Tomografia x câncer: novo estudo alerta sobre o uso desnecessário do exame

Pesquisadores americanos alertaram no último dia 14 de abril sobre os riscos de exames de tomografia computadorizada —um procedimento padrão para obter imagens detalhadas de estruturas internas do corpo para o diagnóstico de doenças. Segundo um estudo, se o uso excessivo desse método não diminuir, exames de tomografia poderão ser responsáveis por 5% dos casos de câncer registrados em um ano.

"A tomografia computadorizada pode salvar vidas, mas seus riscos potenciais são frequentemente ignorados", afirmou Rebecca Smith-Bindman, radiologista da Universidade da Califórnia em San Francisco (EUA), que coordenou a pesquisa.

A tomografia computadorizada combina uma série de radiografias para criar uma imagem tridimensional do paciente. O tomógrafo se parece com um grande anel, no qual o paciente deitado é posicionado. Ele então é movido para dentro desse anel, que faz centenas de raios-X da área analisada no corpo.

A tomografia computadorizada é diferente da ressonância magnética, embora o equipamento tubular usado no exame seja parecido. Diferente da tomo, os scanners de ressonância usam ímãs magnéticos potentes para enviar ondas de rádio pelo corpo para criar as imagens. Ambos permitem a produção de imagens altamente detalhadas, porém, a exposição ao raio-X na tomografia traz riscos.

Um em cada 20 casos

Para o alerta, os pesquisadores modelaram a probabilidade do desenvolvimento de câncer em 61,5 milhões de pacientes que realizaram uma tomografia computadorizada nos EUA. O estudo usou como base os números de exames de tomografia computadorizada realizados atualmente e as taxas de câncer.

O estudo publicado nesta segunda-feira estimou que a exposição à radiação da tomografia pode causar no futuro cerca de 103 mil casos de câncer entre o grupo estudado. Isso equivale a 5% do total de novos diagnósticos de câncer por ano nos EUA.

A tomografia está sendo cada vez mais utilizada para diagnósticos. Desde 2007, houve um aumento de 30% na realização desse tipo de exame nos EUA. Esse exame é mais frequente entre pacientes na faixa etária de 60 a 69 anos.

O estudo também revelou que tomografias computadorizadas de abdome e pelve tinham a maior probabilidade de causar câncer em adultos, já entre as crianças os riscos eram maiores em exames de crânio. Ainda de acordo com pesquisa, crianças que fizeram uma tomo antes de completar um ano apresentaram um risco dez vezes maior de desenvolver um câncer do que em qualquer outra faixa etária.

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"Nosso estudo coloca a tomografia no mesmo nível de outros fatores de risco, como consumo de álcool e excesso de peso", salienta Smith-Bindman. "Reduzir o número de tomografias computadorizadas pode salvar vidas."

Uso excessivo

O estudo se baseou em pacientes do sistema de saúde americano. Os pesquisadores apontaram nesse caso o uso excessivo e desnecessário de exames de tomografia, como para o diagnóstico de infecções respiratórias e dores de cabeça. Smith-Bindman também destacou que em alguns casos as doses de radiação para a realização do exame também foram excessivas.

Outros profissionais de saúde concordam que o uso indevido de tomografias pode colocar pacientes em risco. "É fato bem estabelecido que a radiação causa câncer", afirmou Pradip Deb, especialista em segurança radiológica da Universidade RMIT, na Austrália, que não participou do estudo.

Deb pontuou que, embora seja conhecido que a radiação ionizante pode danificar o DNA, ainda não está claro como isso funciona. "Nem todos os expostos à radiação desenvolverão câncer", acrescentou.

Embora os raios-X estejam no espectro perigoso, eles são também uma ferramenta fundamental na medicina e podem fornecer informações vitais sobre as condições de um paciente. "Esse estudo estabeleceu claramente a importância de limitar a dose de radiação sempre que possível e evitar tomografias computadorizadas desnecessárias", reforçou Deb.

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Por que raios-X são prejudiciais

O espectro eletromagnético é dividido nas frequências de radiação dos diferentes comprimentos de onda. No centro, está o espectro visível, que inclui os comprimentos de ondas do vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, índigo e violeta.

Há ainda as faixas de baixa frequência, que incluem ondas de rádio, micro-ondas e infravermelho, e as de alta frequência, que incluem radiação ultravioleta, raios-X e raios gama. Essa radiação de alta frequência, conhecida como radiação ionizante, representa um risco à saúde.

A radiação ionizante pode remover elétrons de um átomo. Isso significa que ela tem energia suficiente para danificar moléculas. Em humanos, esses danos podem causar uma série de problemas, incluindo o câncer.

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