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Infecção por zika pode aumentar risco de dengue mais grave

Infecção por zika pode aumentar risco de dengue mais grave -                                 Rovena Rosa/Agência Brasil
Infecção por zika pode aumentar risco de dengue mais grave Imagem: Rovena Rosa/Agência Brasil

28/08/2020 00h00

Pessoas com anticorpos contra o vírus da zika são mais vulneráveis a infecções mais graves com certos tipos de dengue, o que também poderia complicar a busca de uma vacina contra a primeira doença, segundo um estudo divulgado hoje pela revista especializada "Science".

A pesquisa, realizada na Nicarágua e baseada em dados de crianças que viveram uma epidemia de zika em 2016 e uma de dengue em 2019, é a primeira a estudar os efeitos da imunidade do vírus da primeira doença sobre a segunda.

O estudo afirma que a infecção anterior por zika aumenta significativamente o risco de formas mais graves e sintomáticas de dengue, como explicou uma das responsáveis pela pesquisa, a cientista Leah Katzelnick, da Universidade da Califórnia em Berkeley.

A interação pode tornar difícil para os pesquisadores projetar uma vacina segura e eficaz que proteja contra a zika sem também aumentar o risco de dengue, disse a universidade em comunicado.

A dengue é causada por quatro tipos de flavivírus intimamente relacionados, cada um dos quais pode atacar com um conjunto ligeiramente diferente de sintomas e severidade. Ter um deles pode aumentar a probabilidade de uma pessoa desenvolver uma segunda doença, mais grave, quando infectada por um tipo diferente desses vírus.

Entretanto, quando uma pessoa foi infectada com dois tipos, ela geralmente ganha algum grau de proteção imunológica contra futuras severidades da enfermidade.

A equipe acompanha há anos um grupo de vários milhares de crianças que vivem em Manágua para rastrear quaisquer sinais de dengue, chikungunya e zika, e todos os anos eles coletam amostras de sangue para testar vírus e anticorpos.

A equipe chegou à capital da Nicarágua no ano passado, no início de uma epidemia do vírus da dengue tipo 2, um dos mais graves. Foi o primeiro grande surto desde a epidemia de zika em 2016.

Naquele momento, eles coletaram dados do grupo de crianças que estavam acompanhando e de outro grupo de menores tratados em um hospital infantil próximo, e observaram que ter uma infecção por zika anterior tornava mais provável que uma pessoa tivesse uma infecção sintomática de dengue.

Conforme os casos aumentavam, descobriram que a infecção anterior por zika também poderia aumentar a gravidade da dengue. A equipe recorreu ao banco de sangue de 2004 para investigar outros padrões de doença e descobriu que pessoas com uma infecção por dengue, seguida por uma por zika, ainda corriam alto risco de desenvolver uma segunda infecção mais grave da primeira doença.

Quando confrontado com um vírus, o corpo ativa vários tipos de defesa e, no caso das duas enfermidades, um deles causa anticorpos para revestir o vírus, neutralizando-o.

Entretanto, quando um anticorpo projetado para se apegar a um vírus como o da zika tenta se apegar a um ligeiramente diferente, ele não consegue neutralizá-lo, então quando uma célula imune tenta quebrar o vírus da dengue, ele pode acabar sendo infectado.