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PrEP evita HIV e ajuda a combater outras ISTs, mas não substitui camisinha

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Imagem: iStock

Do VivaBem

01/04/2018 13h13

Distribuída pelo SUS desde o final de 2017, a PrEP -- Profilaxia Pré-Exposição ao HIV -- foi foco de discussão nas redes sociais neste sábado (31/03) após a divulgação da revista Época desta semana, que traz como matéria de capa "A Outra Pílula Azul - O novo medicamento que está fazendo os gays abandonar a segurança da camisinha".

O médico infectologista Rico Vasconcelos, coordenador do SEAP HIV, ambulatório especializado em HIV do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, que vem participando de importantes estudos sobre a PrEP, explica que mesmo evitando o HIV --e auxiliando no combate a outras ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis) --, o medicamento não substitui a proteção trazida pelo preservativo.

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Vasconcelos ressalta que, ao contrário do que alguns pensam, estudos mostram que pessoas que usam PrEP não só continuam se protegendo com camisinha, como também diminuem o número de parceiros com o passar do tempo, o que reduz o perigo de contaminação por uma IST. "A pessoa em PrEP passa de três em três meses por um aconselhamento com um profissional de saúde, que discute sobre suas vulnerabilidades. Então, alguém que antes não pensava sobre seus riscos começa a gerenciá-los melhor e se comportar de maneira diferente, transando cada vez mais com camisinha", afirma o médico infectologista.

"Pessoas que fazem sexo sem preservativo já existiam muito antes da PrEP, tanto que temos mais de 40 mil indivíduos pegando HIV por ano no Brasil. Então, é errado dizer que a PrEP fez todo mundo que usava camisinha abandoná-la. Pelo contrário. Estamos conseguindo fazer com que pessoas que já transavam sem proteção e eram vulneráveis a todas as ISTs, ao se vincularem à PrEP, consigam evitar ao menos o HIV -- e muitas ainda começam a usar preservativo e se protegem de outras doenças", declarou Rico Vasconcelos, que é colunista de VivaBem.

PrEP pode combater até outras doenças 

Vasconcelos explica que estudos futuros vão mostrar que a PrEP pode ser boa até mesmo para combater ISTs que não são diretamente prevenidas pelo medicamento. "As pessoas vinculadas ao serviço de aconselhamento fazem testes, a cada três meses, de HIV e também sífilis, gonorreia e clamídia. Isso permite que elas identifiquem e tratem esses problemas logo, deixando de contaminar possíveis parceiros", acredita Rico Vasconcelos.

A seguir, respondemos 12 dúvidas sobre a PrEP, para você entender melhor como o tratamento funciona. 

O que saber sobre a PrEP

  • O que é a PrEP?

    "PrEP" é a Profilaxia Pré-Exposição ao HIV. A ideia é que as pessoas tomem um medicamento para evitar uma infecção caso ocorra exposição ao vírus da Aids. Para isso, é necessário ingerir, diariamente, uma pílula que contém dois medicamentos (tenofovir e entricitabina) capazes de agir nas enzimas do HIV.

  • Qual a eficácia da PrEP?

    Diversos estudos mostraram que a PrEP reduz o risco de contrair o HIV. O iPrEX, estudo realizado com 2.499 homens que fazem sexo com homens na América Latina, EUA, África do Sul e Tailândia -- que no Brasil foi conduzido pela Fiocruz, pela UFRJ e pela USP -- mostrou que o medicamento chegou a reduzir em até 90% o risco de contrair o HIV.

  • Quem poder aderir à PrEP?

    Os médicos prescrevem a PrEP para pessoas com maior risco de entrar em contato com o HIV, como as que não usam preservativos em relações sexuais, principalmente anais. O público prioritário para receber o tratamento via SUS, que concentra maior número de casos Aids no Brasil, são gays e homens que fazem sexo com homens (HSH), transexuais, trabalhadores/as do sexo e quem não é portador do HIV e se relaciona com uma pessoa infectada pelo vírus.

  • Como é feita a triagem para aderir ao tratamento?

    Não basta estar no grupo prioritário para ser indicado a receber a PrEP. Um médico irá avaliar se a pessoa está exposta ao vírus por ter feito sexo anal ou vaginal sem preservativo nos últimos seis meses; apresentar episódios frequentes de infecções sexualmente transmissíveis, como herpes e gonorreia; ou usar repetidamente a PEP (Profilaxia Pós-Exposição) --tratamento com terapia antirretroviral dada após uma possível exposição ao HIV.

  • O que deve ser feito antes de receber o medicamento?

    Se o médico e o paciente concordarem que a PrEP vai ajudar na prevenção, será necessário realizar exames para saber se a pessoa tem HIV ou outras infecções sexualmente transmissíveis (IST). Também é preciso checar se os rins e o fígado estão funcionando bem, por meio de um exame de sangue. Se todas as avaliações estiverem em boas condições, a pessoa poderá usar a PrEP.

  • Como funciona o tratamento?

    Ao aderir à PrEP, o paciente precisará fazer visitas regulares ao serviço de saúde, realizar exames de acompanhamento para ver se o organismo está reagindo bem aos medicamentos e buscar a medicação a cada três meses. O comprimido deve ser tomado todos os dias, como prescrito.

  • A PrEP substitui a camisinha?

    Não. O paciente não deve parar de usar preservativos só porque está tomando a PrEP, pois ela só é eficaz contra a infecção pelo HIV. Já a camisinha oferece proteção contra todas as infecções sexualmente transmissíveis (tais como sífilis, clamídia e gonorreia). Então, a pessoa estará mais protegida contra o HIV e outras doenças se tomar a PrEP diariamente e usar o preservativo durante o sexo.

  • A PrEP tem algum efeito colateral?

    Como nenhum medicamento é isento de efeitos colaterais, a PrEP, apesar de segura, tem efeitos em curto e longo prazo. Na lista de sintomas passageiros estão dor de estômago, náuseas, alteração do ritmo intestinal e gases. Em longo prazo, o risco é a alteração da função renal e perda óssea. Esses problemas, no entanto, são reversíveis. Ou seja, ao parar de tomar o medicamento a função renal e a massa óssea voltam ao normal.

  • Onde o tratamento estará disponível?

    A PrEP está disponível em 36 centros de serviços de saúde de 22 municípios, nos seguintes Estados: Amazonas, Ceará, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, além do Distrito Federal. O endereço de cada serviço deve ser obtido na secretaria de saúde desses Estados. A previsão é de que o tratamento seja expandido para todo o Brasil gradualmente até o fim do primeiro semestre de 2018.

  • Por que vale a pena investir na PrEP?

    Do ponto de vista da saúde pública, estudos de custo-efetividade mostraram que vale mais a pena pagar a PrEP para as pessoas com maior risco de se contaminarem com o HIV do que ter de arcar com o tratamento contra o vírus, que precisa ser feito pela vida toda.

  • É possível aderir a PrEP na rede particular?

    O medicamento da PrEP não é comercializado nas farmácias tradicionais do Brasil. Os pacientes interessados em aderir ao tratamento fora do SUS devem passar por um processo semelhante: buscar um infectologista e fazer uma série de exames. No entanto, além de arcar com todo acompanhamento necessário, é preciso comprar o medicamento importado, que custa, em média, 290 reais e dura um mês.

  • Quais são os países que já aderiram à PrEP?

    A OMS (Organização Mundial de Saúde) recomenda, desde 2012, a oferta da PrEP como uma das estratégias para prevenir a Aids. O tratamento é oferecido nos sistemas de saúde da França e na África do Sul e também está disponível para comercialização na rede privada dos Estados Unidos, Bélgica, Escócia, Peru, Canadá. O Brasil será o primeiro país na América Latina a incorporar a PrEP como política pública em seu sistema de saúde.

Fonte: Adele Benzaken, diretora do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis, do HIV/Aids e das Hepatites Virais (DIAHV) do Ministério da Saúde e José Valdez Ramalho Madruga, coordenador do Comitê de HIV/Aids da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) e investigador da Unidade de Pesquisa de Medicamentos do Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids do Estado de São Paulo.