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Sabia que o linho vem da linhaça? Entenda como esse grão foi parar no prato

A linhaça é a semente do linho, planta usada para fazer o tecido do mesmo nome - iStock
A linhaça é a semente do linho, planta usada para fazer o tecido do mesmo nome Imagem: iStock

Wivian Maranhão

Colaboração para o UOL VivaBem

18/04/2019 04h00

Resumo da notícia

  • A linhaça é a semente da planta do linho, mas com a queda de seu uso para tecidos, acabou sendo usada na alimentação
  • Vendida como superalimento, ela realmente tem propriedades benéficas para a saúde, como a presença de fibras e ômega 3
  • Agora o algodão também tem ganho espaço culinário, com o uso de seu óleo para frituras de imersão

Poucos sabem, mas a linhaça, largamente consumida hoje em dia pela sua rica carga nutricional, tem um histórico no mínimo curioso. Antes de reinar absoluta nas saladas e na preparação de pães e outras delícias, ela foi matéria-prima principal na indústria têxtil há séculos.

Não à toa, a bata de Cristo era de linho. Você sabia? Pois é, originário da planta do linho, pertencente à família das lináceas, cuja semente é a linhaça. Muito tempo depois, no entanto, essa semente perdeu seu trono para o algodão, que se tornou mais popular e lucrativo e dominou o mercado mundial na fabricação de fios e tecidos.

Da indústria têxtil para a alimentícia

Assim, pouco a pouco, a linhaça foi saindo de cena do vestuário da população e entrando de mansinho nas cozinhas, primeiro com seu óleo e depois a própria semente, divulgada à exaustão pela indústria alimentícia.

O marketing em torno da linhaça ganhou força com a onda dos alimentos com propriedades funcionais. Por ser rica em ômega-3, ela conseguiu ser classificada dentro dessa categoria, o que lhe rendeu preços altos no mercado de alimentação.

Mas então é tudo só marketing?

Por mais que o marketing tenha valorizado o alimento, vale a pena sim inclui-lo no prato. São vários os estudos que relacionam os efeitos positivos da linhaça na prevenção e tratamento de várias disfunções e enfermidades. E não é difícil entender essa frequente relação, já que esta oleaginosa possui três componentes que apresentam ações farmacológicas importantes.

- Lignana: esse polifenol tem efeito protetor contra o câncer. Estudo realizado na Universidade Federal de Santa Maria (UFRS), no Rio Grande do Sul, indica que ela atua boqueando enzimas envolvidas no metabolismo hormonal e interferindo no crescimento e metástase de células tumorais, embora os mecanismos propostos para a inibição do desenvolvimento do tumor são poucos esclarecidos. Já outro estudo identificou na literatura, possível conversão dessa mesma lignana em um produto semelhante ao estrogênio, ajudando na prevenção, portanto, o câncer de mama, osteoporose e até no auxílio em sintomas da menopausa.

- Fibras: a linhaça tem quatro vezes mais a quantidade delas do que a aveia. Resultado, ela regulariza o funcionamento do intestino e aumenta o volume do bolo fecal e da reabsorção da água, prevenindo, dessa forma, a constipação e doenças intestinais, além de prolongar a saciedade. Diminui ainda o impacto glicêmico, quando consumida em conjunto com alimentos fontes de carboidratos, evitando que se armazenem em forma de gordura.

- Ácido alfa-linoleico: uma das parcelas do ômega 3, ele favorece maior fluidez sanguínea; reduz o LDL-colesterol (colesterol "ruim") e evita a formação das placas de gorduras nas artérias - prevenindo o risco de doenças cardiovasculares. Tem também ação anti-inflamatória --auxiliar no tratamento de diversas patologias como artrite reumatoide -- e antioxidante, neutralizando os efeitos prejudiciais dos radicais livres, provocados por diversos fatores como alta exposição ao sol. Ou seja, uma arma poderosa contra o envelhecimento precoce.

Para desfrutar dos seus benefícios, especialistas afirmam que a ingestão de 10 g de linhaça ao dia é mais do que suficiente. Como a casca da semente de linhaça é bastante resistente, podendo passar intacta pelo aparelho digestivo --e logo, não aproveitar todos os seus nutrientes --, recomenda-se triturá-la para que mais componentes benéficos sejam liberados. Entretanto, a linhaça moída ou triturada deve ser consumida logo, por ser muito suscetível a oxidação, ou ser mantida em refrigeração.

Algodão está seguindo o mesmo caminho

A semente do algodão, rica em óleos, também está se encaminhando para o prato, agora na forma do óleo de algodão.

Entre seus efeitos positivos, estudos publicados sugerem:

  • Fortalecimento do sistema imunológico, por ser rico em vitamina E;
  • Prevenção de doenças como infecções, graças aos seus compostos antioxidantes;
  • Redução da inflamação no organismo, fruto da ação do ômega 3 (um anti-inflamatório natural);
  • Além da prevenção de doenças cardiovasculares, por ajudar a controlar o colesterol e prevenir a formação de placas.

Faltam mais estudos para validar ainda mais suas propriedades, mas hoje os especialistas consultados pelo UOL VivaBem o indicam como uma boa alternativa ao uso dos óleos de soja, milho ou canola tradicionais, com a vantagem de não perder suas propriedades nutritivas mesmo quando elevado a altas temperaturas. Ou seja, é ideal para frituras.

Entretanto, recomenda-se cautela em seu uso, pois trata-se de um óleo que contém também muitas gorduras saturadas pouco saudáveis - 2 colheres de sopa por dia para cada pessoa seriam o suficiente.

Vale saber que atualmente a indústria alimentícia tem procurado melhorar ainda mais a qualidade nutricional do óleo do algodão, visando diminuir exatamente a porcentagem desses ácidos graxos, conforme aponta artigo de biotecnologia publicado no Serviço Nacional de Aprendizagem Rural.

Fontes: Durval Ribas Filho, nutrólogo e presidente da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia); Janainna Mazelli, nutricionista da área de oncologia do Hospital Sírio Libanês e Roseli Rossi, nutricionista, especialista em Nutrição Clínica e Esportiva, pós-graduada em Fitoterapia aplicada à Nutrição Funcional e em Planejamento, Organização e Administração de Serviços de Alimentação.

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