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Covid-19: contagiosidade das crianças ainda é uma incógnita

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Imagem: iStock

Em Paris

04/11/2020 13h17

As crianças são grandes transmissoras da covid-19? A ciência ainda não tem uma resposta categórica para essa questão, que é muito debatida por ser crucial para a abertura, ou para o fechamento, das escolas.

No início da pandemia, temia-se que fossem vetores importantes da covid, por analogia com outras doenças virais como a gripe. Depois, a ideia oposta se instalou, com estudos sugerindo que não eram muito contagiosas.

Mas, "se olharmos os dados da literatura (científica), não fica tão claro", disse à AFP o epidemiologista Dominique Costagliola.

Muitos estudos, segundo os quais as crianças contaminam pouco seus entes queridos, "têm sido realizados durante os períodos de confinamento" e, portanto, de pouca circulação do vírus, o que pode distorcer seus resultados, estimou a epidemiologista Zoë Hyde em artigo publicado no final de outubro pelo Medical Journal of Australia.

E, recentemente, vários estudos realizados nos Estados Unidos, Índia e Coreia do Sul desafiaram a ideia de que as crianças não são muito contagiosas.

O mais recente foi publicado em 30 de outubro pelos Centros de Prevenção e Controle dos EUA (CDC). Realizado de abril a setembro em 300 pessoas, conclui que "a transmissão do SARS-CoV-2" dentro de uma casa "era frequente, seja por crianças, seja por adultos".

Divulgados na terça-feira, trabalhos de grande escala no Reino Unido mostram, no entanto, um quadro muito diferente.

- Resultados contraditórios -Com base em dados de 9 milhões de adultos, pesquisadores da London School of Hygiene and Tropical Medicine e da Universidade de Oxford estimam que "viver com crianças de 0 a 11 anos não está associado a um risco aumentado de infecção pelo SARS-CoV-2". Este risco aumenta ligeiramente quando se vive com uma criança de 12 a 18 anos.

Portanto, é difícil navegar neste emaranhado de observações contraditórias.

As crianças "podem transmitir (a covid-19) para outras pessoas. No entanto, parece acontecer com menos frequência do que a transmissão entre adultos", resume a especialista da Organização Mundial da Saúde (OMS), Maria Van Kerkhove, em vídeo dedicado a esta questão no site da organização.

Esta epidemiologista enfatiza que é necessário diferenciar "crianças pequenas" de "adolescentes, que parecem transmitir nas mesmas proporções que os adultos".

"Quando apresentam sintomas, as crianças excretam a mesma quantidade do vírus que os adultos e são tão contaminantes quanto eles. Não sabemos como crianças assintomáticas podem infectar outras pessoas", disse o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC) em agosto.

A ausência de sintomas é comum em crianças infectadas com covid-19. E a única certeza que temos é que elas sofrem formas muito menos graves do que os adultos.

A questão da contagiosidade tem sido alvo de acalorados debates, porque é decisiva para a abertura, ou para o fechamento, de escolas.

Uma medida que, por si só, tem graves repercussões sociais e econômicas.

"Todos têm consciência da importância da escola para as crianças, não apenas no nível da educação, mas também do bem-estar, da saúde mental, ou da segurança, sem falar que às vezes é a único lugar onde elas têm o que comer", lembra Maria Van Kerkhove.

- Efeito de lupa -Afetados neste outono boreal (primavera no Brasil) por uma segunda onda da epidemia, vários países europeus tiveram de se reconfinar, mas deixaram as escolas abertas. É o caso de França, Áustria, ou Irlanda.

"O risco ligado às escolas não é zero, ninguém pode dizer isso, mas a participação da transmissão dentro das escolas em relação à transmissão no restante da comunidade é baixa", avalia Daniel Lévy-Bruhl, da agência de saúde pública francesa.

Este especialista alerta para o efeito de lupa: "O número de escolas abertas em todo mundo é extraordinariamente grande. Na maioria, não está acontecendo muita coisa".

Fala-se muito, porém, sobre "as poucas escolas onde realmente ocorreram fenômenos epidêmicos - alguns deles explicados por condições favoráveis à transmissão do vírus -, o que dá uma impressão um tanto enviesada do risco associado às escolas", continua.

Diante da hipótese de um contagiosidade infantil mais forte do que se pensava, o governo francês acaba de impor a máscara aos alunos a partir dos 6 anos, contra 11 anteriormente. Uma decisão que deve vir acompanhada de um protocolo de saúde fortalecido, segundo muitos especialistas.

"Mesmo sendo menos contagiosas do que as de 14 anos e adultos, as crianças têm muito contato com seus colegas e com os adultos. E como são muitas, com muito contato, podem fazer muitos casos de contaminação", observa Dominique Costagliola.

Além disso, os especialistas destacam que o risco vinculado à escola depende da situação epidêmica local: "É muito importante entender que as escolas não funcionam isoladas, elas fazem parte de uma comunidade", enfatiza Maria Van Kerkhove.