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Blog da Sophie Deram

Foco, força e fé? Mesmo atividades cotidianas ajudam a saúde, diz estudo

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Imagem: iStock

Colunista do VivaBem

30/12/2020 04h00

A atividade física refere-se a todos os movimentos que realizamos, como caminhar até o metrô, arrumar a casa, levar o cachorro para passear etc. Já o exercício físico diz respeito a atividades físicas sistematizadas, como a prática de um esporte ou um treino de musculação.

Há muito tempo sabemos da importância dos exercícios físicos para a saúde (física e mental), o bem-estar e a qualidade de vida. Esse é um dos motivos pelos quais academias estão lotadas.

Mas olha que interessante. Uma equipe de pesquisadores alemães está estudando os mecanismos cerebrais e neurais pelos quais a atividade física (e não o exercício físico) também contribuem para o nosso bem-estar. A pesquisa está publicada na revista Science Advances.

Pesquisar o impacto das atividades físicas diárias é importante

Uma das motivações dos pesquisadores para realizar esse estudo foi que as atividades físicas do dia a dia, como subir escadas ou caminhar até o trabalho, bem como o seu impacto na saúde mental, quase não foram estudadas até agora.

Para eles, isso é surpreendente, pois esse tipo de atividade constitui a maior parte da atividade física cotidiana dos humanos e pode, portanto, ser alvo de intervenções mais facilmente modificáveis do que exercícios físicos demorados.

De acordo com eles, parte dessa negligência pode estar na dificuldade de medir essas atividades durante o dia, obstáculo que parece cada vez mais superado com o avançar da ciência e de seus métodos de avaliação.

Para o estudo em questão, os pesquisadores combinaram vários métodos de pesquisa, como avaliações com sensores de movimentos e informações sobre bem-estar coletadas a partir dos smartphones e acionadas por dados de GPS quando os participantes se movimentavam.

Um total de 67 pessoas foram submetidas a essas avaliações por uma semana, para determinar o impacto da atividade física diária no estado de alerta.

Outro grupo de 83 pessoas, além de passar por essa mesma avaliação, fez exames de ressonância magnética para descobrir quais as áreas do cérebro participam dessas atividades diárias. Com base nisso, examinaram especificamente associações entre a atividade física e os circuitos neurais envolvidos na regulação das emoções e transtornos mentais.

Atividade física afeta a disposição e ativa região do cérebro relacionada com as emoções

O grupo de 67 participantes realizou, em média, 73 minutos de atividades físicas por semana, com 43 deles não se envolvendo em nenhum exercício físico (treino ou esporte).

As pessoas ativas durante o dia demonstraram se sentir mais alertas e com mais energia, ou disposição, logo após uma atividade física, o que foi visto como importantes componentes para o bem-estar e para a saúde mental.

O outro grupo, formado por 83 participantes, realizou, em média, 138 minutos de atividade física por semana, mas 33 deles não fizeram nenhum tipo de exercício.

Eles foram submetidos a exames de ressonância magnética, com o objetivo de avaliar associações entre a atividade física e o volume de massa cinzenta do cérebro em circuitos cerebrais implicados no bem-estar e transtornos de humor.

Uma seção do córtex cerebral, chamado córtex cingulado anterior subgenual, foi vista como importante para a atividade física e o bem-estar. Essa região do cérebro atua na regulação das emoções e na resistência a transtornos psiquiátricos, além de estar envolvida no processamento motivacional de estímulos sociais.

Aqueles com nível mais elevado de atividade física diária mostraram maior volume de massa cinzenta nessa parte do córtex cerebral em comparação com os participantes que eram menos ativos cotidianamente. Eles relataram ter maior bem-estar, mais satisfação com a vida e otimismo e menos ansiedade, enquanto as pessoas menos ativas se sentiram menos dispostas após uma atividade física diária.

Em outros estudos, o volume cerebral reduzido no córtex cingulado anterior subgenual foi encontrado repetidamente no transtorno bipolar e na depressão, e como se sabe, os episódios depressivos são caracterizados por atividade física reduzida e sensação de indisposição.

Em resumo, os pesquisadores mostraram que a prática de atividades físicas (especificamente aquelas sem exercício) aumentam a sensação de disposição das pessoas, estando relacionada a um maior volume de massa cinzenta em uma região do cérebro (o córtex cingulado anterior subgenual) implicada na regulação dos afetos, risco e recuperação de transtornos de humor. Mas o que isso pode implicar na nossa vida diária?

A atividade física na vida diária

De acordo com a pesquisa, essa descoberta de que a atividade física cotidiana contribui para o bem-estar, em particular das pessoas com a saúde mental afetada, ainda precisam ser comprovadas com estudos clínicos, ou seja, que sejam realizados com pacientes.

De qualquer forma, os pesquisadores consideram que esses achados podem fortalecer os programas atuais de prevenção e tratamento de saúde mental com intervenções destinadas a melhorar a atividade física sem exercícios físicos.

Essa pesquisa também é importante por mostrar que adotar um estilo de vida saudável, o que envolve a saúde física e mental, pode ser um processo flexível.

Não tenho dúvidas de que fazer exercícios físicos, seja na academia, seja no parque, seja em casa, pode ser muito benéfico para a nossa saúde.

Mas nem sempre isso é possível por limitações da rotina, do tempo, por não ter encontrado ainda algo que seja prazeroso, ou o que quer que seja. E não precisa sentir-se frustrado por isso.

Você não precisa de foco, força e fé para ter saúde, nem praticar exercícios físicos extenuantes ou que não proporcionam nenhum bem-estar, só porque esse parece ser o modo mais comum a se fazer.

Uma solução é ser mais ativo durante o dia a dia. Colocar o corpo em movimento nas atividades diárias pode ser mais fácil e contribuir muito para a saúde, sem estresse.

Aliado a isso, sugiro comer bem e estar em paz com a comida!

Bon appétit!

Sophie Deram