir dessa fase, a mulher passar a sentir mais a dor. Ainda assim, cada indivíduo, independentemente do sexo, tem uma maneira de agir diferente diante de uma lesão ou machucado.

Fatores emocionais e culturais influenciam

Outras variáveis, além das fisiológicas, interferem na sensação. Se a pessoa está mais fragilizada, ansiosa ou deprimida, vai responder com mais sensibilidade a um sofrimento físico. Também é fato que a mesma pessoa pode reagir de modo distinto a um incômodo em épocas diferentes da vida. As mulheres, por exemplo, sentem dor de acordo com o ciclo menstrual - durante a menstruação, quando há uma maior produção de estrogênio, a tendência é ficarem menos tolerantes à dor.

Fatores socioculturais também têm sua parcela de responsabilidade. Por exemplo, em uma sociedade em que os indivíduos têm mais liberdade de se expressar, provavelmente o cidadão se permitirá sentir mais dor. Uma revisão de artigos realizada pela Universidade Johns Hopkins (Estados Unidos) mostrou que as diferenças étnicas na resposta e no tratamento da dor são devidas a uma ampla gama de possibilidades.

Mas, de acordo com trecho do trabalho, "as diferenças socioculturais relacionadas ao paciente, desde as tradições familiares e crenças religiosas até experiências anteriores, influenciam as disparidades na dor. A etnia pode ter uma grande influência sobre o significado da dor e como ela é avaliada e respondida de forma emocional e comportamental".

Apesar de sentirem mais dor, mulheres lidam melhor

Vale dizer que, apesar de as mulheres sofrerem mais, elas costumam enfrentam melhor as situações de dor e estresse. De acordo com Marcelo Demarzo, médico especialista em mindfulness e colunista do VivaBem, a mulher costuma desenvolver estratégias de enfrentamento e autocuidado mais efetivas que os homens.

Fontes: Alfredo Salim, clínico-geral do Hospital Sírio Libanês (SP); Marcelo Demarzo, médico especialista em mindfulness e colunista do VivaBem; e Roberta Risso, médica especialista no tratamento da dor do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (SP).

SIGA O UOL VIVABEM NAS REDES SOCIAIS
Facebook - Instagram - YouTube