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Victor Machado

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Nutrição x aceitação corporal: o seu corpo ideal é magro ou saudável?

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

22/03/2021 04h00

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É comum ouvirmos falar hoje que vivemos um culto ao corpo— uma preocupação excessiva com a nossa forma e uma grande necessidade de nos aproximarmos dos padrões de beleza exibidos na TV ou nas redes sociais. Essa pressão social por ter um corpo considerado ideal— seja lá o que isso quer dizer— alimenta a insatisfação com nós mesmos, levando a comportamentos pouco saudáveis como fazer dietas restritivas, praticar atividade física de forma excessiva e, às vezes, até o uso de métodos compensatórios como vômitos, remédios para emagrecer e laxantes.

Mas, será mesmo que tudo isso é um culto ao corpo?

Quando pensamos no que somos capazes de fazer, é importante frisar que o corpo é algo que carregamos durante toda a vida; é a nossa casa, o que nos dá a capacidade de movimento, nos protege e faz tudo por nós. É com ele funcionando que podemos falar: estamos vivos!

Agora, pense nos outdoors com propostas de emagrecimento e estética que vemos tanto por aí. Ali estão exibidos corpos musculosos ou magros, mas sem cabeça— apenas o corpo esbelto. Isso reforça uma ideia do que seria considerado bonito e desejável e até aceitável no ser humano.

Mas essa pressão estética deixa de lado as funções que um corpo tem. Ter rins para eliminar toxinas, um coração para bombear sangue e um pulmão para respirar se tornou dispensável diante da busca por uma imagem ideal.

Por isso, acredito que o culto à imagem é maior que o culto ao corpo. E, na busca por estar dentro dos padrões, quem desconhece ou tem nojo do próprio corpo é capaz de buscar qualquer alternativa para atingir esse objetivo— mesmo que sacrifique a própria saúde no processo.

Portanto, o movimento body positive , que se trata de prezar pela aceitação do próprio corpo sem a necessidade de se enquadrar em um padrão, é uma forma de fazer as pazes consigo e seguir em frente.

Dentre os profissionais de saúde, há quem diga que isso se trata de "mimimi" e desculpa para comer tudo sem critérios. Também existe o discurso de que a pessoa fora do padrão não tem que aceitar o corpo e precisa, sim, mudar, pois gordura indica doença.

Na verdade, aceitar o próprio corpo não significa relaxar com a saúde e a alimentação. Se trata de cessar a guerra com você mesmo e, assim, tornar possível fazer escolhas alimentares coerentes com a própria saúde. Diferente de se alimentar pensando em atingir uma imagem corporal, aceitar-se envolve ser mais gentil com o próprio corpo, entendendo que graças a ele é possível viver, amar e socializar.

A aceitação traz liberdade, e está tudo bem em se aceitar como é. Afinal, somos todos humanos e não existe essa tal de perfeição.

O movimento de auto-aceitação pode não ser fácil, mas é um exercício diário de estar bem consigo. O que não quer dizer se conformar e viver sempre sentindo insatisfação.

Pessoas fora dos padrões impostos pela sociedade podem ter uma história de rejeição e tristeza. Sendo assim, não é tão simples dizer que ela está de "mimimi" e tem que mudar de qualquer jeito, pois cada um tem uma forma de lidar com a vida.

Aceitar-se é o primeiro passo para que seja possível estabelecer uma boa relação com a alimentação.

Se o emagrecimento for o objetivo, tudo bem! Mas é importante não fazer isso a todo custo e em nome de um padrão irreal. Se concentre antes em se amar e, com o tempo, suas escolhas alimentares e seu estilo de vida se ajustam com os seus objetivos.