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Rico Vasconcelos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

PrEP injetável é aprovada nos EUA e deve aumentar a cobrança sobre o Brasil

Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Colunista do UOL

14/01/2022 04h00

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No apagar das luzes de 2021, quando ninguém achava que algo importante ainda poderia acontecer naquele ano, os Estados Unidos nos surpreenderam. Na véspera do Natal, a FDA, agência norte-americana que regulamenta o uso de medicamentos, foi a primeira do mundo a anunciar a aprovação do uso da PrEP injetável de longa duração para a prevenção do HIV.

Essa modalidade de profilaxia pré-exposição utiliza o antirretroviral cabotegravir, um potente inibidor de integrase de última geração, formulado em apresentação injetável, administrado por via intramuscular, com as duas primeiras injeções aplicadas em intervalo de um mês, e bimestralmente a partir de então.

O uso do cabotegravir como PrEP foi aprovado agora para homens e mulheres cis e transgênero sob risco de infecção por HIV, independente da prática sexual realizada. A droga pode ser usada em indivíduos com peso maior de 35 kg, o que permite o seu uso em adolescentes.

O anúncio da FDA fez com que mais uma vez os EUA saíssem na frente na adoção de novas tecnologias de prevenção ao HIV. Algo semelhante aconteceu há cerca de 10 anos com a PrEP em comprimidos diários.

Depois dos primeiros estudos comprovarem a eficácia e a segurança desse método de prevenção, no final de 2010, já em 2012 o uso da PrEP oral havia sido aprovado naquele país. No Brasil, somente em 2018 chegou a nossa vez de aprovar a PrEP oral.

A decisão da FDA se baseou nos resultados dos ensaios clínicos HPTN 083 e 084 divulgados no ano passado. Nesses estudos, foi comparada a prevenção quando usada a PrEP oral e a injetável em diferentes populações vulneráveis ao HIV.

Os resultados mostraram de forma unânime a superioridade do cabotegravir, uma vez que com ele não dependemos do comprometimento de boa adesão diária para garantir a prevenção contra a infecção por HIV.

Entre os homens gays e bissexuais e mulheres trans/travestis, a redução na incidência de HIV entre os que usaram a PrEP injetável foi de 69%, quando comparados com aqueles que usaram a PrEP oral. Já entre mulheres cisgênero heterossexuais, essa redução foi de 92%.

A conclusão dos dois estudos é que as duas modalidades de PrEP são altamente eficazes na prevenção do HIV, desde que as medicações sejam usadas corretamente. E assim, quanto mais diferentes métodos de prevenção existirem, mas fácil será de contemplarmos todos os diferentes contextos de vida com alguma forma de prevenção. A PrEP injetável é muito bem-vinda e indicada para pessoas que não se adaptam às opções de prevenção já existentes.

Nos EUA, o preço de chegada de uma ampola de cabotegravir (US$ 3.700) ainda é bastante alto, mas equivalente ao valor lá de dois meses de comprimidos de PrEP oral. Uma vez que no Brasil temos o SUS (Sistema Único de Saúde) público e universal, a incorporação de uma tecnologia como essa depende de uma série de avaliações e negociações entre o Ministério da Saúde e a indústria farmacêutica.

Só em 2020, cerca de 40 mil pessoas se infectaram com HIV no Brasil. Para que milhares de infecções por HIV sejam evitadas, torcemos para que a incorporação do cabotegravir demore menos do que os 8 anos da PrEP oral.

Como cidadãos, todos devemos cobrar pela modernização do SUS. Fique atento e se engaje nessa discussão ainda embrionária no país.