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Longevidade

Práticas e atitudes para uma vida longa e saudável


"Aprendi a ser feliz na velhice passando conhecimento e vivendo o presente"

Paul Rogers/The New York Times
Imagem: Paul Rogers/The New York Times

Jane E. Brody

Do New York Times

22/03/2018 16h25

Qual é a melhor maneira de criar uma perspectiva saudável na velhice? Passe mais tempo com idosos e descubra o que proporciona sentido e prazer nessa fase apesar das perdas, tanto físicas quanto sociais, que eles podem ter sofrido.

É isso o que dois autores de livros inspirados e inspiradores sobre envelhecimento descobriram e, felizmente, se deram ao trabalho de contar àqueles que provavelmente entrarão para as fileiras dos muitos idosos no futuro não tão distante. Na verdade, a sabedoria aí presente pode muito bem ser igualmente valiosa para jovens e pessoas de meia-idade que talvez temam envelhecer.

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Para seu detrimento, alguns podem até evitar o convívio com idosos com medo de pegar sua "doença". Muitos em nossa cultura focada na juventude contemplam os idosos com medo ou desdém e os consideram custosos consumidores de recursos que pouco oferecem em troca.

Diante do rimo explosivo da tecnologia que tantas vezes desconcerta os mais velhos, eles pedem pouco ou nenhum respeito pelo repositório de sabedoria que já foi admirado pelos jovens (e continua sendo em algumas sociedades tradicionais).

O primeiro livro que li foi "The End of Old Age", de Marc E. Agronin, psiquiatra geriátrico do Miami Jewish Home, cujas décadas de cuidado com os idosos lhe ensinaram que é possível manter propósito e sentido na vida mesmo diante de doenças e deficiências significativas, funcionamento físico e mental prejudicado e participação limitada em atividades.

O segundo livro, "Happiness Is a Choice You Make", foi escrito por John Leland, repórter do "New York Times", que passou um ano entrevistando e aprendendo com seis moradores idosos da cidade, com mais de 85 anos, de diversas culturas, formações e experiências de vida.

Como Leland me disse: "Essas pessoas mudaram totalmente minha vida. Elas abriram mão de distrações que nos levam a cometer burrices e se concentraram no que é importante para elas. Não se preocupam com coisas que podem acontecer. Preocupam-se quando acontecem e, mesmo assim, não se preocupam muito. Simplesmente lidam com o fato. Independentemente da idade que tenhamos, podemos escolher nos adaptar ao que acontece. Temos o poder de decidir se deixamos ou não as coisas nos derrubarem."

Após a leitura dos livros, tenho uma nova maneira de olhar para mim mesma: como uma pessoa idosa "o bastante", que continua a buscar e curtir uma série de atividades proporcionais às limitações impostas pelas mudanças inevitáveis no corpo e na mente, advindas de nossas muitas primaveras.

Não tem problema se palavras ou grafias me fogem temporariamente. Sempre posso pedir para o Google ou para a Siri preencher as lacunas.

Adoro a história no livro de Agronin sobre o renomado pianista Arthur Rubinstein, "que lidava com os declínios causados pela idade em sua habilidade ao escolher um repertório mais limitado, otimizando o desempenho ensaiando mais e compensando fazendo alterações no ritmo durante certos trechos para destacar as dinâmicas de uma obra".

Agronin escreveu com reverência por Gene D. Cohen, um dos fundadores da psiquiatria geriátrica, que "viu não apenas o que é o envelhecimento como também o que ele poderia ser; não o que realizamos apesar do envelhecimento, mas por causa dele". No modelo de envelhecimento criativo de Cohen, as pessoas têm o potencial de ver a possibilidade em vez de problemas; o envelhecimento em si pode abrir caminho para novas e ricas experiências, oferecendo uma forma de renovar paixões e se reinventar.

Existem atividades que eu antes adorava e que não posso mais fazer, ou que não quero necessariamente fazer, como jogar tênis, esquiar ou patinar no gelo. Mas ainda consigo caminhar, nadar e brincar com meu cachorro, atividades que resultaram em muitos prazeres inesperados e novos amigos.

Posso acompanhar meus netos a museus e me deliciar com seu conhecimento dos impressionistas que estudaram na aula de educação artística no ensino médio. Quando lhes dei ingressos para me acompanharem à ópera, um disse sorrindo: "Acho que vou aprender um pouco de cultura".

Eu já sei que se e quando minha capacidade física se tornar ainda mais limitada, posso ter conversas significativas com esses garotos que, rápido demais, estão se tornando rapazes.

Eles podem saber como reiniciar meu celular ou encontrar canais escondidos na minha televisão, mas eu posso ajudá-los a colocar suas experiências de vida em perspectiva e apoiar uma decisão de deixar a zona de conforto e correr riscos que oferecem crescimento potencial.

Como uma das pacientes mais jovens de Agronin disse, mesmo quando o declínio físico e as perdas restringem as opções de alguém, existe a capacidade de apreciar e de encarar cada dia com um sentimento de propósito. "É tudo uma questão de como olhamos a situação", ela lhe declarou.

Ele citou o conceito de "envelhecimento positivo" desenvolvido por Robert D. Hill, psicólogo de Salt Lake City, que é "afetado pela doença e as limitações, mas que não depende de evitar esse envelhecer". Pelo contrário, é "um estado mental positivo, otimista, corajoso e capaz de se adaptar e lidar com as mudanças da vida de forma flexível".

Ou, como Cohen constatou, a criatividade não está limitada aos jovens. Em qualquer idade, ela pode abrir as pessoas a novas possibilidades e acrescentar riqueza à vida. De acordo com Cohen, a criatividade pode beneficiar o envelhecimento fortalecendo o moral, aprimorando a saúde física, enriquecendo as relações e estabelecendo um legado.

Agronin citou dois exemplos notáveis: Henri Matisse – "o homem que se levantou dos mortos" após uma cirurgia de câncer em 1941 – que criou colagens quando não conseguia mais pintar, e Martha Graham, que se reinventou como coreógrafa quando não pôde mais dançar.

Segundo Agronin, quando não conseguimos mais buscar os papéis e as paixões dos anos da juventude, podemos buscar força e inspiração no passado. Podemos tentar algo novo que pode ser uma extensão do que fazíamos ou que nos leve em outra direção.

E, como Leland descobriu, não há espaço para ressentimentos na velhice feliz. Embora eu não tenha ganho o prêmio Pulitzer, os "prêmios" que recebi de milhares de leitores agradecidos que foram ajudados pelos meus textos nos últimos 50 anos são muito mais importantes.

Esses leitores me inspiram a continuar fazendo o que faço de melhor – fornecer informação sobre saúde capaz de salvar vidas e inspiração baseada nos melhores trabalhos científicos atualmente disponíveis.

Citando o trabalho de Laura L. Carstensen, diretora fundadora do Centro Stanford para Longevidade, Leland escreveu que "os idosos, cientes de que têm um tempo limitado diante de si, concentram as energias em coisas que lhes dão prazer no momento" e não num futuro que pode nunca chegar.

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