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Tornar energia verde barata é a solução para o aquecimento global, diz o cético Bjorn Lomborg

Lilian Ferreira

Do UOL Ciência e Saúde

29/11/2010 07h00

O ambientalista dinamarquês Bjorn Lomborg já foi visto como mais um pesquisador a questionar a existência do aquecimento global. Hoje, ele afirma que o evento ocorre e é, sim, efeito da ação do homem. Mas sua voz continua dissonante em relação a dos estudiosos do setor: Lomborg não é a favor das metas de redução de emissão dos gases de efeito estufa.

“Há quase duas décadas se discutem metas de redução de emissão de gases sem chegar a lugar nenhum. Há 16 anos essas convenções do Clima falham e o protocolo de Kyoto também não está funcionando. Depois da Convenção de Copenhague, os países estão começando a ver que talvez haja uma solução mais inteligente”, afirmou o polêmico ambientalista, em entrevista ao UOL Ciência e Saúde.

Para ele, a definição de metas é inviável e prejudicial, pois prejudica a economia. A saída é o investimento em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias de geração de energia que não poluam o meio ambiente. “Modelos indicam que isto é 500 vezes mais efetivo no combate ao aquecimento global do que o corte nas emissões”, salienta.

É a máxima: “o carvão não deixou de ser usado porque acabou, mas sim porque o petróleo é mais eficiente e relativamente barato”. Então, ele conclui, a energia verde só irá substituir de vez os combustíveis fósseis quando for mais barata e eficiente.

“Não devemos fazer mais políticas como Kyoto, temos que trabalhar para tornar a energia verde mais barata, e isso só acontece com investimento em pesquisa em tecnologias verdes inteligentes”. Ele diz que na tendência atual, estamos condenando milhões de pessoas à pobreza ao tentar fazer os combustíveis fósseis serem mais caros em vez de baratear a energia verde.

De acordo com o cientista, hoje investimos apenas U$ 2 bilhões em desenvolvimento de energia verde. Um investimento de 0,2% do PIB mundial (ou US$ 100 bilhões) por ano seria muito mais barato do que tentar cortar as emissões e ainda diminuiria o aquecimento global muito mais rápido. “A sacada é fazer a energia verde ser tão barata que todos vão querer usá-la e a redução das emissões será consequência”.

Ao analisar a produção de energias que não emitem gases do efeito estufa hoje, um estudo do Copenhagen Consensus Center, do qual Lomborg é diretor, concluiu que, baseado no crescimento econômico atual, em 2050, as fontes de energia alternativas irão produzir menos da metade da energia necessária para se estabilizar as emissões.

Adaptar é mais barato que cortar

Além disso, Lomborg defende que é mais barato se adaptar às mudanças climáticas do que cortar emissões. Por exemplo, não seria muito caro transferir a tecnologia da Holanda, que adaptou o país com diques para viver abaixo do nível do mar, para aqueles que correm risco de desaparecer pela alta dos mares.

Uma alternativa para amenizar os efeitos das ilhas de calor, evento que retém calor nas grandes cidades, seria pintar telhados e estradas de branco. “Claro que isso não resolve todo o problema, mas é uma maneira barata de tornar as cidades mais frias”. A estratégia poderia diminuir as temperaturas em 5 graus fahrenheit. Segundo ele, o investimento de U$ 1 bilhão na pintura de Los Angeles, reduziria a temperatura na cidade mais do que o aquecimento global a aumentaria nos próximos 90 anos.

Lomborg cita uma pesquisa de Richard Tol que diz que o custo do corte em 25% das emissões de todos os países seria de U$ 40 trilhões em 2100, enquanto os prejuízos causados pelo aquecimento seriam de U$ 1 trilhão (se as decisões fossem as mais efetivas possíveis). Além disso, ele afirma que o bloqueio econômico a países poluidores e o endurecimento das negociações internacionais poderiam causar uma perda de U$50 trilhões, uma quantia significativa, especialmente para os países mais pobres, que mais sofrem as consequências do aquecimento global.

“Cool It” – Uma Verdade Inconveniente 2.0

Um documentário que apresenta as principais ideias de Lomborg está prestes a entrar em cartaz, com o nome "Cool It" ("Fique frio", em tradução livre). Várias críticas indicam que o filme seria uma “resposta” ao documentário “Uma Verdade Inconveniente”, do ex-vice-presidente dos EUA Al Gore, que chamou muita atenção para os perigos do aquecimento global em 2006.
 
“O filme de Al Gore foi importante para alertar sobre as consequências do aquecimento global, mas de uma maneira que assustou as pessoas. Agora o 'Cool It' é como caminhamos a partir daí e o que realmente funciona para combater o problema”, explica.

Ele diz que no filme de Al Gore alguns dados foram usados exageradamente para atrair mais pessoas para a questão. “O filme falava em aumento do nível do mar em seis metros, o que não é verdade. As pesquisas atuais indicam um crescimento de 18 a 59 cm neste século”.

O furacão Catrina também foi usado, ao destacar que o mundo seria cada vez mais atingido por furacões por causa do aquecimento global. “Mas a verdade é que tivemos menos impactos de furacões nos últimos 30 anos. Se estamos preocupados com as pessoas que sofreram no furacão, devemos investir em ações de adaptação nas cidades atingidas”.

“Além disso, para se salvar ursos polares, proibir a caça seria muito mais eficiente do que o corte das emissões de gases do efeito estufa”, alfineta.

“O aquecimento global tem impacto nas mudanças climáticas, mas eles são em lugares remotos e muito menos espetacular do que o esperado”, conclui.