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Número real de mortes por covid no mundo pode ter chegado a 15 milhões, diz OMS

Locais de cremação na Índia enfrentaram dificuldades devido ao alto número de mortos nos últimos dois anos - EPA via BBC News Brasil
Locais de cremação na Índia enfrentaram dificuldades devido ao alto número de mortos nos últimos dois anos Imagem: EPA via BBC News Brasil

Naomi Grimley, Jack Cornish e Nassos Stylianou - BBC News

05/05/2022 15h42

A pandemia de covid-19 causou a morte de quase 15 milhões de pessoas em todo o mundo, estima a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Isso representa um total de 13% mais óbitos do que o normalmente esperado para um período de dois anos.

A OMS acredita que muitos países subestimaram os números de pessoas que morreram de covid, até o momento, apenas 5,4 milhões de óbitos foram oficialmente registrados.

Na Índia, por exemplo, foram 4,7 milhões de mortes por covid, calcula a OMS. Em termos comparativos, esse montante é dez vezes maior do que as estatísticas oficiais do país, e quase um terço de todas as mortes pela doença provocada pelo coronavírus no planeta, segundo a estimativa recém-publicada.

O governo indiano questionou o levantamento, dizendo ter "preocupações" com a metodologia utilizada, mas outros estudos chegaram a conclusões semelhantes sobre a escala de mortes por lá.

A medida usada pela OMS é chamada de excesso de mortes, em outras palavras, quantas pessoas morreram além do que seria normalmente esperado para aquele período em determinado local, de acordo com as estatísticas colhidas antes de a pandemia estourar.

Esses cálculos também levam em consideração as mortes que não foram diretamente causadas pelo coronavírus, mas, sim, pelos efeitos indiretos da situação sanitária. É o caso, por exemplo, das pessoas que não conseguiram acessar hospitais para cuidar de outros problemas de saúde.

O estudo da OMS também leva em conta a má qualidade dos registros em algumas regiões ou países e falta de uma política de testagem, especialmente no início da crise lá em 2020.

Considerando todas essas variáveis, a entidade concluiu que a maioria das 9,5 milhões de mortes extras (além das 5,4 milhões oficialmente registradas) podem ser consideradas diretamente causadas pelo vírus.

Samira Asma, do departamento de dados da OMS, classifica os achados como "uma tragédia".

"Trata-se de um número impressionante. É importante para nós honrar as vidas que foram perdidas e responsabilizar os formuladores de políticas [públicas]", disse.

"Se não contarmos os mortos agora, perderemos a oportunidade de se preparar melhor para a próxima vez."

Ao lado da Índia, os países com o maior excesso de mortes incluem Rússia, Indonésia, Estados Unidos, Brasil, México e Peru, segundo os cálculos da OMS.

Os números estimados para a Rússia, por exemplo, são três vezes e meia maiores do que as mortes por covid oficialmente registradas no país.

Números do Brasil

O relatório também analisou as taxas de excesso de mortes em relação ao tamanho da população de cada país.

A taxa de mortalidade em excesso do Brasil, e de outros lugares, como Reino Unido, África do Sul e EUA, ficou acima da média global durante 2020 e 2021.

Já os países com taxas menores de excesso de mortalidade relativas à população incluem a China, que ainda segue uma política de "covid zero" com testes em massa e quarentenas, e a Austrália, que impôs restrições rígidas de viagem para manter o vírus fora do país, além de Japão e Noruega.

Os acadêmicos que ajudaram a compilar o relatório admitem que as estimativas são um pouco mais incertas em relação aos países da África Subsaariana, porque há poucos dados sobre a mortalidade na região. Não havia estatísticas confiáveis para 41 dos 54 países da África, apontam os especialistas.

O estatístico Jon Wakefield, da Universidade de Washington, nos EUA, ajudou a OMS neste relatório e disse à BBC que "precisamos urgentemente melhorar os sistemas de coleta de dados".

"É uma vergonha que as pessoas possam nascer e morrer, e não temos qualquer registro desses eventos."

"Precisamos realmente investir nos sistemas de registro dos países para que possamos obter dados mais precisos e oportunos."