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Que legado você quer deixar? A vida tira ente amado, mas deixa sua história

Quando perdemos alguém, ganhamos toda a sua existência - Phuong Nguyen
Quando perdemos alguém, ganhamos toda a sua existência Imagem: Phuong Nguyen

Colunista do UOL

21/07/2022 04h00

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Meu filho Paulo partiu há 10 anos, aos 28 anos. Essa foi a vivência mais impactante da minha vida, junto com outros três momentos únicos e inesquecíveis: o nascimento do Paulo, o nascimento da sua irmã Gabriela e o nascimento do seu filho, Rodrigo.

O que sinto sobre essas vivências marcadas na minha alma é que a vida é feita de alegrias e de tristezas. Eu vivi três grandes alegrias para uma grande tristeza. O Paulo se foi, mas deixou um enorme legado: o meu neto Rodrigo e a Anna Luiza, mãe do Rodrigo, que atualmente eu amo como filha. Filho, como agradeço a você por isso. Mas seu legado não para por ai, tem também a sua paixão pela vida, o seu amor pelas pessoas, a sua criatividade e ousadia.

Quando perdemos alguém, ganhamos toda a sua existência. A vida tira um ser amado, deixando com a gente a sua história. Essa coluna é sobre isso. Para fazer pensar no que ganhamos e não no que perdemos com a partida de alguém próximo. Só um exercício.

Tem horas que a saudade é desesperadora e temos mais é que chorar mesmo. Mas quando a dor não estiver aguda, eu convido você a pensar no positivo: no legado que a pessoa amada que partiu deixou para você e para o mundo.

Um legado não precisa ser algo grandioso. Ele é mais o resultado de uma existência humana que foi construída dia a dia: nosso legado fica nas relações, nas amizades, no amor que espalhamos, mas especialmente na nossa forma de ver e levar a vida.

Um legado não precisa ser grandioso, mas precisa sim representar nossa existência, no que toca as outras pessoas. Algo que possa ser lembrado e que talvez tire um sorriso de agradecimento em quem ficou.

Nesse mês, infelizmente, perdi duas pessoas muito queridas: a Georgeta, minha amiga especialista em gestão de lixo, e a dona Nicedia, mãe da Telma, minha cunhada e irmã. Foram elas —e seus legados gigantes— que me fizeram pensar nesse tema para essa coluna.

A Georgeta era e sempre será uma figura. Com pinta e pose de brigona, era um coração que queria abraçar o mundo. Ela abraçava também as pessoas, era super carinhosa com os amigos. Mas o compromisso dela era com o mundo que estamos deixando para nossos netos. E ela, que nem filhos teve, dedicava-se a deixar esse mundo melhor e muito mais limpo.

Você fecha os olhos e sabe bem quem foi a Georgeta. Só a sua personalidade já é uma boa parte do seu legado, mas seu trabalho e dedicação consistente à causa da sustentabilidade é o seu grande feito. Te amo Georgeta, você é tão única.

Dona Nicedia tinha outro tipo de legado: o seu dom de juntar e receber pessoas e, especialmente, de conectá-las para sempre. Foi assim que minha família entrou em sua família através da Telma, e nos misturamos para sempre. São tantas, mas tantas lembranças das férias com ela na fazenda, das festas de família, do casamento do Val e da Telma e do sorriso aberto para cada um que se aproximava. Ela era um imã de pessoas em volta dela.

A energia de Nicedia parecia infinita e ela nunca parava quieta. Sempre fazendo, recebendo, falando e acontecendo. Obrigada dona Nicedia, temos uma enorme gratidão por tudo o que sua existência representa para nós. Manda um beijo para todos lá de cima. E, se por acaso vocês puderem se encontrar mesmo, imagino a festa que vai ser.

Assim, seguimos construindo nosso legado nessa vida e, mais do que tudo, valorizando a história daqueles que partiram e tanta saudade deixaram. Pois é exatamente esse legado que justifica a saudade e vai nos educando a aceitar o ciclo da vida, onde se ri e se chora, se zanga e se alegra, se luta e desiste, se agrada e se afasta, se vive e se morre.

Pensar no legado no lugar da perda nos traz a dimensão da importância do hoje para a eternidade. Permite que a gente olhe para a morte com menos medo e mais propósito.