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Fertilidade: depende mais da mulher? Caxumba deixa infértil? E mais dúvidas

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Imagem: iStock

Bruna Alves

Colaboração para VivaBem

22/07/2020 04h00

O mundo passou por muitas mudanças sociais ao longo do tempo, mas o sonho de ter filhos e constituir família ainda faz parte da vida de muita gente.

De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), a infertilidade faz parte da vida de mais de 8 milhões de pessoas no Brasil. Isto é, nem todas conseguem ter um filho por meio de uma gestação convencional, seja por problemas da mulher ou do homem.

Fato é que a fertilidade ainda gera inúmeras dúvidas, e, consequentemente, muitas respostas desencontradas, que podem ser lidas com apenas alguns cliques na internet, e têm potencial para fazer um estrago enorme na mente das pessoas.

Pensando nisso, VivaBem ouviu especialistas e separou os principais mitos e verdades sobre fertilidade.

Dúvidas sobre fertilidade

A idade da mulher é mais importante do que a do homem?

Depende da idade, mas, de uma maneira geral, os especialistas concordam que sim, trata-se de uma verdade. O período mais fértil da mulher acontece na faixa dos 25 aos 30 anos. Depois, é normal a diminuição da quantidade e da qualidade dos óvulos, especialmente após os 35 anos, período em que a mulher não engravida mais com tanta facilidade devido a fatores hormonais.

No entanto, a idade do homem também deve ser considerada. Isso porque já existem estudos que comprovam que com o aumento da idade, a partir dos 50 anos, tanto a qualidade como a quantidade de espermatozoides sofrem alterações.

As mulheres têm mais problemas para engravidar do que os homens?

Mito. Na verdade, a taxa de infertilidade é igual para ambos os sexos. Em números, pode-se dizer que 40% dos casos de infertilidade são responsabilidade da mulher e 40% do homem. Os outros 20% correspondem a problemas com os dois ou sem causa aparente.

Existe dia certo para tentar engravidar?

Verdade. A mulher não fica fértil o mês inteiro. Mas hoje existem aplicativos que calculam facilmente o período ideal para engravidar. No geral, é do 10º ao 16º dia após o início da menstruação (se a mulher tiver ciclos menstruais regulares de 28 a 30 dias).

Nesta fase é comum observar uma secreção vaginal transparente, como uma clara de ovo. Esse é o muco, responsável pela lubrificação vaginal, que faz com que os espermatozoides encontrem com mais facilidade o óvulo, o que facilita a fecundação.

O uso de pílula anticoncepcional causa infertilidade?

Mito. O uso de anticoncepcionais possui a função de impedir a ovulação. Além disso, eles protegem contra alterações ginecológicas que podem causar até a própria infertilidade. E a regra vale para todos os tipos de anticoncepcionais, desde adesivos e anéis vaginais, até implantes —nenhum deles causa infertilidade.

Quando a mulher para de tomar a pílula ou de usar qualquer outro anticoncepcional, a função dos ovários é restabelecida e ela pode engravidar normalmente.

Contudo, vale ressaltar que o anticoncepcional pode mascarar situações como, por exemplo, a insuficiência ovariana prematura, que só pode ser descoberta se a mulher parar de tomar o anticoncepcional —isto é necessário para a doença de manifestar.

Quando tomamos um remédio para a febre, por exemplo, estamos apenas mascarando o verdadeiro diagnóstico e baixando a temperatura com o remédio. Mas isso não resolve o problema em si, apenas retarda. É assim que acontece no caso da insuficiência ovariana prematura, o anticoncepcional faz com que a menstruação continue ocorrendo normalmente e impede o problema de se manifestar.

Endometriose causa infertilidade?

Verdade. Atualmente, a endometriose é uma das principais causas de infertilidade feminina, todavia, segundo os especialistas, há exceções. Nem todas as mulheres com endometriose são inférteis.

A endometriose pode causar alterações anatômicas das tubas uterinas, além de um processo inflamatório que pode alterar a qualidade de óvulos e a implantação do embrião.

Obesidade diminui as chances de engravidar?

Verdade. A obesidade pode alterar o ciclo menstrual e, consequentemente, bloquear a ovulação. O estado inflamatório causado pelo sobrepeso também pode alterar a qualidade e a implantação do embrião no endométrio. Além disso, no caso do homem, a obesidade também interfere na qualidade e na quantidade do sêmen.

A caxumba pode deixar o homem infértil?

Verdade. Caso ocorra orquite (inflamação dos testículos), é possível que haja sequelas na produção de espermatozoides, principalmente se a doença for contraída da adolescência em diante.

Quimioterapia e radioterapia interferem na fertilidade?

Essa pode ser considerada uma verdade, sim, mas não absoluta. Isto é, nem todos os tratamentos causam infertilidade, entretanto, podemos dizer que uma boa parte acaba interferindo.

A radioterapia pélvica e a quimioterapia podem ter efeitos nocivos nos ovários e nos testículos, levando a mulher à insuficiência ovariana prematura e, da mesma forma, prejudicar a produção de espermatozoides do homem.

A recomendação dos especialistas para evitar uma possível infertilidade é fazer o congelamento de sêmen, bem como o congelamento do óvulo para as mulheres.

Óvulos, embriões e sêmen congelados possuem prazo de validade?

Mito. Com as técnicas de criopreservação dos óvulos, tanto o congelamento de embriões como do sêmen podem ficar congelados por tempo indeterminado. No entanto, geralmente, há a recomendação de eles sejam utilizados em até dez anos.

Os especialistas ainda garantem que as chances de sucesso são idênticas às da idade em que foram congelados. Por isso, quanto mais jovem eles forem coletados, maiores as chances de sucesso.

Homem que fez vasectomia não pode mais ter filhos?

Mito. O homem que fez vasectomia pode ter filhos, sim. Apesar de a vasectomia representar um dos métodos contraceptivos mais utilizados em todo o mundo, é possível reverter o procedimento ou mesmo fazer fertilização in vitro.

Fonte: Fernando Prado, ginecologista e obstetra, especialista em reprodução humana, diretor técnico da Clínica Neo Vita e diretor do setor de embriologia do Labforlife; Maurício Simões Abrão, professor associado do departamento de obstetrícia e ginecologia da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), diretor do setor de endometriose do Hospital das Clínicas da FMUSP e gestor do setor de ginecologia da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo; Flávia Torelli, ginecologista especialista em reprodução humana, médica assistente da Huntington Medicina Reprodutiva e do Hospital da Mulher da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e Ana Carolina Sá, ginecologista, professora da FMRP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto), especialista em reprodução humana.