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Victor Machado

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Estigma da obesidade e covid-19: como a nutrição pode ajudar?

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

08/03/2021 04h00

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Desde o ano passado, o Dia Nacional de Prevenção da Obesidade foi alterado para 4 de março, e não mais no dia 11 de outubro. É uma data em que o foco é divulgar a importância do tratamento e acompanhamento por profissionais capacitados. Curiosamente, mesmo com o aumento da informação, de acordo com os dados da Abeso, mais de 50% da população brasileira apresenta índices de sobrepeso e mais de 20% está em obesidade.

Ao mesmo tempo em que estamos tentando entender o fenômeno da obesidade no mundo, também enfrentamos uma pandemia da covid-19, que, como já indicado pelo Ministério da Saúde, quando relacionada a outras doenças crônicas como hipertensão, diabetes e obesidade —as ditas comorbidades — possui o seu fator de risco aumentado. Além disso, recentemente foi divulgado um estudo pela World Obesity indicando que o tempo de hospitalização de pessoas com obesidade aumenta e esses pacientes nem sempre conseguem avançar no tratamento, tendo assim um aumento na taxa de mortalidade também.

Quando falamos de obesidade e sua relação com a nutrição, nem sempre estamos tratando a situação da melhor maneira possível, pois nem tudo se resume a "fechar a boca, criar vergonha na cara" e fazer mais atividade física, discurso que infelizmente vem sendo utilizado por boa parte dos profissionais de saúde e seguido por boa parte da população. Diferentemente de outras doenças crônicas, pessoas com obesidade enfrentam um componente a mais, que é um grave estigma social.

De acordo com a Nature Medicine, foi comprovado que o preconceito contra a obesidade compromete não só a saúde física e mental, mas também dificulta o acesso dessas pessoas ao mercado de trabalho. O estigma da obesidade tem relação com a desvalorização e depreciação de uma pessoa pelo excesso de peso através de estereótipos em que são vistas como pessoas sem força de vontade, indisciplinadas e preguiçosas.

Dentro das redes sociais e das academias também é possível observar esse fenômeno, através de discursos como:

"Agora sim você vai comer direito, né?"

"Se não emagrecer, vai morrer!"

"Quero ver você não emagrecer agora!"

Repare que quando falamos de diabetes ou hipertensão, esses discursos não são comuns como no caso da obesidade. Portanto, vemos uma forma não assertiva não só de tratamento, mas também de acolhimento dessa situação.

Tratar obesidade vai além de fazer uma dieta ou mudar os hábitos alimentares. Exige também respeito, acolhimento e entendimento amplo da situação, reconhecendo que se trata de uma doença crônica multifatorial, envolvendo, além da genética, aspectos sociais, políticos e toda a história de vida dessas pessoas.

Atualmente, nem tudo se resolve através da dor e do medo, então para muitas pessoas que lutam contra a obesidade e tentam se inserir há anos na sociedade, assustá-las com a situação e jogar toda a culpa em cima delas não vai ajudar.

Estratégias nutricionais com foco na saúde, e não na balança e, acima de tudo, com respeito e acolhimento são fundamentais para uma melhor adesão ao tratamento. Não se trata de "mimimi", mas sim de levar a sério a situação e ter comprometimento com a saúde sem discriminação.