Topo

Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


A corrida de países latino-americanos pela vacina contra covid-19 enquanto a pandemia avança

A busca por uma vacina contra a covid-19 se tornou uma maratona em tempo real envolvendo universidades, farmacêuticas e governos - Getty Images
A busca por uma vacina contra a covid-19 se tornou uma maratona em tempo real envolvendo universidades, farmacêuticas e governos Imagem: Getty Images

Marcia Carmo

21/12/2020 10h47

Os países da América Latina aceleraram, nos últimos dias, a corrida para tentar fechar o ano com carregamentos de vacinas contra a covid-19 e com um calendário de vacinação contra a doença.

A organização e a expectativa não são iguais para todos eles. Ao mesmo tempo, a situação no Brasil é acompanhada com atenção por especialistas da região. Representantes da comunidade científica regional mostram preocupação com as declarações do presidente Jair Bolsonaro de que não se vacinará contra a doença.

Na semana passada, em nota e sem citar nomes específicos, a Academia Nacional de Medicina (ANM) do Brasil criticou o que chamou de "negacionismo irresponsável de gestores políticos", alertou para a necessidade de "vacinação segura e em massa" dos brasileiros contra a doença e que medidas sejam tomadas para que mortes por covid-19 "sejam evitadas".

Segundo levantamento feito pela universidade americana Duke, o país latino-americano com o maior número absoluto de imunizantes garantidos é o Brasil, com 196 milhões de doses (considerando 50 milhões de doses da vacina russa Sputnik V). Em seguida vem o México (144 milhões), Chile (84 milhões), Argentina (47 milhões) e Venezuela (10 milhões).

Apenas o governo mexicano aparece com ampla quantidade de doses de uma das vacinas aprovadas, a da Pfizer (34,4 milhões).

Além disso, caso as vacinas que contratou se mostrem seguras e eficazes, o Chile seria até agora o únicos país latino-americano com doses garantidas suficientes para imunizar sua população inteira.

Todos esses números, atualizados até o dia 18/12, não levam em conta os imunizantes que serão repassados por meio do consórcio internacional Covax.

Até 21/12, a covid-19 matou mais de 470 mil pessoas na América Latina, sendo 187 mil no Brasil.

Em entrevista à BBC News Brasil, o médico infectologista Miguel O'Ryan, diretor da Faculdade de Medicina da Universidade do Chile e membro do comitê assessor de vacinas contra a covid-19 do governo chileno, disse que é preciso, em sua visão, se criar um ambiente positivo sobre a importância da vacinação. "Aqui no Chile estamos debatendo permanentemente esta questão. Estamos informando ao máximo sobre as vacinas e buscando não gerar também falsas expectativas."

Quando perguntado sobre a situação no Brasil, maior país em termos econômicos e populacionais da América Latina, e sobre as recentes declarações do presidente Bolsonaro, o especialista chileno disse:

"Normalmente, não gosto de opinar sobre questões políticas e ainda mais de outros países. Mas quando autoridades públicas emitem opiniões tão taxativas, é claro que podem ter impacto negativo. Achamos na comunidade cientifica que a vacina é crucial. As autoridades são as primeiras que deveriam fazer eco da informação científica para cuidar de sua população", disse O'Ryan, falando de Santiago.

O presidente do Chile, Sebastián Piñera, anunciou na semana passada que o país receberá 20 mil doses da vacina produzida pela Pfizer. E que a vacinação para os grupos que terão prioridade, como o pessoal de saúde, começará na semana que vem.

A quantidade é inferior ao anunciado inicialmente, de 50 mil doses. O Chile também previa a vacinação de 70% da população até setembro do ano que vem.

"A medida que a produção e a distribuição forem realizadas, teremos mais certeza do que será realidade", disse O`Ryan. Na quarta-feira (16), o Instituto de Saúde Pública do Chile (ISP) autorizou, após votação unânime, a vacinação contra a covid-19 de todos que tenham mais de 16 anos de idade.

O México, de acordo com a imprensa local, autorizou a aplicação da vacina desenvolvida em conjunto pela americana Pfizer e pela alemã BioNTech. O país foi o sexto país a autorizar, oficialmente, o uso desta vacina, depois que o Reino Unido, o Canadá, os Estados Unidos, a Arábia Saudita e o Bahrein o fizeram.

"Nossa agência de regulação sanitária, Cofepris, autorizou o uso emergencial da vacina Pfizer-BioNTech contra o vírus Sars-CoV-2 para a prevenção contra a covid-19", disse o subsecretário de Saúde, Hugo López Gatell, no fim de semana.

Segundo ele, as primeiras doses da vacina devem começar a chegar ao país na próxima terça-feira. "É uma esperança", disse, apesar de reconhecer que os primeiros desembarques da vacina serão insuficientes para imunizar os cerca de 1,6 milhão de trabalhadores do setor de saúde.

O governo mexicano anunciou ainda que adquiriu doses das vacinas de Moderna e CanSino, além de produzir o imunizante desenvolvido pela AstraZeneca-Oxford.

O México e a Argentina, como lembrou o ex-ministro da Saúde da Argentina, Adolfo Rubinstein, anunciaram recentemente a produção das doses da AstraZeneca-Oxford para distribuição na América Latina, excluindo o Brasil (que terá fabricação própria, via Fundação Oswaldo Cruz, a Fiocruz).

A vacinação com estas doses começaria em março ou abril, segundo informado até o momento, disse Rubinstein.

No dia 3/12, o presidente Alberto Fernández anunciou que 300 mil argentinos seriam vacinados antes do fim do ano com a vacina russa Sputnik V. E que em janeiro e fevereiro chegariam outras 5 milhões de doses.

Dez dias depois, na terça-feira (13/12), o ministro da Saúde, Ginés González García, disse que existiam dúvidas sobre o cumprimento deste calendário. Ele atribuiu as dificuldades aos sistemas de logística, por exemplo, como o transporte de avião destas vacinas e sua refrigeração.

O ministro disse ainda que o acordo que tinha sido anunciado com a Pfizer ficara congelado por exigências da fabricante, como uma nova lei para respaldar o uso da vacina, e que, na sua visão eram difíceis de serem cumpridas.

"A Pfizer disse que a lei que fizemos não era suficiente e pedia uma nova", disse o ministro argentino. A lei, segundo a imprensa local, seria em relação "a blindagem judicial em caso de efeitos adversos" da vacina.

Declarações do presidente russo, Vladimir Putin, de 68 anos, de que ainda não se vacinou com a Sputnik V por falta de comprovação para maiores de 60 anos, geraram polêmicas no país vizinho do Brasil.

"Existe aqui muita confusão e desorganização no calendário de vacinação e na comunicação sobre o que de fato será feito", disse o ex-ministro Rubinstein, crítico da estratégia argentina de combate ao novo coronavírus.

Na sexta-feira (18/12), o presidente Alberto Fernández disse que as doses da vacina russa chegarão antes do fim do ano ao país. Para ele, a Sputnik V é "tão eficiente quanto as demais".