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Victor Machado

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Como controlar a compulsão por doces?

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Imagem: Getty Images

Colunista do UOL

15/11/2021 10h39

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Entendendo inicialmente que não existe compulsão por doces, mas sim uma preferência pelo doce como busca pelo prazer e bem-estar.

Parece polêmico, mas primeiro é necessário entender o que é uma compulsão, pois é um termo que costuma ser utilizado de maneira equivocada até mesmo entre profissionais de saúde. Nem todo episódio de exagero alimentar se trata de uma compulsão, mas sim pode ser classificado como um comer exagerado ou comer transtornado.

Pense que você comeu uma barra inteira de chocolate e, logo em seguida, decide comer uma bacia cheia de arroz congelado que estava na geladeira, sendo que arroz nem é o seu alimento preferido. Nesse caso, estamos falando de uma compulsão alimentar, ou seja, um episódio em que não existe uma ingestão descontrolada de alimentos que não são específicos e de sua preferência. Pode ser com qualquer alimento, normalmente associado a uma sensação de perda de controle, e não existe vontade nem prazer em comer. Esse ato de comer costuma vir seguido de uma sensação de culpa, fracasso e muitas vezes de nojo.

Selecionar os alimentos e dar preferência àqueles mais palatáveis (doces, fast-food, ultraprocessados), na maioria das vezes, trata-se de um ato de comer exagerado, em que o corpo busca por alguma fonte de prazer através da comida.

O que ocorre é que muitas vezes, quando comemos esses alimentos, não estamos atentos e as quantidades acabam sendo desproporcionais ao necessário para atingir a saciedade. Em geral, o ato de comer exagerado existe em primeiro lugar quando fazemos alguma restrição alimentar severa, como o caso daqueles que querem emagrecer de forma muito rápida. Essas pessoas, por ficarem longos períodos se privando de comer, acabam exagerando em algum momento e isso não necessariamente é uma compulsão alimentar, mas um ato de dar ao corpo tudo aquilo que foi privado ao longo do dia.

Em outros casos, os exageros ocorrem por questões emocionais e assim temos o comer emocional, que tem relação com questões psicológicas não resolvidas. Às vezes se trata de uma relação difícil no trabalho ou até mesmo no casamento. Em outros casos pode ser a falta de saber se posicionar diante os problemas da vida. Dessa forma, o corpo pode ir atrás de comida como estratégia para aliviar o estresse daquilo que não foi resolvido emocionalmente e, portanto, nesses casos o autoconhecimento pode ajudar a lidar com essas situações.

O ponto é que o exagero nos doces tem relação com o cérebro pensar no doce como primeira estratégia para aliviar um problema, já que doces provocam a liberação de dopamina, que é o hormônio do bem-estar. Na verdade, a dopamina é liberada quando abraçamos alguém, com boas conversas, no sexo ou quando você assiste vídeos de cachorrinhos na internet. Porém, para algumas pessoas, o cérebro lembra primeiro do doce como forma de prazer.

É por isso que tentar segurar a vontade à força costuma não funcionar, pois o cérebro vai criar formas de você ir atrás do doce. O que não é necessariamente um vício em açúcar ou uma compulsão, mas apenas uma preferência que o seu organismo encontrou para lhe dar prazer.

A solução está em criar novas rotas para o cérebro. Às vezes o simples ato de beber água já pode funcionar, já em outros casos mais específicos é importante mostrar para você mesmo que existem outras fontes de prazer e que o doce não é a sua única forma de se sentir bem. Atividade física, crochê, dançar, ouvir música, conversar com alguém que você ama, dormir, tomar um banho, passear com o cachorro já podem ser formas de dar prazer ao corpo e, assim, com o tempo, o organismo aprende que o doce não é a única forma de conseguir bem-estar.

Falando de estratégias fisiológicas, consumir alimentos amargos como chás de canela, cravo, aumentar o consumo de frutas e de fibras pode ajudar com o paladar que está acostumado com a busca por doces. Então dessa forma é possível melhorar a parte fisiológica, mas também a parte emocional.

Caso o aumento do consumo de frutas, fibras, chás e canela não melhore e os exageros continuem, então o autoconhecimento e a terapia podem ajudá-lo a entender o porquê dessa busca pelo prazer e qual emoção deve ser resolvida para cessar esse consumo excessivo. Não se esqueça que toda emoção assumida não vira comida.