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Longevidade

Práticas e atitudes para uma vida longa e saudável


Quem quer ser um centenário? Veja o que diz a ciência antienvelhecimento

A expectativa de vida cada vez mais alta deve ser comemorada. - iStock
A expectativa de vida cada vez mais alta deve ser comemorada. Imagem: iStock

Chloé Pinheiro

Colaboração para o VivaBem

09/06/2018 04h00

Em 2050, os idosos serão um quinto da população mundial. E os especialistas estão certos de que os bebês nascidos hoje têm grandes chances de passar dos cem anos. A partir daí, há um limite que parece difícil de ser ultrapassado.

“O aumento da expectativa de vida será possível graças aos avanços da medicina e a um melhor controle de doenças como o câncer e o colesterol, mas para atingir idades como 150 anos só se passarmos por uma evolução da espécie”, opina Maísa Kairalla, geriatra presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia - Seção São Paulo.

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O que não quer dizer, entretanto, que esse processo não possa receber uma ajudinha da ciência. “Nada impede que, com a tecnologia, no futuro sejamos capazes de curar o envelhecimento”, opina João Pedro de Magalhães, biólogo pesquisador da Universidade de Liverpool, na Inglaterra. O desafio agora é entender os mecanismos que fazem o corpo, depois de décadas, começar a falhar.

No Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, por exemplo, há uma linha de pesquisa dedicada à proteína klotho, presente nas nossas células e cuja falta pode acelerar o envelhecimento. “Animais que possuem níveis baixos dessa substância apresentam problemas como aterosclerose e déficits cognitivos antes da idade esperada”, comenta Cristoforo Scavone, bioquímico coordenador do Departamento de Farmacologia do Instituto de Ciências Biomédicas da USP. 

A equipe liderada por ele mediu a proteína em pessoas com disfunções nos rins que apresentavam algum déficit cognitivo, duas falhas típicas de corpos com idade avançada. “Observamos nesses indivíduos uma queda nos níveis de klotho, agora precisamos entender como ela atua no sistema nervoso central”, conta Scavone.

A expectativa é a de que aumentar a circulação de klotho no organismo possa um dia ajudar a atrasar o aparecimento de certos males da idade, tanto os sistêmicos que prejudicam a saúde cardiovascular quanto os que atrapalham a mente. “Ela já demonstrou atuar positivamente no cérebro de animais com declínio semelhante ao causado por doenças como Parkinson e Alzheimer em outros trabalhos”, indica Scavone. 

É possível viver para sempre?

idosa simpática - iStock - iStock
Quanto mais longe, melhor
Imagem: iStock

Primeiro é preciso entender também porque envelhecemos. “Existem teorias que falam de danos ao DNA, mas na verdade ainda não compreendemos muito bem porque envelhecemos, o fato é que é um processo que provoca doenças e é nesse sentido que podemos intervir agora”, diz Magalhães.

A resposta pode estar na genética. O grupo de Magalhães estuda o DNA de animais que são longevos, como as baleias-da-Groenlândia. Enormes, esses mamíferos vivem (estima-se) 200 anos. E com saúde: são resistentes ao câncer, um dos agentes que ataca as células com o passar do tempo. É provável que eles tenham algo escrito em seu genoma que os faça viver tanto. 

“Já identificamos mutações em alguns genes delas envolvidos nos danos ao DNA, no metabolismo e no ciclo circadiano que podem estar ligados à longevidade”, completa o médico. A próxima etapa é avaliar se ratos criados com esses genes também viverão mais. “Mas isso são ideias para o futuro, e essas técnicas ainda não se aplicam a humanos”, destaca, que aponta como próxima novidade mais palpável nesse campo os medicamentos que conseguem interferir na ação desses genes

Longevidade em cápsulas

Alterar o metabolismo a nosso favor é uma das frentes mais próximas de virar realidade. Nos ratos, métodos como a restrição calórica já demonstraram um crescimento de até 40% na expectativa de vida

Está bem claro que reduzir as calorias mantendo os níveis de vitaminas e nutrientes na dieta tem um efeito substancial no aumento da longevidade dos animais” João Pedro de Magalhães, biólogo pesquisador da Universidade de Liverpool, na Inglaterra

Em humanos isso não é tão simples, pois o estresse gerado pela fome mais atrapalha do que ajuda, sem contar que os efeitos colaterais da técnica ainda precisam ser elucidados. Mas há alguns remédios em desenvolvimento que tentam produzir as mesmas alterações hormonais e celulares que o jejum provoca e que estariam ligadas ao benefício.

Outros estudos conduzidos com voluntários pelo mundo testam substâncias que modulam hormônios e combatem a oxidação das células. “Creio que num futuro próximo essas drogas já terão efeito, nada drástico, mas serão capazes de aumentar entre 5 e 10% da longevidade de uma pessoa”, afirma Magalhães.

Combater as doenças é preciso

Enquanto não se descobre o segredo para a vida eterna, uma coisa é certa: a expectativa de vida cada vez mais alta deve ser comemorada, mas representa um desafio para a saúde pública. “Quanto mais as pessoas vivem, mais ficam doentes, é uma situação muito complexa”, aponta David Leather, médico líder da GSK para doenças respiratórias.

Por isso, mesmo que ainda estejamos longe de manipular genes humanos, há uma outra linha de esforços para controlar melhor os males que quase certamente atingirão quem chegar na terceira idade. São as doenças pulmonares, como a DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica); os problemas cardiovasculares, líderes do ranking de mortalidade da Organização Mundial de Saúde e os derrames.

Aqui entra uma parte mais vida real da história, longe de manipulação de genes e de drogas da longevidade. Isso porque todas as doenças acima estão relacionadas em grande parte com maus hábitos como sedentarismo, alimentação cheia de processados e cigarro.

A genética tem um papel importante, mas 70% da nossa velhice será determinada pelos hábitos que adquirimos durante a vida”  Maísa Kairalla, geriatra presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia - Seção São Paulo

“Na pessoa que pratica exercícios, é possível ter uma idade cronológica diferente da biológica. Uma pessoa de 70 anos pode ter o organismo de uma de 40”, comenta Scavone. “Eles estimulam o organismo a manter sua capacidade de resposta e, assim, garantir proteção a todos os órgãos”, emenda.

Também não dá para falar de envelhecimento sem falar de câncer. “Ele é, acima de tudo é uma doença do envelhecimento, porque deriva de mutações genéticas e elas ocorrem muito mais com a idade, então para proporcionar uma vida mais longa precisamos retardar seu aparecimento”, diz Magalhães. Mas o fim dos tumores é assunto para outra pauta.

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