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Existe hora certa para tomar decisões ou marcar uma reunião? Entenda melhor

Abre hora certa - Denis Freitas/UOL VivaBem
Abre hora certa Imagem: Denis Freitas/UOL VivaBem

Colaboração para o UOL VivaBem

06/05/2019 04h00

Além do pulso e do celular, existem outros relógios que regulam nossa vida: cada pessoa possui seu próprio relógio interno, também conhecido como relógio biológico, o qual apresenta um padrão circadiano (de cerca de um dia), e ainda é obrigado a lidar com um terceiro "aparelho", aquele determinado pelas convenções sociais.

Embora esses três relógios diferentes tenham a mesma base --a duração do dia --, eles nem sempre estão sincronizados. Com a luz elétrica e cada vez mais gente confinada a ambientes fechados, as diferenças se acentuaram ainda mais, o que Till Roenneberg, da Universidade de Munique, e outros estudiosos chamam de "jet lag social".

Quem sofre com isso são os vespertinos, que representam cerca de 20 ou 25% de acordo com professor Rodrigo Peliciari-Garcia, do Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Mas dá para mudar isso? O professor explica que um tratamento cuidadoso, com exposição à luz e/ou suplementos de melatonina, entre outras medidas, até pode ser útil: "A terapia vai sincronizar, porém, se ela deixar de ser realizada, o cronotipo intrínseco da pessoa naquela fase de vida pode voltar a prevalecer", avisa.

Por mais que cada pessoa tenha seu ritmo intrínseco, mas o regente é a luz solar, por isso alguns processos são semelhantes em todos. Como explica a bióloga Franciel Ruiz, pesquisadora convidada da Universidade de Surrey, no Reino Unido, os hormônios agem como sinalizadores dentro do corpo: "A melatonina é liberada na ausência da luz, sendo o nosso facilitador do sono. E o cortisol nos prepara para acordarmos com a presença da luz". Um tem relação com o outro, e com várias outras substâncias que interferem no nosso metabolismo e na nossa produtividade. A seguir você confere algumas dicas de como aproveitar essas variações para organizar melhor o seu dia:

  • Denis Freitas/UOL VivaBem

    Não caia no conto da cotovia

    Por questões culturais, existe uma ideia pré-concebida de que quem acorda como os passarinhos é mais dedicado e trabalhador. O problema é que, como bem observa o autor norte-americano Daniel Pink, no livro "Quando: os segredos científicos do timing perfeito", os horários tradicionais de trabalho são configurados para as 75 ou 80% das pessoas que funcionam melhor pela manhã (os matutinos e intermediários). Isso quer dizer que chegar no escritório antes de os telefones começarem a tocar pode ser ótimo para aquele CEO famoso que você admira, mas não necessariamente para você. Na verdade, estudos indicam que levar diferenças de cronotipos em consideração e ter funcionários com perfis distintos em diferentes horários pode melhorar a produtividade de uma empresa. Um dos defensores dessa estratégia é o professor de administração Christopher Barnes, da Universidade de Washington.

  • Denis Freitas/UOL VivaBem

    Não tome decisões fora do seu fuso

    Uma pesquisa publicada por Christopher Barnes no periódico Psychological Science alerta que ter funcionários que brigam constantemente contra o próprio relógio biológico pode ser desastroso. Assim como é mais difícil resistir à tentação de comer um brigadeiro depois de uma noite sem dormir, errar por distração ou até aceitar uma proposta ?indecente? pode ser mais fácil nessa situação. Barnes revelou que funcionários cansados pelo descompasso com seu ritmo interno eram mais propensos a trapacear, o que pode ser um problema sério em certos tipos de negócio. O conselho dele para os empregadores é respeitar, na medida do possível, o cronotipo das pessoas. E se você tem algum assunto espinhoso para discutir com alguém não muito confiávevel, já sabe: é melhor marcar a conversa para a hora em que ao menos você estiver mais disposto.

  • Denis Freitas/UOL VivaBem

    Comece com o que exige atenção

    Nosso corpo secreta mais cortisol pela manhã, o que favorece a atenção. Até o nível de glicose no sangue se eleva logo cedo, como se fosse um mecanismo que o ser humano desenvolveu, ao longo da evolução, para começar o dia cheio de energia para caçar ou plantar. Por isso, tarefas que exigem atenção, dedução e capacidade analítica são mais recomendadas para esse período, segundo as evidências reunidas no livro de Daniel Pink. Você também pode se sair melhor numa prova de matemática, se ela for de manhã, de acordo com esse princípio. Claro que a exceção é para os vespertinos, que se saem melhor no fim do dia em tarefas que exigem atenção, memória e aprendizado. A mesma lógica deve ser aplicada para decisões importantes, segundo Pink: matutinos devem tomá-las de uma a três horas depois de acordar, e vespertinos, mais próximo do começo da noite.

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    Para impressionar, vá antes do meio-dia

    Sociólogos da Universidade de Cornell estudaram mais de 500 milhões de tweets de 2,4 milhões de usuários de 84 diferentes países ao longo de dois anos. Eles descobriram um padrão em comum à maioria das pessoas: o humor delas é razoável ao acordar, melhora ao longo da manhã, cai após o almoço, alcança o ponto mais baixo no meio da tarde e depois volta a subir. Com base nesse e outros estudos que confirmam o padrão, três professores de administração norte-americanos das universidades de Virginia e de Nova York decidiram analisar a performance de 2.100 empresas de capital aberto que anunciavam seus resultados financeiros em diferentes horários. Eles concluíram que marcar esses eventos para o período da tarde é até perigoso: não só os CEOs demonstram menor entusiasmo, como os investidores e jornalistas são mais críticos nesse horário. Como à noite os expedientes se encerraram, o ideal é marcar esses eventos para o fim da manhã. Pink também sugere que se marque entrevistas de emprego antes do almoço, pelo mesmo motivo.

  • Denis Freitas/UOL VivaBem

    Reunião importante após o almoço é roubada

    OK, você já sabe que matutinos são mais produtivos de manhã, enquanto os vespertinos funcionam melhor no fim do dia. Mas ninguém, nem mesmo os intermediários, são capazes de dar o melhor de si depois do almoço. Daniel Pink garante: o efeito sobre o desempenho é comparável ao de uma ressaca. Até anestesistas e cirurgiões são mais propensos a errar nesse horário, segundo o livro. Não dá para evitar? Então faça como muitos hospitais americanos fizeram, após detectarem o padrão de risco: reforce os sistemas de vigilância e implemente pausas para um checklist. Se der para controlar sua agenda, deixe para executar tarefas burocráticas e responder e-mails menos importantes nesse horário. O curioso é que, em muitas empresas, as pessoas optam pelo ritmo mais contraproducente, como observa Christopher Barnes: perdem a manhã com e-mails de menor importância e só entram nos temas importantes à tarde, quando os níveis de energia estão lá embaixo.

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    Pausas ajudam (e uma soneca também)

    O professor Rodrigo Peliciari-Garcia, explica que, após o almoço, o que predomina é "a atividade da divisão parassimpática do sistema nervoso autônomo". Em português claro, isso significa que o nosso organismo está focado em atividades ligadas ao trato gastrointestinal, ao metabolismo e ao estoque de energia. Conclusão? O sistema atencional e as respostas de luta e fuga ficam em segundo plano, ainda mais se você tiver traçado uma feijoada. Uma soneca rápida, de apenas 20 minutos, poderia melhorar muito seu desempenho no segundo turno, garante Pink e outros tantos defensores da siesta. Mas são poucas as pessoas que podem ser dar esse luxo. Felizmente, não é o fim do mundo: ?Nosso sistema nervoso é plástico, termo que vem de plasticidade neural: ele nos permite dançar conforme a música?, nos consola Peliciari-Garcia. Caminhar depois do almoço, fazer uma pausa para conversar com o colega, levantar para tomar uma água gelada ou um café são dicas para combater a ressaca nessas horas em que uma soneca cairia tão bem.

  • Denis Freitas/UOL VivaBem

    Programe o "brainstorming" para o fim do dia

    Pode não parecer, mas a distração nem sempre é algo negativo para a produtividade. O estado de alerta pode inibir ?insights? importantes e rompantes de criatividade, e há até quem tenha ótimas ideias dormindo. Assim, o meio da tarde pode ter serventia para reuniões de "brainstorming". Mas aproveitar a retomada do bom humor, no fim do dia, pode ser ainda melhor para os resultados. Para os vespertinos (sempre do contra), a manhã seria mais propícia para mergulhos no inconsciente, mas talvez não seja ruim ter uma parte da equipe alerta, com os pés no chão, enquanto o resto divaga em busca de uma campanha de marketing tocante, por exemplo. Escrever uma carta ou e-mail em tom emocional também cai bem nesse horário.

  • Denis Freitas/UOL VivaBem

    Vá para a academia quando der, mas...

    Oxigenar o cérebro favorece a capacidade de concentração, e, segundo diversos estudos, uma simples caminhada de dez minutos ao ar livre já pode fazer uma baita diferença no foco e na capacidade de resolver problemas logo em seguida. No livro "The Body Clock Guide to Better Health" (?Guia do Relógio Biológico para Melhorar a Saúde?, sem tradução no Brasil), o especialista em cronobiologia Michael Smolensky, da Universidade do Texas, explica que o cortisol e a testosterona estão em alta de manhã, por isso esse é um bom período para ganhar músculos e queimar gordura. Já se a ideia é dar uma forçada na performance e evitar lesões, é melhor deixar para malhar no fim da tarde, quando o corpo está mais aquecido. Depois do almoço você não vai render tanto, e à noite o exercício pode atrapalhar o seu sono, mas Smolensky não desanima ninguém: ?Se esse é o único horário possível, siga em frente?. Só não vale abusar da comida depois: o estudioso garante que nosso ciclo circadiano foi programado para armazenar (e não gastar) energia nesse período, o que é sinônimo de mais gordura em volta da cintura.

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