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Covid-19: o que sabemos sobre cloroquina e hidroxicloroquina? Tire dúvidas

jaouad.K/iStock
Imagem: jaouad.K/iStock

Giulia Granchi

Do VivaBem, em São Paulo

07/04/2020 16h34

Pesquisas com os remédios hidroxicloroquina e cloroquina, amplamente usados no combate de doenças como lúpus e artrite reumatoide, aumentaram a esperança para o tratamento da covid-19. Apesar de ainda não haver evidências conclusivas sobre a eficácia da droga, cientistas de diferentes países dedicam tempo e esforços ao estudo de seus efeitos em pacientes com o novo coronavírus.

Abaixo, VivaBem esclarece as principais dúvidas sobre os medicamentos.

O que sabemos sobre cloroquina e hidroxicloroquina

O que é a hidroxicloroquina?

A hidroxicloroquina é um medicamento de uso controlado que tem efeito imunomodulador —fornecem aumento da resposta imune contra determinados microrganismos—, e por isso é usada para tratar doenças autoimunes, como lúpus e artrite reumatoide.

Atualmente, a droga está em estudo para o tratamento da covid-19, doença causada pelo novo coronavírus.

Para que servem a hidroxicloroquina e a cloroquina?

As drogas são usadas para tratar doenças como lúpus eritematoso sistêmico e discoide, artrite reumatoide e juvenil, doenças fotossensíveis e malária.

Qual é a diferença entre hidroxicloroquina e cloroquina?

São dois remédios de formulações diferentes, mas que levam a mesma substância, a cloroquina. Os benefícios clínicos são parecidos, mas os efeitos adversos não. A hidroxicloroquina é considerada um pouco mais segura, com menos efeitos colaterais.

Quais são os efeitos colaterais da hidroxicloroquina e da cloroquina?

Os efeitos de toxicidade variam de acordo com o organismo de cada pessoa. Os medicamentos podem causar problemas como distúrbios de visão, irritação gastrointestinal, alterações cardiovasculares e neurológicas, cefaleia, fadiga, nervosismo, quem tem psoríase ou porfiria pode ter ataque agudo da doença, prurido, queda de cabelo e exantema cutâneo.

Quais são as contraindicações para o uso da hidroxicloroquina?

A hidroxicloroquina é contraindicada para pacientes que apresentam:

  • Retinopatias preexistentes
  • Alérgicos a cloroquina (raro)
  • Diagnóstico de porfiria, miastenia gravis ou arritmia
  • Pacientes em uso de digoxina, amiodarona, verapamil ou metoprolol
  • Hipersensibilidade conhecida aos derivados da 4-aminoquinolina
  • Menos de seis anos de idade

A hidroxicloroquina e a cloroquina são eficazes contra o coronavírus?

Ainda não se sabe. Os medicamentos são alvos de diversas pesquisas no mundo todo. Enquanto alguns testes indicam melhora dos pacientes, outros apontam que a droga não fez diferença no tratamento.

Hidroxicloroquina é uma vacina contra o coronavírus?

Não. A hidroxicloroquina e a cloroquina são medicamentos em estudo para o tratamento da covid-19 (doença causada pelo novo coronavírus), mas não tem qualquer relação com a prevenção do quadro até o momento, ou seja, não funciona como profilaxia.

Qualquer pessoa pode comprar hidroxicloroquina e cloroquina?

Não. Os medicamentos foram determinados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) como produtos controlados.

De acordo com o órgão, a medida visa evitar que aqueles que não precisam desses medicamentos provoquem um desabastecimento no mercado. A falta dos produtos pode deixar os pacientes com malária, lúpus e artrite reumatoide sem os tratamentos adequados, o que começou a acontecer antes da providência da Anvisa.

Além disso, vale lembrar que as drogas não têm comprovação de que servem para prevenir a covid-19, têm efeitos colaterais e devem ser usadas com indicação médica — quando os benefícios são considerados maiores do que os efeitos adversos oferecidos pelos remédios.

Como a cloroquina age contra a covid-19?

O principal papel da hidroxicloroquina no organismo é controlar a infecção impedindo que o vírus se reproduza. Além disso, um dos efeitos do remédio é modificar o pH de vesículas que estão no interior das células. Isso prejudica a produção de partículas que um vírus precisa para se multiplicar. Assim, ele acaba não se reproduzindo e a infecção é controlada.

Como é o tratamento com hidroxicloroquina?

No momento, os hospitais que declararam estar fazendo o uso da hidroxicloroquina afirmaram avaliar cada caso, individualmente, para concluir se os possíveis benefícios do remédio seriam maiores do que os riscos de efeitos colaterais (alguns pacientes já apresentavam, por exemplo alterações cardiovasculares).

"É uma prática que é feita para casos que chamamos de uso humanitário: quando há doenças com consequências graves para um grupo específico de pacientes, os médicos podem decidir, especificamente para cada caso, se vale aplicar o medicamento", esclarece Nísia Lima, presidente da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).

Quais são as pesquisas sobre a cloroquina?

São dezenas de pesquisas diferentes acontecendo simultaneamente em diversos países do mundo.

No Brasil, dois grandes ensaios clínicos que estão em curso são o Solidariedade (Solidarity), da OMS (Organização Mundial da Saúde) e coordenado pela Fiocruz no Brasil, e o Coalização Covid Brasil (duas das fases usam hidroxicloroquina), coordenado pelo Hospital Israelita Albert Einstein, HCor, Sírio Libânes e BRICNet, uma rede que realiza estudos clínicos na área de medicina intensiva.

O estudo Solidariedade testará, em 18 hospitais de 12 estados brasileiros, cinco medicamentos diferentes, entre eles, a hidroxicloroquina e a cloroquina —sempre em pacientes com quadros graves.

Já o Coalização Covid Brasil utilizará a hidroxicloroquina em cerca de mil indivíduos com a covid-19, tanto em pacientes com sintomas leves quanto os que estão em estágio avançado.

O que Bolsonaro já falou sobre a cloroquina?

Em vídeo publicado no Instagram e no Facebook, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que a "a hidroxicloroquina está dando certo em tudo quanto é lugar". A publicação foi retirada do ar por moderadores das redes sociais no dia 30 de março, que afirmaram ter tomado a medida por falta de comprovação científica para a informação.

No dia seguinte, Bolsonaro afirmou, durante pronunciamento, que pediu para que as Forças Armadas produzissem mais cloroquina para o tratamento da covid-19, mesmo sem estudos conclusivos sobre o resultado do medicamento —reiterando seu entusiasmo com a possibilidade de eficácia.

Fonte: Igor Marinho, infectologista do Hospital das Clínicas da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e coordenador médico do hospital AACD; Otávio Berwanger, diretor de pesquisas clínicas do Hospital Israelita Albert Einstein; Nísia Lima, presidente da FioCruz (Fundação Oswaldo Cruz); Vivian Avelino-Silva, médica infectologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e professora da Faculdade de Medicina no Hospital Albert Einstein.